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Estado de Minas

Operação peneira tenta deter carretas na Nossa Senhora do Carmo

Agentes da BHTrans denunciam que diariamente caminhoneiros furam bloqueio e trafegam irregularmente pela via onde três pessoas morreram no último desastre com veículo de carga


postado em 12/06/2012 06:00 / atualizado em 12/06/2012 06:40

Ponto de fiscalização fica no último local onde é possível retornar, mas funcionários da empresa de transporte e trânsito alegam que, sem apoio policial, pouco podem fazer (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Ponto de fiscalização fica no último local onde é possível retornar, mas funcionários da empresa de transporte e trânsito alegam que, sem apoio policial, pouco podem fazer (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)


Pelo menos 10% das carretas com peso acima de 5 toneladas que insistem todos os dias em ignorar as placas sobre a restrição de circulação pela Avenida Nossa Senhora do Carmo, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, também furam o bloqueio da BHTrans montado no trevo que dá acesso ao Bairro Belvedere, na mesma região. A denúncia indica que a única providência adotada desde o desastre com uma carreta que matou três pessoas na via, na quarta-feira – a extensão da fiscalização, antes encerrada às 20h, para as 23h –, tem eficácia limitada. Dos cerca de 25 caminhões irregulares que chegam diariamente até o ponto, última possibilidade de retorno, de dois a três não obedecem ao sinal de parada dos fiscais.

A informação é de um dos agente da BHTrans, que disse já ter enviado, assim como os colegas que atuam no local, diversos relatórios à empresa municipal, pedindo reforço na sinalização. “As placas existem, mas não são suficientes para alertar os motoristas. É preciso instalar painéis eletrônicos, com letras grandes e legíveis. Isso tudo está em relatórios que enviamos há dois anos, desde que a restrição passou a valer”, denunciou um dos encarregados da fiscalização, pedindo anonimato por temer retaliações.

O funcionário não economiza críticas: “Além de não conseguirmos parar todas as carretas durante o dia, a fiscalização à noite fica completamente descoberta”, disse o agente, referindo-se ao fato de as equipes só estarem de prontidão até as 23h. Ele acrescentou que o motorista que dirigia a carreta envolvida no grave acidente na Nossa Senhora do Carmo na quarta-feira foi apenas mais um dos vários que descem pela via, desrespeitando a restrição. “Foi pego como bode expiatório, mas não é o único. Tentamos fazer o melhor possível aqui. Abordamos todos enquanto estamos no monitoramento, mas nem todos param. E aí, o que vamos fazer? Não podemos pegar a viatura e descer a avenida atrás dos infratores, porque corremos o risco de ter um acidente, caso o motorista tente fugir”, disse o funcionário.

Um colega dele que também atua na fiscalização disse que, quando esse tipo de situação ocorre, o procedimento é fazer contato com a central de operações da BHTrans, para que outras equipes tentem parar a carreta em outro ponto da cidade. “Não temos poder de multar, nem de polícia. Tentar parar uma carreta que fura o bloqueio pode ser ainda mais perigoso”, argumenta. Entre os casos mais impressionantes que já testemunhou, o funcionário cita os de uma carreta carregando um helicóptero e de outra levando um trator, que já tentaram passar pela avenida. “Uma vez, um caminhão que vinha de Montes Claros para prestar serviço à prefeitura também tentou passar. Mandamos voltar”, disse.

Um dos denunciante diz que 90% dos caminhoneiros que chegam com veículos com peso bruto acima de 5 toneladas à área restrita afirmam estar perdidos. “Geralmente são pessoas de fora da cidade, de outros estados, que não conhecem a restrição. Mas também há casos daqueles que tentam a sorte, como os condutores de cegonheiras que vão fazer entregas a concessionárias ao longo da avenida”, disse. Segundo ele, atuar no local sem apoio da Polícia Militar ou da Guarda Municipal é muito difícil. Ele reclama ainda das condições de trabalho, já que os agentes ficam sob sol e chuva e não têm ponto de apoio com banheiro ou bebedouro.

A BHTrans informou, por meio de sua assessoria, que não iria comentar as denúncias, por “desconhecer as fontes”. Ainda conforme a empresa, a sinalização da Avenida Nossa Senhora do Carmo atende as normas de segurança e a fiscalização, desde quinta-feira, passou a ser feita das 7h às 23h, todos os dias. Das 23h às 7h, a fiscalização é feita por uma equipe de agentes que percorre a avenida regularmente, conforme a empresa. Veículos acima de 5 toneladas podem circular na Nossa Senhora do Carmo apenas com uma autorização especial de tráfego e entre as 9h e as 17h, fora do horário de pico.

 Mobilização virtual para mudança real

A revolta com a falta de fiscalização, imprudência e mais um acidente no trânsito da capital está mobilizando os belo-horizontinos, que cobram um posicionamento enérgico das autoridades. Pelas redes sociais, internautas pedem a assinatura de uma petição virtual para que a Avenida Nossa Senhora do Carmo tenha vigilância 24 horas por dia. O documento foi criado no último dia 6 e será encaminhado ao prefeito Márcio Lacerda. Até o início da noite, já reunia 499 assinaturas.

Hoje de manhã, quem passar pelo trevo do Belverede por volta das 10h vai receber rosas brancas e panfletos sobre segurança no trânsito. A manifestação é uma iniciativa do Movimento Paz no Trânsito. O local é o ponto onde diariamente uma equipe da BHTrans faz patrulhamento entre as 7h e as 23h. A carreta que transportava duas bobinas de aço e causou o acidente na Nossa Senhora do Carmo passou pelo trevo pouco depois do horário de trabalho dos agentes de trânsito. Nessa segunda-feira, o comandante do Batalhão de Trânsito, tenente-coronel Lemos, voltou a afirmar que a PM não tem efetivo para manter policiais naquele ponto durante a madrugada.

Na noite de hoje será realizada missa de sétimo dia em memória das três vítimas do desastre, às 20h, na Igreja de Nossa Senhora do Carmo. Mãe da estudante de medicina Caroline Palmer Irffi, a psicóloga Márcia Palmer, de 50 anos, vai participar de todos os manifestos. “Assassino não anda só com arma na mão. O carro pode ser uma arma ainda mais cruel. Todos são culpados e a dor e a saudade pela morte da minha filha vão me impulsionar para não deixar isso em branco”, afirmou. Segundo ela, nenhuma das empresas prestou apoio às famílias. “Não houve sequer um telefonema de condolências.”
A Associação de Moradores do Bairro Sion também promete organizar, amanhã à noite, manifestação na escadaria da Igreja de Nossa Senhora do Carmo. A ideia é cobrar mudanças efetivas para o trânsito na região, pedindo mais segurança para pedestres e motoristas. O ato está marcado para as 20h.


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