Com excesso de peso e problemas mecânicos, a carreta dirigida pelo motorista Jadson Santos Alves, de 26 anos, que matou três pessoas e feriu duas anteontem à noite na Avenida Nossa Senhora do Carmo, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, percorreu pelo menos 220 quilômetros entre Ipatinga, no Vale do Aço, e o local do acidenteNo trajeto, passou por uma balança de fiscalização do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), onde foi comprovado que trafegava com excesso de peso, circulou por áreas proibidas e não foi interceptado por nenhuma autoridadeNa altura do BH Shopping, o veículo dava os primeiros sinais de falha, o que também não foi suficiente para deter o condutorO resultado da combinação de imprudência e descaso foi a perda de vidas, chorada por pelo menos três famíliasEnquanto parentes sepultavam seus mortos, os envolvidos direta e indiretamente na tragédia procuravam se justificar e se eximir da responsabilidade pela sucessão de erros que levaram ao cenário de destruição e morte no Sion.
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No dia seguinte ao acidente – enquanto operários se esforçavam para retirar a bobina de aço que se desenrolou pela avenida e para normalizar o tráfego –, em vez de se unir para anunciar mudanças efetivas e imediatas que impeçam mais desastres como os que há anos se repetem na via, os órgãos de trânsito se apressaram em se eximir da responsabilidade de impedir que caminhões de grande porte entrem na Nossa Senhora do Carmo, o que é proibidoO comandante do Batalhão de Trânsito, coronel Roberto Lemos, informou que desde 1997, quando o Código de Trânsito Brasileiro foi implantado, o tráfego nas cidades é de competência municipal, e atribuiu a fiscalização à BHTransAgora, segundo ele, devem ser discutidas ações junto ao Dnit e à empresa municipal para aumentar a fiscalização.
O coronel Lemos afirmou que a prioridade é o atendimento de ocorrências e que não há efetivo suficiente para vigiar a avenida dia e noiteApós as 20h, segundo ele, a fiscalização é itinerante“Não damos conta de ter um agente em cada cruzamento da cidade”, argumentouQuanto às placas ao longo do trecho percorrido pelo motorista da carreta, Lemos afirma que, no trevo do Anel Rodoviário, BR-040 e BR-356, a sinalização poderia ser melhorada“Ali confunde o condutor, até para quem mora na cidade
Opine: tragédia na Nossa Senhora do CarmoDe quem é a culpa?
O diretor da BHTrans Edson Amorim de Paula também atribui à falta de efetivo a dificuldade em fiscalizar o trecho por um período superior ao atual – entre as 7h e as 20hAgora, a empresa pretende “ampliar a fiscalização, trabalhando de forma integrada com a Guarda Municipal e o Batalhão de Trânsito da Polícia Militar”A empresa também informou que será instalado um painel de mensagens no trevo do Belvedere, para emitir alertas permanentes, e acrescentou que está estudando uma ferramenta de fiscalização 24 horas para detectar a entrada irregular de caminhões e carretas em via urbanaAnteontem, segundo a BHTrans, as equipes que monitoram a Nossa Senhora do Carmo haviam sido deslocadas para as saídas da cidade, por causa do feriado, e para o Estádio Independência, onde havia jogo.
Se faltou fiscalização para impedir que o caminhoneiro Jadson Santos Alves provocasse a tragédia, não foram poucos os avisos que ele ignorou ao longo do trecho que percorreuSeguindo de Ipatinga, no Vale do Aço, rumo a São Paulo dirigindo uma carreta com duas bobinas de aço de mais de 27 toneladas, o caminhoneiro teve, somente do trecho do Viaduto São Francisco, no Anel Rodoviário, até o local do acidente, no Bairro Sion, diversos alertas que evitariam a tragédiaEntre as placas instaladas ao longo do percurso, havia orientações de rota, retornos e avisos claros de restrição ao tráfego de caminhões acima de cinco toneladas na Avenida Nossa Senhora do CarmoAinda assim, nenhuma das saídas foi adotada, o que culminou em uma trágica noite na Zona Sul da capital.
“Ele errou ao não perceber e obedecer a sinalização, que é nítida e persistente ao longo do Anel Rodoviário, bem como na BR-356
Com a experiência de quem já enfrentou várias tragédias de trânsito, o policial afirma que não adianta investir na melhoria das estradas se os motoristas continuarem tendo atitudes irresponsáveisEle lembra ainda que a Polícia Militar Rodoviária (PMRv) foi convocada pela BHTrans, que é responsável pelo trecho, para reforçar a fiscalização na Avenida Nossa Senhora do Carmo e diz que, embora o assunto ainda vá ser tratado em reunião, há disposição em colaborar.
2010 6 de agosto: um caminhão desceu a pista sentido bairro-Centro desgovernado e bateu em cinco carrosDuas pessoas ficaram feridasNa ocasião, autoridades prometeram, além da proibição do tráfego de cargas pesadas, fiscalização severa para evitar abusos.
2009 Outubro: caminhão que transportava argamassa bateu em quatro ônibus, 11 carros e duas motos, deixando 20 pessoas feridas
2009 Agosto: caminhão carregado com móveis bateu em cinco carros, feriu 11 pessoas e tombou.
2008 No cruzamento da Avenida Nossa Senhora do Carmo com Avenida do Contorno, um caminhão que transportava gesso derrubou dois postes e invadiu um posto de combustívelMotorista e passageiro do veículo ficaram feridos
2004 No mesmo cruzamento, um caminhão invadiu o passeio, derrubou um semáforo e capotouPor sorte, ninguém morreu
1997 Fevereiro: um caminhão arrastou 10 carros e matou uma pessoa
1994 Setembro: no cruzamento de Nossa do Carmo com Avenida Uruguai, um caminhão-tanque sem freio bateu em seis carros parados em um sinal, matou duas pessoas e deixou 11 feridas