Durante a festa de aniversário de 10 anos de Pedro Henrique, os amigos do Colégio Santo Antônio se reuniram para cantar o Parabéns pra você Depois da música, veio o complemento constrangedor: “Com quem será que o Pedro vai casar/Vai depender se o Pedro vai quereeer…” E a canção não parou aíOs colegas do menino insistiram na continuação da melodia: “ Eles vão casar e ter um monte de filhos/E daí então o Pedro vai se separaaar!” Na época, a brincadeira soou interminável para a mãe do garoto, a publicitária Soraya MalheirosEla sim, estava se separando do marido, com dois filhos para criarAlém de Pedro Henrique, havia João Paulo, de 7 anos.
Esse episódio ocorreu há cerca de 10 anos, quando as separações eram menos aceitas em Minas GeraisDe lá para cá, o termo desquite deixou de existir, sendo substituído por divórcioEntre 2000 e 2010, o número de divórcios mais que dobrou no estado: passou de 1,6% da população para 3,3%, segundo dados do Censo 2010, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)Com o fim dos casamentos, entram em cena os segundos relacionamentos e, consequentemente, os frutos dessa nova união e a convivência com os enteados, filhos das relações anterioresÉ preciso criar um glossário para ajudar a entender os novos arranjos familiares, que incluem irmãos emprestados, “namorido” (namorado que vive uma relação conjugal com a mãe) e “boadrasta” (nova mulher do pai).
Os novos arranjos familiares em Minas são muitos: pais solteiros, casais sem filhos por opção, uniões estáveis e até o primeiro casamento gay de papel passado, que ocorreu este ano em Manhuaçu, a 278 quilômetros de Belo Horizonte, na Zona da MataWanderson Carlos de Moura, de 34 anos, e Rodrigo Diniz Rebonato, de 18, se casaram e um adotou o sobrenome do outro
Ufa, é tanta confusão que parece mais simples permanecer amando à moda antiga
Família margarina
Não quer dizer que a tradicional família mineira deixou de ser a “família-margarina”, formada por mãe e pai, filho e filha, que, pelo menos nas propagandas, parecem felizes para sempreSegundo o Censo, porém, o número de casados caiu 5% em Minas e o grupo de pessoas que se unem informalmente cresceu quase 40% entre 2000 e 2010De acordo com IBGE, elas já são quase um quarto da população“As mudanças têm sido aceitas sem alarde, dentro do espírito da mineiridadeMas elas têm acontecido”, lembra o advogado João Batista de Oliveira Cândido, especialista em direito de família
Numa ampla casa do Bairro Cidade Jardim formou-se uma perfeita “família mosaico”, termo usado por especialistas ao se referirem às configurações familiares do século 21
De início, a situação gerou conflitos com os pais de Luiz Alberto, o oftalmologista Ângelo Laborne Tavares, de 90, e a professora de ioga Maria Tereza, juntos há 64 anosOs ajustes, porém, foram feitos“O tempo faz o seu curso e nós com ele vamos”, filosofa o patriarca, que diz escrever poemas até hoje para sua “menina”Ela sorri e dá as mãos ao “filhinho”: “Cheguei a ter preconceito em relação às separações, mas entendo que eles queiram renovar a vidaEu tive a sorte de encontrar a pessoa certa de primeira Nós nunca brigamos.” (Com Andrea Castelo Branco e Tiago de Holanda)
É o percentual de queda no número de casamentos
60 mil
É o número de casais gays no Brasil
3,3%
dos mineiros são divorciados
>> Boadrasta Nova mulher do pai
>>Irmãos emprestados Filhos do primeiro casamento da madrasta ou padrasto que convivem na mesma casa
>>Namorido(a) Namorado(a) que vive uma relação conjugal com mãe (pai)
>>Família mosaico Homem e mulher se apaixonam, namoram e decidem morar juntosSó que ambos já foram casados e trazem filhos das relações passadasÉ assim que nasce a ‘família mosaico’, termo usado por especialistas ao se referirem às novas configurações familiares
>> Abandono afetivo um pai paulistano terá que pagar indenização de R$ 200 mil por danos morais decorrentes do abandono afetivo da filha, segundo decisão inédita do Superior Tribunal de Justiça (STJ)O pai ainda poderá recorrer da decisão ao Supremo Tribunal Federal (STF).