A implantação do transporte rápido por ônibus (BRT) na Grande BH tem um lado ainda não resolvido que começa a tirar o sono dos trabalhadores. Um dos impactos calculados pela BHTrans e nunca antes divulgado é a redução de 11,41% da mão de obra que hoje atua no sistema BHBus. São 2.967 empregados que deixarão de ser motoristas e cobradores num universo de 26 mil funcionários das linhas da capital administradas pela BHTrans e metropolitanas gerenciadas pelo DER-MG. A informação foi apresentada pelo diretor-presidente da BHTrans, Ramon Victor Cesar, no 2º Congresso das Melhores Práticas do Sistema BRT na América Latina, em abril, na cidade de León, no México.
A conta é previsível, já que o BRT, ao embarcar 750 mil do 1,2 milhão de passageiros por dia, reduzirá em 49% o número de ônibus que circularão nos seus corredores. Ainda com esses indícios, o prognóstico assustou a diretoria do Sindicato dos Rodoviários de Belo Horizonte e Região Metropolitana. “Fomos pegos de surpresa. A BHTRans, o DER-MG e os donos de empresas nunca nos avisam antes e por isso prejudicam soluções negociadas. Não vamos aceitar que se tirem 12% dos postos de trabalho”, afirma Ronaldo Batista, presidente da entidade. “Se for preciso, vamos denunciar no Ministério Público do Trabalho, à Delegacia do Trabalho e até fazer paralisações e greve se for preciso”, ameaça.
As entidades que representam os donos das empresas de ônibus – Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) e o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano (Sintram) – informaram que não foram ainda comunicadas de como se dará a operação do sistema, para que possam calcular a nova divisão de motoristas e cobradores por ônibus, o que depende ainda da BHTrans e do DER-MG.
Passagem
O dado de redução de pessoal em 11,41% consta do item que versa sobre a viabilidade econômica do sistema na apresentação do diretor-presidente da BHTrans no México, ao lado da diminuição da produção quilométrica em 4,08% e do encolhimento da frota em 9,62%. Somados, esses fatores foram indicados por Ramon Victor Cesar como índices para “mais mobilidade, acessibilidade, integração e sustentabilidade”.
No entanto, o mesmo material informativo feito para o congresso mostra um quadro com a composição da tarifa cobrada pelos ônibus. Pela divisão, a mão de obra responde por 40%, o óleo diesel por 25%, os custos dos veículos por 20%, a despesa administrativa por 20% e a rodagem dos ônibus por 5%. Ou seja, 90% dos custos que formam o valor da passagem para os passageiros serão reduzidos com a introdução do sistema BRT, teoricamente permitindo que as passagens tenham seus preços reduzidos em algum momento.
Adaptação
A BHTrans e o DER-MG confirmam que haverá redução do número de motoristas e cobradores com a implantação dos ônibus articulados do BRT, mas evitam falar em demissões. O DER-MG informou que estuda formas de assimilar os funcionários não aproveitados nos veículos em outras funções, como nas estações metropolitanas que serão construídas e adaptadas nas cidades da Grande BH que receberão o sistema. A previsão é de que uma estação em Betim, três em Contagem, três em Ribeirão das Neves, uma em Vespasiano, duas em Santa Luzia, uma em Ibirité, uma em Sarzedo, uma em Sabará, além das instalações da rodoviária do Bairro São Gabriel e do Terminal Rodoviário Governador Israel Pinheiro (Tergip), no Centro da capital, que atenderá apenas a ônibus metropolitanos.
De acordo com o diretor de Planejamento da BHTrans, Célio Freitas, a intenção é não demitir. “O ônibus do BRT não vai precisar de cobrador, mas nas estações haverá necessidade de bilheteiros e ajudantes de operações. Vamos fazer uma migração desses trabalhadores”, afirma, sem conseguir, contudo, explicar como a apresentação do diretor-presidente aponta uma redução de mão-de-obra e não remanejamento dentro do mesmo sistema.
O diretor também informa que a passagem não será mais barata, mas a BHTrans trabalha para “manter o valor da tarifa do BRT no mesmo valor da dos ônibus atuais”. O custo total do sistema será de R$ 1,5 bilhão e o diretor da BHTrans informa que a expectativa é de que o sistema passe a operar no fim de 2013, com uma pequena possibilidade de entrar em funcionamento entre junho ou julho do ano que vem.