Jornal Estado de Minas

Pedras estão no lugar de água em rios de Minas

Luiz Ribeiro

 

Salinas – Se Minas tem cidades que foram privadas de seus rios pela construção de hidrelétricas, caso de Aimorés, no Vale do Rio Doce, outras viram seus cursos d’água sumir lentamente devido à degradação

É o caso de Salinas, no Norte do estadoSegundo a prefeitura local, pelo menos oito rios do município que antes tinham água o ano inteiro praticamente desapareceramOutros ainda correm, mas com vazão muito reduzida“Acredito que a falta de preservação das nascentes foi a responsávelA região sofreu muito com o  desmatamento para a monocultura do eucalipto na década de 1970”, afirma a engenheira ambiental Geisa Batista, da Secretaria Municipal de Agricultura e Meio AmbienteA titular da pasta, Maria Helena Silva, alerta que os mananciais e todo o ecossistema de municípios da região correm risco de danos maiores ainda, por causa dos projetos de extração do minério de ferro que estão sendo instalados no Norte do estado

Na zona rural de Salinas não é difícil constatar o resultado que a exploração sem critérios já produziuEle aparece sob a forma de leitos vazios, tomados por areia ou pedrasÉ a situação do Rio Jurucutu, na localidade homônima“Esse rio corria cheio o ano inteiro
Hoje, quando chove muito, a água corre por uns oito dias e depois seca de novoSó restaram pedras”, conta o aposentado Clemente Ferreira de Souza, de 69 anos, enquanto caminha no leito seco ao lado do filho, o também agricultor Adevaldo Pereira Ferreira de Souza, de 45No fundo da casa de Clemente, uma prova de que a fauna do rio mudou: entre as pedras do leito que já correu caudaloso e cheio de peixes, apareceu um ninho de urubuCom a seca, clemente abriu uma cacimba no leito para retirar água e manter a plantação de hortaliçasPorém, o poço também secou“Agora, não sei como fazerO jeito vai ser parar com tudo”, lamenta

A situação se repete no Rio Tabocas, que passa junto ao distrito de Ferreiropolis O lavrador Vilmar Sarmento, de 59, lembra que há 30 anos era bem diferente“O rio era cheio quase o ano inteiro
Tinha muito peixeDe uns tempos prá cá, passou a correr só mesmo na chuvaAssim mesmo, pouco dias depois seca de novo”, relatou

Só Deus

O Rio Vacaria, que corta vários municípios da região, já foi considerado caudalosoHoje seu volume diminuiu muito com o assoreamentoEm vários trechos, só se destacam as pedras e bancos de areiaÉ assim nos fundos da propriedade de Graziano Mendes Spindola, de 58, no município de Fruta de Leite“Já teve muita águaAgora, só Deus para fazer o Vacaria voltar a correr como antes”, acreditaSua vizinha, a agricultora Celsina Pereira de Souza, de 43, que mora na outra margem, já no município de Padre Carvalho, culpa o plantio de eucalipto“O medo agora é de secar de vezAí, vamos ter que sair daqui”, preocupa-se

A empresa Sul Americana Metais (SAM), do Grupo Votarantin, anunciou que vai construir uma barragem no rio, com investimento de R$ 80 milhões, para garantir a oferta de água para um mineduto, visando o escoamento do minério de ferroMoradores têm esperança de que isso possa melhorar a vazão no leito.  (LR)