A ajudante de serviços gerais Floreni Lisboa de Ávila, de 41 anos, começou o inverno aflita. O filho de 16 anos precisou duas vezes ser levado para o médico, com “peito cheio” e dificuldades para respirar. “É essa praga de rodovia que passa aqui e não dá sossego com a poeira um dia só da nossa vida”, reclama a mulher, fazendo referência ao Anel Rodoviário que passa bem abaixo da sua área de serviço, no Bairro Madre Gertrudes, na Região Oeste de Belo Horizonte. Ela já não sabe mais o que fazer. Se deixa a casa aberta, o pó entra e suja tudo. Se a fecha, o filho tem longas crises e precisa ser medicado com urgência no posto de saúde local. “É uma tosse daquelas de cachorro, uma coisa horrível. Parece que o peito dele vai arrebentar”, descreve.
A reportagem do Estado de Minas distribuiu três lençóis brancos novos a moradores de grandes vias que ligam o transporte rodoviário a BH e pediu para que as pessoas os estendessem em suas janelas e varandas por uma semana. As peças brancas ficaram penduradas em residências da Via Expressa, em Contagem, na Grande BH, na Avenida Amazonas e no Anel. A peça que se mostrou mais encardida foi a da casa da ajudante de serviços gerais Floreni. Os fios que antes eram alvos ficaram cinzentos nesses sete dias. “Aqui é assim mesmo. A gente fica pensando como é que fica o nosso pulmão”, imagina.
De acordo com Maurício Meireles Goes, as partículas sólidas despejadas pelas descargas de fumaça são inaladas e, no pulmão, acabam “filtradas”, formando uma barreira para proteger o organismo de produtos estranhos e tóxicos. “Esses componentes provocam reações inflamatórias que culminam em piora de quadros já existentes ou em doenças”, afirma.
Até as recomendações comuns dos médicos ficam prejudicadas em casas em locais poluídos. “É um paradoxo. Costumamos recomendar que as pessoas fiquem em locais arejados. Só que se o paciente fizer isso, se expõe à poluição. Se fechar, piora. Se abrir, piora também. A solução é as pessoas saírem do local, afugentadas pela poluição”, admite o médico.