Jornal Estado de Minas

Licitação do metrô de BH começa com atraso

Comissão cobra mais informações de empresas candidatas a fazer serviço de topografia para novos percursos na capital. Primeira fase pode se prolongar por até três meses

Mateus Parreiras

Em setembro do ano passado, a presidente Dilma anunciou investimentos de R$ 3,16 bilhões no metrô de BH - Foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press - 27/9/2011

Quando parecia que a expansão e modernização do metrô de Belo Horizonte ia, enfim, sair do papel, o processo de licitação já sofre seu primeiro atrasoNenhuma das três empresas que participaram da concorrência 001/2011 para ofertar prestação de serviços técnicos de topografia orçados em R$ 1,3 milhão foi habilitada pela comissão de licitação da Trem Metropolitano de Belo Horizonte S/A (Metrominas), realizada na última quarta-feiraDe acordo com a ata da companhia que administra o processo e que conta com representantes das prefeituras de Belo Horizonte, Betim, Contagem, e do estado, todas as empreiteiras foram barradas na análise de documentos por não apresentarem informações ou condições específicas para participarA situação pode se alongar por até três meses.

Segundo análise da Metrominas, entre os motivos para não habilitar a participação das empresas estavam a “não comprovação de aptidão de desempenho técnico”, “falta de demonstrações contábeis do exercício 2011” e divergências dos CNPJs de matrizes e filiais nos documentos apresentadosAs propostas de preços não foram sequer abertas, aguardando a resolução desses impedimentosA comissão abriu prazo para recursos e estabeleceu oito dias – que vencem nesta quinta-feira – para que documentos complementares sejam fornecidos Apenas as três empresas que entregaram propostas poderão participar do processo.

De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop), que tem estado à frente das ações da Metrominas, caso nenhuma das concorrentes apresente condições uma nova licitação poderá ser preparada e abertaO problema é que se alguma das firmas de engenharia interpor recurso as análises e decisões sobre a concorrência podem levar mais 20 diasNo caso de a decisão dos recursos serem contestadas por outra participante os prazos legais podem se estender por mais três meses.

A primeira baixa já foi anunciadaA Consominas Engenharia Ltda informou que vai desistir da licitaçãoO setor responsável justificou a decisão afirmando que a empresa não tem como apresentar documentos exigidos em nome da firma, mas apenas com o nome do seu responsável técnico – o que não satisfaz as exigências da concorrência
O representante da Esteio Engenharia foi contactado, mas não pode atender a reportagem alegando falta de disponibilidade na agendaEle não adiantou se terá condições de continuar no processo licitatórioA Engemap preferiu não informar se vai recorrer ou apresentar os documentos, considerando essa uma decisão estratégica da empresa.

Descrédito

O primeiro atraso é tido como um desestímulo a quem já tinha dúvidas quanto ao metrô, segundo análise do consultor em assuntos urbanos e presidente do Conselho de Política Urbana da Associação Comercial de Minas Gerais, José Aparecido Ribeiro“O fato de o processo já começar com esse atraso só amplia o descrédito que a população tem com quem deveria solucionar os problemas de trânsito”, dissePara o especialista, os projetos do metrô que estão sendo aproveitados são muito antigos e por isso não atraem tanto as empresas“São os levantamentos mais básicos para completar os projetos, mas foram delineados numa área de 40 anos atrás Por isso não empolgam sequer a prefeitura (de Belo Horizonte)As empresas ainda não têm certeza que o projeto vá ter sustentação para seguir em frente”, diz“O Barreiro (Linha 2) já não tem tanta necessidade de metrôRegiões dos bairros Alípio de Melo, Ouro Preto e Buritis precisam com muito mais urgência de acesso ao centro
A própria prefeitura aposta mais no BRT”, avalia Ribeiro.

Caso alguma das empresas consiga corrigir os erros e fornecer os documentos que faltam, será declarada vencedora a que apresentar a oferta de serviço com a menor proposta de preço pelos serviços prestadosO vencedor deve iniciar seus estudos em dez dias contados após a ratificação do contrato e terá três meses para executar os levantamentos e apresentar resultados à Metrominas.


Proporta para a segunda fase

Hoje termina o prazo para entrega de propostas da segunda licitação do metrô, o processo 002/2011, para prestação de serviços técnicos de geotecnia, orçados em R$ 6,9 milhõesOs dois levantamentos – topográfico e geotécnico – servirão de base para a elaboração dos projetos de implantação das linhas 2, 3 e expansão da Linha 1Desde o dia 16 de setembro de 2011 a capital mineira vive a expectativa de finalmente ter seu sistema de trens urbanos ampliado, após o anúncio de investimentos federais feitos pela presidente Dilma Rousseff, que com as contrapartidas estaduais e municipais chega a R$ 3,16 bilhões.

 


Conselho diz que tem autonomia

A diretora de Patrimônio da Fundação Municipal de Cultura, Michele Arroyo, diz que o projeto em tramitação na Câmara é inconstitucional porque contraria a Lei de Proteção ao PatrimônioSegundo ela, a lei que criou o conselho também dá autonomia ao órgão para definir sobre a possibilidade ou não de intervir numa área tombada.

“Essas não são áreas de estacionamento, de acordo com a própria lei do municípioNão podemos esquecer que são terrenos doados pelo município com a prerrogativa do uso como templo religiosoO conselho fala se determinada intervenção é adequada ou descaracteriza e o poder público é quem define que ações tomar, se vai cassar alvará, se não vai renovar a licençaAcho que a Câmara está fazendo uma grande confusão, como sempre faz em época de eleiçãoA Câmara pode fazer a legislação que quiser, mas não significa que pode se sobrepor à legislação já existenteDesta forma, a Câmara pode abrir precedente em detrimento à cidade, contrário à Lei de Uso e Ocupação do Solo e contrário à Lei Orgânica, porque áreas públicas não são áreas para se ter estacionamento privado”, explicou Michele.

As vagas da São José funcionarão até que a igreja seja notificada oficialmente sobre a decisão do ConselhoSegundo o vigário paroquial, Flávio Leonardo Santos Campos, a igreja recorreu à Câmara porque o estacionamento é de interesse público“Houve um bom entendimento sobre a importância daquelas vagas para os fiéis, a comunidade como um todo e as obras sociais da igrejaA sociedade também tem se mostrado favorável e os vereadores são nossos representantesPrimeiro, vamos tentar o caminho administrativoCaso contrário, podemos até recorrer à Justiça”, disse.

O estacionamento rotativo da Igreja do Sagrado Coração de Jesus é terceirizado e funciona com liminar até o fim de seu alvará, que não será renovado pela prefeituraJá as vagas da Catedral da Boa Viagem, no Centro, também exploradas por uma empresa, podem ser interditadas a qualquer momentoO alvará deste estacionamento foi cassado pela prefeitura e a Justiça não concedeu liminarSegundo a Regional Centro-Sul, a execução da sentença já foi determinada.