Nova Era – A crosta corrosiva, escura e densa formada pelos 18 mil litros de ácido sulfúrico despejados no Rio Piracicaba no vazamento de uma carreta-tanque no km 328 da BR-381, em Nova Era, na segunda-feira à tarde, esteve perto de prejudicar o abastecimento de 130 mil moradores do Vale do Aço. A informação é do presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Piracicaba, Iusifith Chafit Felipe, que criticou o sistema de drenagem da rodovia por suas valas e dutos recolherem todos os resíduos que poluem a estrada e os lançar diretamente no curso d’água. “O ácido desceu de uma vez para o rio quando entrou no sistema de esgotamento da rodovia. Se tivesse vazado cinco quilômetros antes, o mesmo sistema o escoaria até o ponto de captação de água de Nova Era e de Itabira”, alerta.
Criticado por especialistas como uma forma de “varrer a poeira para debaixo do tapete”, o sistema de drenagem das rodovias brasileiras normalmente destina tudo que cai no pavimento para mananciais de água importantes, como mostrou a série de reportagens do Estado de Minas, Natureza atropelada, publicada no mês passado. Só na BR-381, trecho entre BH e Nova Era, o EM contou 20 equipamentos de drenagem que destinam o que coletam, seja chuva ou vazamento, direto a mananciais, em Santa Luzia, Caeté, Nova União, Bom Jesus do Amparo, Barão de Cocais, São Gonçalo do Rio Abaixo, João Monlevade, Bela Vista de Minas e Nova Era. Alguns desses pontos de despejo encontram rios importantes como o da Velhas, Vermelho, Una e Piracicaba.
Cheiro forte
Ainda nessa terça-feira, em Nova Era, havia dezenas de peixes mortos próximos às margens do Rio Piracicaba, no Centro, e a pelo menos cinco quilômetros seguindo o curso d’água até o Bairro Nossa Senhoras das Graças. “Vimos a confusão e saímos da loja para ver o que era. Já na beira do rio vimos aquele tanto de gente na margem com sacolas nas mãos catando peixes que estavam agonizando. Até gritei para uma senhora para não pegar nos bichos”, conta a gerente de uma loja de carros, Juliana Inês Ramos Campidele Moraes, de 24 anos.
“Só senti o cheiro forte entrando na loja. Parecia que um caminhão de ossos do açougue tinha passado. Foi aí que vimos o ácido descendo pelo rio e o cheiro ficou mais forte, como se fosse enxofre”, descreve a comerciante Heloiza Helena da Silva, de 61. “O cheiro incomodou muito. Fui até lá para ver o que era e depois meus olhõs e o nariz ficaram irritados, ardendo por um tempo”, afirma a vendedora Maria Fernandes Mendes, de 36.
Nessa terça-feira, a empresa responsável pelo transporte do ácido, Transportadora Borelli Ltda, providenciou a absorção do produto por uma mistura de cal e areia, que seria removida até hoje. Segundo o gerente operacional da empresa, Hermann Kielblock, o motorista da empresa era experiente, mas havia se queixado de dores na nuca e na cabeça, hora e meia antes de tombar a carreta. “Testemunhas disseram que viram a carreta descer a rodovia buzinando antes de tombar. Uma das hipóteses é que o motorista tenha passado mal e perdido o controle da carreta.
Motorista não resiste
O motorista da carreta que transportava ácido sulfúrico e tombou na BR-381não resistiu às queimaduras causadas pelo produto tóxico e morreu nessa terça-feira de madrugada. De acordo com a assessoria de imprensa do Hospital de Pronto Socorro João XXIII, Wilson Domingos Júlio, de 60 anos, morreu às 3h45. Ele teve 90% do corpo queimado pelo produto tóxico que vazou da carreta que dirigia.
O acidente ocorreu por volta das 15h desegunda-feira , no km 328 da rodovia, Wilson perdeu o controle da carreta ao sair de uma curva no sentido BH-Ipatinga, bateu na mureta central e tombou. Os dois tanques furaram com o impacto e lançaram o produto tóxico na estrada. Uma viatura da Polícia Civil dirigida por Sérgio Vinícius Torres, de 35, foi atingida pelo ácido e motorista também foi socorrido com queimaduras de primeiro e segundo graus. O trânsito no trecho da BR-381 só foi liberado às 2h de ontem.