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Estado de Minas

Minas tem inúmeras ruas sem nome e sem acesso

Moradores do Norte de Minas são os que mais sofrem com a falta de infraestrutura urbana, mas cidades da Grande BH têm sérios problemas também, segundo o IBGE


postado em 26/05/2012 06:00 / atualizado em 26/05/2012 07:11

Quase 80% das ruas de Esmeraldas, na região metropolitana, não têm calçamento, de acordo com o Censo 2010(foto: ÉRICA PERONI/DIVULGAÇÃO / 13/12/10)
Quase 80% das ruas de Esmeraldas, na região metropolitana, não têm calçamento, de acordo com o Censo 2010 (foto: ÉRICA PERONI/DIVULGAÇÃO / 13/12/10)
A renda dos moradores das cidades brasileiras está diretamente ligada ao acesso que eles têm aos equipamentos de infraestrutura urbana, como coleta de lixo, calçamento e pavimentação e iluminação. Em Minas Gerais, este cenário se confirma no interior, como mostra a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada ontem. O Norte e o Vale do Jequitinhonha, onde estão os municípios mais pobres do estado, apresentam índices muito baixos até para identificação de ruas. Ponto Chique e Fruta de Leite, no Norte, nem sequer têm rampas de acessibilidade. Jordânia, no Jequitinhonha, não tem calçamento em nenhuma rua.

Os desafios também são grandes para a Região Metropolitana de Belo Horizonte. Esmeraldas lidera no item falta de meio-fio e também vai muito mal nas outras categorias. Não tem rampas, mais de 41% das ruas não estão identificadas e só há calçamento em 13,1% do entorno dos domicílios. Há muitas árvores, conforme constataram os recenseadores, mas o esgoto a céu aberto pode ser observado em 23,2% desses lugares e o lixo acumulado deixa a cidade na 728ª posição, no ranking estadual.

Ainda na região metropolitana, outras três cidades estão acima da média brasileira para a presença de esgoto a céu aberto: Ibirité, Vespasiano e Ribeirão das Neves. Em todo o estado, são 50 municípios nessas condições. Divisa Alegre, no Norte de Minas, tem o pior índice e mais da metade das casas da cidade estão rodeadas de sujeira (50,5%).

“Minas Gerais está muito polarizada, há índices bons e ruins. Mas me chamaram a atenção os resultados de Mário Campos, na Região Central, e Esmeraldas para a presença de esgoto a céu aberto, cujo percentual é muito alto”, afirma a coordenadora estadual do Setor de Disseminação da Informação, Luciene Longo.

Para o lixo acumulado, outro problema que incomoda a população, 144 cidades mineiras estão acima da média do Brasil, de 5%. Faltam bueiros em 27 cidades e 328 têm níveis acima de 41,5%, média brasileira, o que representa 38,4% do total de municípios mineiros. Apesar de a iluminação ser a característica urbana mais presente no entorno das casas, as cidades de Silveirânia, na Zona da Mata (69,8%), Gameleiras, no Norte (70,8%), e Onça de Pitangui, na Região Central (72,7%), apresentam os piores resultados nesta categoria.

áreas verdes são poucas

O Censo 2010 também mostra carência de áreas verdes. Os recenseadores observaram o número de árvores no entorno das casas, sem levar em conta as plantadas em jardins. No país, a melhor taxa de arborização está nos municípios de até 20 mil habitantes e o pior desempenho é das cidades (entre 100 mil e 200 mil habitantes), onde 34,6% das residências não têm árvores plantadas no entorno. No interior mineiro, Bias Fortes, na Zona da Mata, não tem nenhuma árvore. Outras 17 cidades apresentam menos de 10% de espécimes plantados no entorno das casas.

A pesquisa fez avaliação por região e o Sudeste alcançou a maior proporção de características urbanísticas desejáveis para o entorno de uma casa, como, por exemplo, para pavimentação (90,5%), meio-fio (87,9%), calçada (82,2%) e identificação dos logradouros (73,2%). Na Região Sul do país, destaca-se a presença de bueiros (64,1%).
A Região Norte, de acordo com o IBGE, concentra a menor incidência de domicílios com identificação (36,1%), pavimentação (61,9%), arborização (36,7%), meio-fio (46,1%) e calçadas (32,4%). Há a menor incidência de rampas de acessibilidade, num empate com a Região Nordeste (1,6%). Ainda segundo o levantamento, pelo menos 18,5 milhões de pessoas vivem em áreas urbanas com esgoto a céu aberto diante de suas moradias, o que representa 12% da população pesquisada.

Nas categorias associadas ao meio ambiente e à saúde da população, a Região Norte tem as maiores proporções para depósito de lixo (7,8%) e esgoto a céu aberto (32,2%). No Nordeste, mais de um quarto dos domicílios (26,3%) estão em ruas com esgoto sem tratamento adequado. Esta região também obteve as menores proporções de bueiros/bocas de lobo (18%). No Centro-Oeste, porém, há a menor incidência de domicílios localizados em ruas onde há acúmulo de lixo (3,7%) e esgoto a céu aberto (2,9%). A região também apresenta a mais elevada taxa de rampas para deficientes físicos (7,8%).

Palavra de especialista

Denise Morado
professora da Escola de Arquitetura da UFMG

Falta análise
de qualidade

“A grande questão de qualquer pesquisa como essa é que ela fica restrita aos dados numéricos, sem a análise da qualidade e a inserção de outros atributos. O que acontece com Belo Horizonte é a aniquilação do espaço público no sentido mais amplo, do direito à cidade, de usufruir do espaço público com qualidade. Há uma rampa na porta da Escola de Arquitetura da UFMG, por exemplo, que dá numa árvore. O equipamento é importante, existe, mas o projeto técnico simplesmente foi incorporado às dimensões de forma correta, como diz o projeto, mas sem levar em conta outras questões importantes. O calçamento, categoria em que Belo Horizonte aparece bem na pesquisa, muitas vezes impede a passagem de carrinhos de crianças e o próprio uso de cadeiras de roda. O dimensionamento é péssimo e não permite o usufruto dessa pessoa porque tem uma banca de revista, uma lixeira, um poste. Quando se diz que ainda tem esgoto a céu aberto, há restrição da qualidade do espaço público a essas pessoas que têm 100% de direito à cidade.”


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