Jornal Estado de Minas

Plano de ação para conter ataques a caixas eletrônicos ainda não está definido

Batalhão de autoridades federais, estaduais e municipais se une em comitê para tentar dar resposta à onda de ataques a terminais bancários, mas estratégia não foi definida

Serviços policiais de inteligência, Exército, Ministério Público, secretarias de estado de Defesa Social e da Fazenda e Prefeitura de Belo Horizonte
Um verdadeiro batalhão de autoridades está reunido em comitê criado na semana passada para tentar dar resposta à onda de ataques a caixas eletrônicos em Minas GeraisO grupo se reuniu pela segunda vez na sexta-feira, mas o esperado plano de ação com o objetivo de neutralizar a ameaça ainda não foi apresentado.

Na Divisão de Operações Especiais (Deoesp), o delegado chefe Vicente Ferreira Guilherme informa haver um grupo de estudos especialmente formado para desvendar o “fenômeno caixa eletrônico”“São 15 pessoas, entre delegados, peritos, investigadores e escrivãesSe acontece um crime agora, o perito vai lá e o grupo todo se reúne depois: o pessoal da física, da química, da lógica e da biologia”, explica o policial.

O grupo, segundo o chefe da Deoesp, tenta responder a perguntas básicas sobre como aconteceu o crime“Uma resposta já temos: os crimes acontecem sempre depois do horário bancário, pois não há o incômodo de pessoas chegandoÀ noite, o trânsito é menor e a facilidade de fuga é maiorO policiamento ostensivo também é maior durante o diaHá helicópteros e mais pessoas se movimentando”, diz o delegado“Estamos partindo do crime para chegar ao criminoso e tentar prender as quadrilhas”, acrescentou.

O líder da maior organização criminosa, segundo ele, já está atrás das gradesO traficante Marcos Maciel da Silva Queiroz, o Marquinho, de 28 anos, é natural de Guarulhos (SP), morava em Contagem, na Grande BH, e foi preso em Vitória (ES)
“Ele é peixe grande, temido pela própria quadrilha”, informou o delegado.

Ranking

O Triângulo Mineiro tem sido a região mais visada pelas quadrilhas de ataques a caixas eletrônicos, principalmente Uberlândia, onde a média é de dois assaltos por semanaLogo depois no ranking de explosões está Betim, seguida de Contagem, ambas na Região Metropolitana de BH, mas os crimes têm aumentado consideravelmente também no Sul e Centro-Oeste do estado“O Triângulo é mais visado pela proximidade com divisas estaduaisPrendemos uma quadrilha que tinha envolvimento com paulistas”, exemplificou o delegado-chefe do Deoesp.

O policial faz um apelo à população, pedindo informações, ainda que anônimas, sobre suspeitos“A polícia é o braço forte da sociedade, mas os cidadãos são os olhosSe meu vizinho modifica o padrão de vida dele, se não trabalha e passa a comprar carros, ou se tem alguma pessoa entrando num banco depois das 22h, quando o atendimento já foi encerrado, aí tem alguma coisa errada”, disse“É só a pessoa ligar para o telefone 181 e avisar, sem se identificarQuerer que a polícia esteja em todos os lugares ao mesmo tempo é impossível”, completa.

Antes, segundo Vicente, os ladrões tinham a preocupação de fechar a frente do banco com lona e tapumes, para simular uma obraAgora, estão invadindo os locais com carros“Dão ré e derrubam a porta
Não diria que isso é ousadia, mas falta de planejamentoA chance de serem descobertos é muito maior.”

Quinzena quente

Ataques este mês

Dia 1º – Dois caixas vão pelos ares, um em Juatuba, na Grande BH, e outro em Abadia dos Dourados, no Alto ParanaíbaNesse último, o dinheiro não foi levado.

Dia 2 – Ladrões usam maçarico para abrir uma máquina de autoatendimento na Avenida Abrahão Caran, na Pampulha, Belo HorizontePara não chamar a atenção, tamparam os vidros da porta e da fachada com uma lona cinzaO alarme disparou antes de o cofre ser aberto e o dinheiro não foi levado.

Dia 3 – Ladrões chegam a colocar bananas de dinamite em caixa de uma agência bancária do Bairro Novo Eldorado, em Contagem, mas não conseguiram detonar o explosivo nem abrir a máquina.

Dia 4 – Três homens encapuzados explodem um caixa eletrônico em Uberlândia, no Triângulo, mas não conseguem atingir o cofre.

Dia 5 – Bando invade agência} bancária em Coração de Jesus, a 70 quilômetros de Montes Claros, Norte de MinasUsando pés de cabra e furadeira, leva R$ 241 mil de cinco caixas.

Dia 6 – Cem quilos de dinamite e acessórios são furtados da Cros Mineração, na BR-135, em Montes Claros, Norte de Minas.

Dia 7 – Foram três ataquesEm Betim, Grande BH, três homens explodem caixa eletrônico de uma farmácia no Bairro AmazonasOs ladrões usaram dinamite demais e a loja também foi destruída, mas o cofre da máquina permaneceu intactoOutros terminais foram explodidos em Jacutinga, Sul de Minas, e em Varzelândia, no NorteNos dois casos, os ladrões também escaparam sem levar nada.

Dia 8 – Ladrões destruíram com dinamite um caixa da Avenida José Faria da Rocha, no Bairro Eldorado, em Contagem.

Dia 12 – Carro é usado para arrombar as portas de aço de uma drogaria no Bairro Kennedy, em ContagemLadrões fogem sem levar nada, com a chegada de um vigia.

Dia 13 – Tática semelhante é usada em Contagem, desta vez no Bairro Jardim AlvoradaA ação foi toda filmadaQuatro homens armados derrubam a porta de outra drogaria usando um carroChegam a colocar dinamite na máquina, mas o alarme dispara e eles fogem.

Dia 15 – Mais dois ataquesUm em Baldim, na Grande BH, e o outro em Itabira, Vale do AçoNos dois casos, os caixas foram destruídos com dinamite, mas os ladrões não conseguiram atingir a gaveta com o dinheiro e fugiram.

Palavra de especialista

Crise exige ação imediata
LUÍS FLÁVIO SAPORI
Sociólogo
“É como estivéssemos lembrando os ataques a bancos no faroeste norte-americano do século 19É inadmissível que o fenômeno esteja nessa proporção e que as polícias, as estaduais, a Federal e o Exército, não tenham conseguido oferecer uma resposta para a sociedadeÉ impensável que até o momento não se tenha conseguido controlar o furto dessas substâncias, e que os explosivos não tenham sido recuperados por uma boa investigação policialA facilidade de conseguir dinamite ficou tão grande que qualquer grupo de criminosos tem acessoÉ um problema basicamente de evitar novos furtos, estancar a sangria de imediato e fazer um esforço de investigação para identificar onde está esse material.”