Uma febre de arrombamentos se alastra pela recém-revitalizada Savassi, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, onde depois de mais de um ano de obras, que consumiram R$ 11,8 milhões, falta investimento em reforço na segurança do comércio e do patrimônio públicoComo resultado da onda de crimes, admitida pela própria Polícia Militar, comerciantes já articulam a contratação de seguranças para trabalhar de madrugada, quando, denunciam, falta policiamento e os ladrões “fazem a festa”.
Prova disso é que em apenas dois quarteirões da Rua Fernandes Tourinho, entre as avenidas Getúlio Vargas e Cristóvão Colombo, 10 lojas foram atacadas em menos de dois meses, conforme levantamento do Estado de MinasCinco casos ocorreram após a reinauguração da praça, no dia 10, após mais de 12 meses de obras, durante as quais os crimes contra o patrimônio aumentaram 30%, segundo os lojistas.
O diretor do conselho da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) da Savassi, Alessandro Runcini, não concorda com a contratação de vigilância particular e diz que quem deve cuidar da segurança é a Polícia Militar e a Guarda Municipal“Semana passada enviei ofício à PM e à guarda, justamente para melhorar o serviço de prevenção e segurança na SavassiInclusive, falamos em colocar equipamentos de vigilância na praça e ruas adjacentes, pois há câmeras do Olho Vivo, mas não em todos os lugares”, disse
Comandante da 4ª Companhia do 1º Batalhão da PM, o major Carlos Alves, responsável pela Savassi, argumenta que no primeiro trimestre do ano houve redução de 40% nos crimes contra o patrimônio na região, em comparação ao mesmo período do ano passado, mas reconhece a recente onda de arrombamentos “A partir de amanhã (hoje) vamos destinar uma viatura do programa Polícia e Família, das 20h às 6h da manhã, para patrulhar exclusivamente a SavassiTemos que migrar nosso policiamento para dar uma resposta”, disse o major, que também vai pedir apoio ao serviço de inteligência do 1º BPM para identificar suspeitos
Os arrombamentos, segundo o militar, são cometidos por moradores de rua e menores que vivem na região, todos viciados em crack ou álcoolO comandante da 4ª Companhia também é contra contratação de vigilância privada como resposta para o problema“O tiro pode sair pela culatra
A presidente da Associação dos Lojistas da Savassi (Alsa), Maria Auxiliadora Teixeira de Souza, moradora da região, em que também tem loja há 22 anos, conta que nunca viu a área tão bem policiada durante o dia, mas, à noite, segundo ela, ruas e avenidas ficaram entregues a ladrões e moradores de rua“É a primeira vez que vejo 15 homens da PM fazendo o policiamento diário, mas o problema é depois das 20h, quando eles desaparecemNunca tivemos tanto arrombamento”, reclama
Rodízio de arrombamentos
Em 24 horas, duas lojas dos sócios Alencar Perdigão e Cláudia Masini foram arrombadas na SavassiNa madrugada de domingo, ladrões levaram computadores, uma caixa com dinheiro e bebidas da Livraria Quixote, na Fernandes TourinhoNa madrugada dessa segunda-feira, o ponto onde funciona o estoque da loja virtual também foi atacado, na Rua Alagoas, onde foram roubados computadores
A Quixote já foi arrombada três vezes em dois anos, segundo Alencar Perdigão“Sempre que chego para trabalhar na segunda-feira tenho notícia de lojas arrombadas
Cláudia lembra que na Semana Santa os ladrões entraram em duas noites seguidas na livraria“Entraram na Sexta-feira da Paixão pelo telhado e voltaram no sábado”, disse a sócia“Isso dá para medir o grau de insegurança na SavassiNão adianta gastar mais de R$ 10 milhões para fazer fontes luminosas se não investem na segurança”, completa Alencar.
Da loja Black Boots, também na Fernandes Tourinho, os ladrões levaram R$ 15 mil em importados no fim de março“A insegurança aumentou depois da reforma da praçaA polícia se esqueceu completamente da gente à noite”, disse o vendedor Júlio César Vieira, de 26.
Luanda Brandão Bastos é gerente da Ronaldo Fraga e conta que os ladrões entraram em 27 de abril e retornaram em 17 de maioHá duas semanas, a loja Cellsoft Celular, na Fernandes Tourinho, também teve prejuízo“Arrancaram a grade de proteção do segundo andar e entraram pela janela”, conta a vendedora Tatiane Trindade, de 30
Kelly Viana, de 33, é dona da loja Ravik, na Antônio de Albuquerque, e levou um susto na terça-feira da semana passada, quando chegou para trabalhar e encontrou uma porta de vidro destruída“Levaram computador e pilhas de roupas, um prejuízo de R$ 4 mil”, afirmouNa madrugada seguinte, tentaram arrombar a loja ao lado“Estamos conversando com vizinhos para contratar segurança particular que trabalhe à noite”, disse a gerente, Lucy Hallak
Alessandro Runcini recomenda que os comerciantes participem das reuniões mensais da CDL, com a PM, Guarda Municipal e Regional Centro-Sul da prefeitura, e que registrem boletim de ocorrência relativos a furtos e assaltos“A PM apresentou estatística dizendo que os crimes caíram 40% no início do anoEvidentemente, ela se baseia nos boletins de ocorrência registradosEstou surpreso com tantas ocorrências recentes”, disse