Jornal Estado de Minas

Transporte clandestino promove viagem de risco a Confins

DER faz pesquisa com passageiros e conclui que quase um terço deles já usou veículos clandestinos para ir ou voltar do aeroporto. Tarifa cara de táxi é uma das principais queixas

Guilherme Paranaiba

 

Cerca de 3 mil pessoas usam o transporte clandestino ou irregular diariamente para se deslocar até o Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte

A estimativa é do Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER/MG), com base em pesquisa divulgada ontem, feita com passageiros do terminal para avaliar o sistema de transporte até o aeroporto e até os destinos de cada umDurante sete dias de aplicação dos questionários, 3,2 mil pessoas responderam às perguntas, 17,6% disseram já terem usado transporte clandestino e 12,6% não completaram essa parte, o que, para o DER, indica que também são ou já foram usuárias dos “piolhos”, carros que transportam os viajantes sem autorizaçãoNo total, o percentual chega a 30,2%.

A pesquisa mostrou ainda que a opção preferida dos passageiros que embarcam e desembarcam em Confins é o ônibus, seguido pelo carro particular, em segundo lugar, e pelo táxi, em terceiroEsse é o cenário que expressa a preferência de quem vai viajar ou de quem chega de viagemO que mais chama a atenção é que o táxi ocupa o terceiro lugar, com 15,75% da preferência na ida e 12,63% na volta, proporção praticamente igual à que mostra a opção pelo transporte clandestinoPara o DER/MG, isso prova que os táxis regulares e os “piolhos” praticamente dividem os passageiros que demandam o carro pequeno

“Poderíamos ter todos esses passageiros no táxi regularizado se a tarifa fosse mais barataSe continuar dessa forma, será uma luta pesada trazer os passageiros do clandestino para o legal”, diz o diretor de Fiscalização do DER/MG, João Afonso BaetaSegundo o órgão, o valor médio da tarifa de táxi do aeroporto para Belo Horizonte é R$ 103De fato, a pesquisa mostrou que quase 70% dos entrevistados avaliaram esse custo como muito caro ou caro, enquanto há indícios de que os “piolhos” cobram metade do preço para fazer o mesmo trajeto
Como o questionário também revelou que quase metade dos entrevistados tem renda de até 5 mínimos por mês, esse valor acaba ficando incompatível com o praticado pelos taxistas

O estudante David Guimarães, de 22 anos, usa o terminal em Confins duas vezes por mês e já optou por várias possibilidades de transporte, como carro particular, ônibus e táxiTambém já foi abordado várias vezes pelos clandestinos, mas não se aventurouPara ele, o sistema de transportes entre a capital e o aeroporto precisa ser aperfeiçoado“Os horários dos ônibus precisam ser ampliados e o governo deve estudar uma forma de aumentar a demanda dos carros menores como prestadores desse serviço e diminuir o preço das tarifasTem muita gente que prefere assim, pela facilidade com as malas”, garante o estudanteSegundo ele, do jeito que está quem sai prejudicado são os passageiros“É insuficiente e não atende às necessidades das pessoas”, completa.

Alternativa para baixar as tarifas

Taxista há três anos, Jamil Cavanellas, de 59, acredita que o valor cobrado pelo táxi entre BH e o terminal poderia ser reduzido caso um problema antigo terminasseHoje, o taxista de Belo Horizonte só pode levar o passageiro até o terminal e não pode levar ninguém na volta, assim como os taxistas de Confins e Lagoa Santa, na Grande BH, podem pegar quem desembarca e levar até a capitalPorém, eles não podem voltar com passageiros para o aeroporto
“Se acabasse com isso, poderia diminuir a tarifaPara ir cheio e voltar vazio esse valor é o justo”, diz o taxistaAinda segundo ele, uma mudança nas regras poderia melhorar a demanda“Ia resolver parte dos problemas da falta de táxis”, completa.

Como o “piolho” se infiltra no estacionamento e leva pessoas tanto na ida quanto na volta, ele acaba conseguindo abaixar consideravelmente o preço praticado pelo serviço regularSegundo o DER/MG, nas últimas duas operações do órgão contra os clandestinos foram  abordados 740 veículos  e 36 “piolhos” presosEles também foram multados em R$ 1.164,55 e tiveram os veículos apreendidos.  Ainda segundo o diretor, o perfil do ilegal varia em quatro vertentesSão motoristas regulares de táxi de Lagoa Santa e Confins que compram carros particulares e colocam outras pessoas para dirigir, ex-motoristas de locadoras de carros e empresas de turismo que migram para essa área, pessoas que começam a se organizar em redes sociais e criminosos, que se aproveitam para roubar passageiros.

A reportagem tentou contato com o Sindicato Intermunicipal dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários de Minas Gerais (Sincavir/MG), mas ninguém foi encontrado para comentar a pesquisaA Secretaria de Estado de Transporte e Obras Públicas (Setop), responsável por regular o transporte intermunicipal, informou que os resultados da pesquisa ainda serão avaliados pelo órgão.


FALA, PASSAGEIRO
O que você acha do transporte PARA CONFINS?

O que você acha do sistema de transporte que serve o Aeroporto Internacional Tancredo Neves?


- Foto: Euler Júnior/EM/D.A PRESS
1) Fábio Júnior Rocha, 22 anos, estudante
Pagar R$ 90 em um táxi é muito caroO ônibus têm um valor mais em conta, mas já entrei em um ônibus do Conexão Aeroporto que não estava em boas condiçõesPorém, da mesma forma, já peguei excelentes ônibus da mesma linha

 

 

2) Tatiana Oliveira, 30 anos, assistente geriátrica
Acho péssimoNo aeroporto não tem nenhuma informação sobre meios de transporte para Belo Horizonte e o valor da passagem de táxi é um absurdoUso mais o ônibus Conexão Aeroporto, que é mais em contaJá fui abordada algumas vezes por clandestinos, mas achei melhor não entrar.


- Foto: Euler Júnior/EM/D.A PRESS
3) Gaudino José Dias, 75 anos, guia de turismo
Bom mesmo seria se tivesse um metrô que ligasse o aeroporto à capitalO ônibus tem um bom preço, mas é menos acessível, principalmente quando você está cheio de malas e também com a família todaJá o táxi é muito caro.