As mesmas estradas que abriram caminho para o desenvolvimento em municípios na Serra do Espinhaço deram passagem a espécies exóticas de plantas capazes de minar a biodiversidade da flora da regiãoUm projeto da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) tenta reverter esse quadro, com a restauração da vegetação às margens da MG-010, ao longo do trecho que atravessa a Serra do Cipó, distrito de Santana do Riacho, a 100 quilômetros de Belo HorizonteNo lugar da grama e do capim introduzidos por empreiteiras, foram plantados quaresmeiras, ipês nativos, caliandras, jacarandás do cerrado, entre outras, numa extensão de 14 quilômetros da rodoviaPioneira no país, a recuperação da mata nativa contou com recursos de R$ 3 milhões do Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG), conforme mostra a quarta reportagem da série Natureza atropelada.
O Ministério Público (MP) estadual, por meio do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente (Caoma), fez a conexão entre universidade e DER“Depois do desmatamento, a invasão biológica é a segunda maior causa da extinção de espécies no mundoConseguimos demonstrar cientificamente ao MP o tamanho desse problema”, informa o coordenador do projeto Restauração ambiental e remoção de espécies exóticas, Geraldo Wilson Fernandes, professor do Departamento de Ecologia da UFMG“A estrada é extremamente importante, mas quando malfeita gera graves problemas”, ressalta.
O professor explica que, na época do asfaltamento da estrada, há quase 10 anos, o DER-MG introduziu nas margens da rodovia, um tapete de gramas com espécies invasoras, como capim-meloso, feijão-guandu ou andu e crolatária“As espécies são mais resistentes e invadem os campos rupestres, trazendo pragas e prejudicando toda a dinâmica do ecossistemaA diversidade dos campos rupestres se compara à Amazônia, é onde está uma infinidade de nascentes que têm de ser protegidas”, destaca GeraldoCom a retirada-do-capim, cerca de 20 espécies nativas foram introduzidas, como alecrim do campo e cocoloba, espécie endêmica da região e ameaçada de extinçãoEmbora a situação na Serra do Cipó tenha sido controlada, o professor alerta que o problema está longe de ser resolvido.
“Encontramos essa situação ao longo de toda a MG-10, até mesmo em áreas onde há remanescentes de mata atlântica”, afirma