Por mais que o vendedor Adilson Gonçalves Pereira, de 35 anos, ouça falar em obras, intervenções e recursos para despoluir a Lagoa da Pampulha, ele ainda não consegue distinguir redução no manto grosso de algas misturadas a garrafas PET, restos malcheirosos de peixes, esgoto e lixo sobre o espelho d’água mais famoso de Belo Horizonte“Está do mesmo jeito dos últimos anos”, acredita o morador do Tupi, bairro da Região Norte da capitalNão se trata de mera impressãoO Estado de Minas teve acesso ao levantamento sobre a represa feito pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) e constatou que, nos dois últimos anos, os investimentos não representaram impactos significativos na qualidade da águaPelo contrário: o lago, no qual foram injetados R$ 333,1 milhões apenas de 1997 a 2011, apresenta mais amostras contaminadas por esgotoMá notícia, considerando que as prefeituras de Belo Horizonte e Contagem, ao lado da Copasa, têm um ano e meio para tornar limpo o reservatório, meta que foi fixada para 2014, antes da Copa do Mundo.
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O relatório do Igam feito no ano passado indica que 91% das amostras das estações de pesquisa espalhadas pela Lagoa da Pampulha e córregos afluentes estavam contaminadas por concentrações de coliformes fecais acima do tolerado pela legislação ambiental brasileiraAinda pior que em 2010, quando 87% das amostras colhidas estavam nessa situaçãoA presença desses microorganismos denuncia lançamento de esgoto doméstico, que torna a água imprópria para o contato humano“O índice ainda está muito alto e, na quase totalidade dos casos, ultrapassou os limites legais”, destaca o mestre em ecologia aquática e consultor de recursos hídricos Rafael Resck, indicado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para analisar o assunto Para ele, essa é a parte mais grave do relatório.
Verba diluída
Nos dois últimos anos a Copasa e a Prefeitura de Contagem, cidade da Grande BH responsável por 90% da poluição do reservatório por esgotos clandestinos, empregaram R$ 33 milhões para impedir que mais sujeira e dejetos atingissem a PampulhaDe acordo com a companhia e a prefeitura, foram realizados tratamentos de fundo de vale, com despoluição de córregos e implantação das avenidas Gandi, Alterosas, Nacional e João Gomes, por exemplo, em conjunto com os investimentos em redes interceptoras na margem esquerda da lagoa (2009), implantação de redes sanitárias interceptoras em vários bairros situados na bacia e sistema de esgotamento sanitário para retirar os lançamentos indevidos nas sub-bacias.
Outro indicador de que tudo o que foi feito em 2010 e 2011 representou evolução irrisória é a concentração de nutrientes que poluem e causam mortandade de peixes, crescimento de algas, turbidez da água e redução da oxigenação, o chamado estado tróficoAs altas concentrações variaram apenas 1% em toda lagoa, passando de 76% para 75% entre 2010 e 2011Uma das consequências dessa fartura de nutrientes e material orgânico diluído é a proliferação sem controle de algas, que se alimentam de nitrogênio e fósforo“É tudo o que tem na PampulhaPor isso as algas formam aquele caldo verde”, aponta Rafael Resck“Parte dessas algas, chamadas cianobactérias, tem toxinas que contaminam a água e os peixes e, consequentemente, quem tem contato com esses elementosNesse caso, temos um problema de saúde pública”, considera.