Jornal Estado de Minas

Explosões de caixas eletrônicos assumem ares de epidemia

Rastilho de pólvora chega a cidades pacatas como Catas Altas, de 4,5 mil habitantes, onde máquina foi pelos ares no 151º ataque do tipo este ano no estado

Guilherme Paranaiba Paula Sarapu

Violência da explosão arrasou interior da agência, que precisou ser fechada com tapumes, pois vidros de portas e janelas se espedaçaram - Foto:


Rotina de tranquilidade quebrada por explosões, roubos, violência e perseguiçõesCom a soma de 151 explosões e ataques a caixas eletrônicos no estado este ano, a epidemia desse crime se alastra por cidades do interior, apavorando populações de municípios considerados pacatos, como o último alvo, Catas Altas, município de 4,8 mil habitantes na Região Central atacado na madrugada de ontemA expansão dos ataques é alimentada por sucessivos desvios de material explosivo, retirado de empresas autorizadasEste ano, de acordo com a Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados do Exército, 41,1% dos casos de extravio e furto de explosivos ocorreram em Minas, principalmente nas cidades de São Tomé das Letras, no Sul do estado, Lagoa Dourada, Região Central, e Contagem, na Grande BHDesde janeiro de 2011 foram notificados 44 casos em todo o país, 15 deles em território mineiro, o primeiro do ranking, seguido do Paraná, com 10Em 2012, foram 17 ocorrências no Brasil, sete em Minas

O resultado desses roubos repercute em cidades como Catas Altas, onde os moradores, acostumados a ser acordados pontualmente às 6h pelos sinos da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, foram arrancados da cama mais cedo pela explosão que destruiu uma agência do Bradesco, por volta das 3h30Bandidos armados detonaram o caixa eletrônico que ficava no interior da agência e fugiram com o dinheiro que estava no cofreA ação foi tão violenta que os vidros da porta e das janelas foram parar na ruaUma segunda agência, do Banco do Brasil, também foi alvo dos criminosos, que chegaram a arrombar a porta de madeira e a entrada de vidro, mas não conseguiram levar nada

Uma mulher que prefere não se identificar conta que viu quando dois carros pararam de madrugada, um ao lado do outro, na Rua São Miguel, em frente ao banco, que funciona em uma casa antiga

"Não vi quantos eram, mas cheguei a ver um armado com metralhadora e também reparei que todos tinham algum tipo de arma", garante a mulherMorador de Catas Altas há mais de 20 anos, o aposentado José Maçueta Elisberto, 69, diz que o barulho foi tão alto que na mesma hora ele se levantou da camaA casa dele é vizinha ao banco"Primeiro imaginei que era alguma batida forte de carro, mas quando cheguei à rua vi que tinham explodido o bancoO susto foi muito grande", contouA auxiliar de serviços gerais Eliana Carvalho Mendes, de 50, ainda estava assustada"A parede do meu quarto tremeuEstou meio zonza até agora ", desabafou.

A camareira Íris Pereira Rezende, de 48, afirma que a cidade já teve pequenos furtos e roubos, mas que a população nunca havia visto nada igual à explosão da madrugada de ontem"Bomba é novidade para todo mundo", contou ÍrisRazão mais que suficiente para que o roubo se tornasse o único assunto do dia em Catas Altas
A moradia da dona de casa Aparecida Felisberto, de 29, fica em frente à agência atacada e ela chegou a receber uma ordem de um dos criminosos"Saí com meu marido e demos de cara com um delesEle mandou a gente voltar na hora, dizendo que iria estourar de novoNão pensamos duas vezes e fomos para dentro de casa", contou

Na segunda agência não houve explosão, mas duas portas foram arrombadasO que restou dos vidros foi colocado em dois tambores e levado pelo caminhão que recolhe o lixoUma placa na porta do banco informava sobre o cancelamento do atendimento durante todo o diaA secretária municipal de Turismo, Vânia Lúcia Gomes, de 50, ficou preocupada com a ação da madrugada"Temos medo, porque nossa maior propaganda para o turismo é a tranquilidade da cidade", afirma a secretária

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Bloqueios

Segundo a Polícia Militar, os próprios moradores alertados pelo barulho chamaram a PMPoliciais de Santa Bárbara e Barão de Cocais, também na Região Central, foram mobilizado para tentar interceptar os fugitivos Enquanto uma viatura ia de Santa Bárbara para Catas Altas, dois carros em alta velocidade foram flagrados no sentido contrário da MG-129 e o veículo da PM fez o retorno, mas não conseguiu alcançá-losOutra equipe, que saiu de Barão de Cocais, já se deparou com os dois carros – um Prisma prata roubado em Belo Horizonte em 29 de junho e um Peugeot 307 preto – abandonados às margens da rodovia"Tudo indica que houve uma saída de pistaComo não tivemos indícios de outros carros na região, eles devem ter se embrenhado no mato a pé", acredita o major Laurito Reis, comandante do 26º Batalhão, sediado em Itabira

Outro veículo, um Honda Civic, foi encontrado nas proximidades todo aberto e com a chave na igniçãoEle também foi roubado em BH em 29 de junho, segundo a PM, o que dá indícios de que a ação partiu de forasteiros participantes de uma quadrilha organizada"Esse carro pode ter dado apoio aos bandidos na hora da fuga", completa o majorA PM montou cerco, usando inclusive helicóptero e cães farejadores, mas até a noite de ontem ninguém havia sido presoComo foram usados três veículos, a suspeita é de que o número de envolvidos pode chegar a pelo menos oito pessoasEm um dos carros foram achados pedaços de artefatos metálico que, segundo a PM, poderiam ser usados para furar pneus de viaturas policiais durante possível perseguição