O laudo feito pelo engenheiro Luiz Mauro de Rezende, da Superintendência do Iphan em Minas, mostra comprometimento da estrutura de madeira existente na capela-mor, devido à ação de umidade do solo e infestação de cupins, bem como infiltração de águas pluviais nas abóbadas do coro e corredores lateraisJá no arco do cruzeiro há trincas nas cimalhas, revelando movimentação estrutural, enquanto na cobertura foi identificado um abatimento, sugerindo instabilidade e deterioração intensaE mais: elementos como forros e pisos estão com degradação da estrutura, também originada pela ação de cupins e umidadeO comprometimento dos forros, registra o documento, abrange até a camada pictórica, de grande valor artístico, com risco de formação de lacunas e perda da leitura dos elementos figurativos.
De acordo com a chefe do Iphan em Mariana, arquiteta Raquel Alves Ferreira, o laudo recomenda a execução de um projeto para restauro integral do imóvel e ainda, como medida preventiva, a interdição e proteção dos elementos decorativos e integrados, “para salvaguardar este acervo de inquestionável valor artístico e histórico”O Conselho Municipal de Patrimônio aprovou o uso de recursos do Fundo Municipal de Preservação para contratar um projeto de restauração, com licitação a cargo da prefeitura local.
Diante da necessidade urgente dos serviços, Walkíria explica que uma arquiteta vai elaborar o projeto de restauro, o qual será bancado pela prefeituraTodo o serviço de recuperação também ficará a cargo da municipalidade, adianta a secretária, explicando que, por enquanto os custos da obra não estão orçados, muito menos estipulado o prazo que a igreja, a segunda mais visitada de Mariana – a primeira é a Catedral da Sé, na Praça da Sé – ficará fechada.
Antes resistente ao fechamento do templo barroco, a Ordem Terceira de São Francisco de Assis vê agora a necessidade urgente de obrasO presidente ou ministro da associação centenária, professor João Vicente de Souza, destaca a interdição como fundamental e que o problema maior está no deslocamento da cimalha (arremate superior da parede)
O promotor da comarca, Antônio Carlos de Oliveira, já pediu à Justiça, com base em outro laudo do Iphan, a interdição da Casa do Conde de Assumar, localizada atrás da Igreja de São Francisco e pertencente à irmandadeO local abriga um comércio e, de acordo com o promotor, também oferece riscosSegundo o superintendente do Iphan em Minas, Leonardo Barreto de Oliveira, a interdição busca, além da preservação do patrimônio, garantir a segurança dos devotos e visitantes.
Primeira interdição
Em março de 2009, a Igreja de São Francisco de Assis teve as portas lacradas, com proibição de atividades religiosas e visitação pública, até que fossem executadas obras para garantir a estabilidade da estrutura e a segurança dos visitantes, conforme determinou a juíza Lúcia de Fátima Magalhães Albuquerque SilvaNa época, o pedido de interdição partiu do Ministério Público estadual, por solicitação do escritório regional do IphanRelatório do instituto federal revelou que os danos eram consequência do excesso de umidade proveniente de infiltrações e do ataque intenso de cupinsDestacando que o perigo era “desabar e matar alguém”, o promotor de Justiça Antônio Carlos de Oliveira, na ação proposta, citou o boletim de ocorrência do Corpo de Bombeiros Militar, datado de 5 de janeiro de 2009, que constatou agressões às pinturas do Mestre Ataíde, que foi sepultado na igreja.
Em abril, o templo foi reaberto à visitação, com base no laudo de um perito, embora o então juiz da comarca, Antônio Carlos Braga, não tenha afastado eventuais problemas na estrutura e de proteção do acervo, que precisavam ser resolvidos: “Apenas estou reconhecendo que, conforme conclusão do perito, ‘inexiste risco de desabamento total ou parcial’, fato que, entendo, justifica a revogação da liminar.”
Arte do Mestre Ataíde
Em 5 de julho de 1761, a Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência decidiu edificar sua igreja e recebeu autorização do bispo diocesano dom Frei Manuel da Cruz
A primeira missa foi celebrada em dezembro de 1777, quando começou uma série de intervençõesEm 1794, a igreja foi entregue concluída pelo irmão Miguel Teixeira Guimarães, administrador da obraNo período de 1791 a 1825, entre os oficiais que edificaram e ornamentaram a igreja estava o pintor Manuel da Costa Ataíde, figura notável do barroco mineiro e responsável pelo douramento do retábulo do altar-mor, do trono, do tabernáculo e do altar de Santa Isabel Os painéis do forro da sacristia e do teto do corpo da igreja são de autoria desconhecida, embora haja dados a respeito de um pagamento efetuado em 1816-1817 pelas pinturas da sacristia Diferentes pintores contribuíram na execução das obras , como Francisco Xavier Carneiro, professor que examinou as obras de Ataíde, João Lopes Maciel, José Luís de Brito, José Joaquim do Couto, Francisco Moreira de Oliveira e João Nepomuceno Correa e Castro.
Outro artista renomado que trabalhou na capela de São Francisco foi Francisco Vieira Servas, considerado um dos mais importantes da fase áurea dos retábulos e imagens religiosas da Capitania de MinasServas recebeu pelo trabalho do novo trono do altar-mor, no início do século 19Os ferreiros também contribuíram para a edificação.