Rotina de tranquilidade quebrada por explosões, roubos, violência e perseguições. Com a soma de 151 explosões e ataques a caixas eletrônicos no estado este ano, a epidemia desse crime se alastra por cidades do interior, apavorando populações de municípios considerados pacatos, como o último alvo, Catas Altas, município de 4,8 mil habitantes na Região Central atacado na madrugada de ontem. A expansão dos ataques é alimentada por sucessivos desvios de material explosivo, retirado de empresas autorizadas. Este ano, de acordo com a Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados do Exército, 41,1% dos casos de extravio e furto de explosivos ocorreram em Minas, principalmente nas cidades de São Tomé das Letras, no Sul do estado, Lagoa Dourada, Região Central, e Contagem, na Grande BH. Desde janeiro de 2011 foram notificados 44 casos em todo o país, 15 deles em território mineiro, o primeiro do ranking, seguido do Paraná, com 10. Em 2012, foram 17 ocorrências no Brasil, sete em Minas.
Uma mulher que prefere não se identificar conta que viu quando dois carros pararam de madrugada, um ao lado do outro, na Rua São Miguel, em frente ao banco, que funciona em uma casa antiga. "Não vi quantos eram, mas cheguei a ver um armado com metralhadora e também reparei que todos tinham algum tipo de arma", garante a mulher. Morador de Catas Altas há mais de 20 anos, o aposentado José Maçueta Elisberto, 69, diz que o barulho foi tão alto que na mesma hora ele se levantou da cama. A casa dele é vizinha ao banco. "Primeiro imaginei que era alguma batida forte de carro, mas quando cheguei à rua vi que tinham explodido o banco. O susto foi muito grande", contou. A auxiliar de serviços gerais Eliana Carvalho Mendes, de 50, ainda estava assustada. "A parede do meu quarto tremeu. Estou meio zonza até agora ", desabafou.
A camareira Íris Pereira Rezende, de 48, afirma que a cidade já teve pequenos furtos e roubos, mas que a população nunca havia visto nada igual à explosão da madrugada de ontem. "Bomba é novidade para todo mundo", contou Íris. Razão mais que suficiente para que o roubo se tornasse o único assunto do dia em Catas Altas. A moradia da dona de casa Aparecida Felisberto, de 29, fica em frente à agência atacada e ela chegou a receber uma ordem de um dos criminosos. "Saí com meu marido e demos de cara com um deles. Ele mandou a gente voltar na hora, dizendo que iria estourar de novo. Não pensamos duas vezes e fomos para dentro de casa", contou.
Na segunda agência não houve explosão, mas duas portas foram arrombadas. O que restou dos vidros foi colocado em dois tambores e levado pelo caminhão que recolhe o lixo. Uma placa na porta do banco informava sobre o cancelamento do atendimento durante todo o dia. A secretária municipal de Turismo, Vânia Lúcia Gomes, de 50, ficou preocupada com a ação da madrugada. "Temos medo, porque nossa maior propaganda para o turismo é a tranquilidade da cidade", afirma a secretária.
Bloqueios
Segundo a Polícia Militar, os próprios moradores alertados pelo barulho chamaram a PM. Policiais de Santa Bárbara e Barão de Cocais, também na Região Central, foram mobilizado para tentar interceptar os fugitivos. Enquanto uma viatura ia de Santa Bárbara para Catas Altas, dois carros em alta velocidade foram flagrados no sentido contrário da MG-129 e o veículo da PM fez o retorno, mas não conseguiu alcançá-los. Outra equipe, que saiu de Barão de Cocais, já se deparou com os dois carros – um Prisma prata roubado em Belo Horizonte em 29 de junho e um Peugeot 307 preto – abandonados às margens da rodovia. "Tudo indica que houve uma saída de pista. Como não tivemos indícios de outros carros na região, eles devem ter se embrenhado no mato a pé", acredita o major Laurito Reis, comandante do 26º Batalhão, sediado em Itabira.
Outro veículo, um Honda Civic, foi encontrado nas proximidades todo aberto e com a chave na ignição. Ele também foi roubado em BH em 29 de junho, segundo a PM, o que dá indícios de que a ação partiu de forasteiros participantes de uma quadrilha organizada. "Esse carro pode ter dado apoio aos bandidos na hora da fuga", completa o major. A PM montou cerco, usando inclusive helicóptero e cães farejadores, mas até a noite de ontem ninguém havia sido preso. Como foram usados três veículos, a suspeita é de que o número de envolvidos pode chegar a pelo menos oito pessoas. Em um dos carros foram achados pedaços de artefatos metálico que, segundo a PM, poderiam ser usados para furar pneus de viaturas policiais durante possível perseguição.