Menos aparente que os acidentes que se sucedem nas estradas brasileiras, a deterioração do meio ambiente no entorno das pistas é outro efeito da precariedade do transporte de cargas e passageiros no país e especialmente em Minas, dono da maior malha viária do Brasil (16% do total)Com 60% da produção nacional escoada por rodovias, o país sofre em escala maior com a emissão de gases, acidentes que resultam em vazamento de produtos químicos, descarte incorreto de substâncias por parte de estabelecimentos instalados nas estradas e mesmo atropelamentos de animais silvestres.
Os impactos podem ser medidos pelo que ocorre em MinasDe 2010 a 2012, por exemplo, 92% dos 287 vazamentos de produtos tóxicos e poluentes registrados pela Diretoria de Emergências Ambientais do Sistema Estadual de Meio Ambiente (Sisema) ocorreram no transporte – contra 8% provocados por indústrias e outras atividadesSó o meio rodoviário respondeu por 84% dessas ameaças a rios, lençóis freáticos e ecossistemasO quadro é agravado pela falta de adoção ou fiscalização de medidas que poderiam minimizar problemas, como mostra o Estado de Minas a partir de hoje em série de reportagens sobre o impacto do transporte sobre a natureza.
A reportagem percorreu vias estatais e privatizadas, como as BRs 040, 262, 265, 354 e 381, e em todas elas flagrou situações de degradaçãoUm problema recorrente está relacionado a atividades à beira das pistas, como borracharias, postos de gasolina, lava a jato e oficinasMuitos desses estabelecimentos não destinam com propriedade seus resíduos, permitindo que escoem além de seus limitesNão há medidas tampouco para reduzir o impacto de óleos, graxas e detritos gerados por veículos que trafegam em rodoviasO resultado são estradas que se tornam depósitos para poluentes que, com as chuvas, vão parar no solo e nos mananciais que irrigam plantações e abastecem criações e moradias.
Embora localizada em área urbana, a Lagoa da Pampulha é usada como exemplo pelo especialista da UFMG para ilustrar efeitos do transporte: as análises detectaram até 12 miligramas de óleos e graxas por litro de água (mg/l)
Gases
A falta de fiscalização também agrava problema de emissões de pó e gasesEm Minas, os veículos não são obrigados a fazer inspeções de controle de suas emissões e, por isso, muitos trafegam desregulados e despejam fumaça nas ruasOutro problema é o transporte de minérioEm Congonhas, na Região Central de Minas, o Ministério Público já conseguiu na Justiça liminares para obrigar mineradoras a melhorar as condições de transporte.
De acordo com relatório da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), o transporte emite 47% do dióxido de carbono do paísO setor rodoviário é responsável por 90% dessas emissões“O principal problema do transporte é a emissão de gases”, indica o doutor em engenharia de transportes e diretor da consultoria ImTraff, Frederico Rodrigues“É preciso buscar modos menos poluentes e mais eficientesPor exemplo, o modo ferroviário é mais eficiente do que o rodoviário”, sugere.
Lado mais fraco na busca por espaço nas estradas, animais silvestres também são ameaçados