Jornal Estado de Minas

Assalto com reféns expõe onda de crimes e espalha medo no Mangabeiras

Guilherme Paranaiba

  Placa na rua onde ocorreu o crime informa sobre monitoramento, que não intimidou ladrões. Maneira de agir indica que quadrilha provavelmente conhecia hábitos e posses da família - Foto: cristina horta/EM/D.A PRESS


Uma rua aparentemente pacata, com guarita que informa sobre vigilância armada e eletrônica,  sinalizada por placa que indica monitoramento 24 horasNada disso foi suficiente para impedir mais um assalto no Bairro Mangabeiras, no que já é classificado como uma onda de violência que assusta moradoresAs últimas vítimas sofreram mais que perdas patrimoniais: enfrentaram momentos de terror sob ameaça de criminosos, em uma das áreas mais nobres da Região Centro-Sul da capitalAssaltantes armados invadiram a casa,  na Rua Comendador Viana, e mantiveram pai e filho sob a mira de uma pistola automática e um revólverForam cerca de 10 minutos de ameaças e agressõesA situação só foi contornada porque  o filho mais novo percebeu o momento que o pai foi rendido e ligou para a PMQuatro ladrões foram presos, mas a ação não foi suficiente para contornar o medo de moradores, que cobram atitude mais enérgica da Polícia Militar

O ataque que contribuiu para aumentar a preocupação da vizinhança, já claramente demonstrada pelas placas que informam sobre a segurança particular, começou por volta das 7h30O dono da casa, que é engenheiro e tem 62 anos, mora com dois filhos no endereço há 10 anos e nunca tinha tido problemas com assaltosComo faz diariamente, ele saiu de casa por volta das 6h30 para caminharUma hora depois, quando colocou a chave para entrar em casa, foi abordado por dois homens que o empurraram para dentro e fecharam o portão

“Caí e eles anunciaram o assaltoMandaram abrir a porta de dentro, mas, como a chave ficou do lado de fora do portão, não podia fazer nada e eles começaram a me agredirPensei várias vezes que morreria ali”, conta o engenheiro.

“Eles me chamaram de velho abusado e quebraram o vidro para entrar”, relatou o engenheiroOs criminosos abriram o portão da garagem e mais dois ladrões entraram com um carro, roubado no Bairro São Lucas, Centro-Sul da capitalOs quatro criminosos começaram a aterrorizar pai e o filho mais velho, de 32 anos, que também desceu para ver o que estava acontecendo“Tomei um tapa na cara, mas não reagiMeu pai ficou amarrado e eu fiquei do lado dele no quarto de hóspedes, enquanto eles pegavam tudo o que conseguiamA todo momento pediam dinheiro”, relatou Segundo o dono da casa, um dos criminosos perguntou se ele tinha alguma filha, provavelmente com a intenção de cometer estupro“Há pouco tempo aconteceu um caso desses aqui na região, e eles também são suspeitos”, contou.

A família só foi salva porque o outro filho do engenheiro percebeu o assalto logo no início e conseguiu saltar para a casa vizinha, de onde telefonou para a polícia
A PM demorou menos de 10 minutos para chegar“O interfone tocou e eles me mandaram atender Disseram para eu falar que estava tudo bem, senão nos matariam”, acrescentou o irmão mais velhoPorém, enquanto os ladrões se preparavam para encher o carro com material roubado, foram surpreendidos pelo erro de um dos comparsas“Um deles apertou por descuido o botão que abre o portão, o que facilitou nossa entradaEles correram para os fundos e pularam um muro de cerca de 10 metros de altura, caindo em um lote vago”, conta o sargento José Antônio de Oliveira, do 22º Batalhão


Prisão e covardia

- Foto: Com o apoio de outras viaturas, a PM prendeu os quatro na Rua Adolfo RadiceCom eles foram apreendidos seis celulares, perfumes, duas armas, um estilete, relógio, munição e uma câmera fotográficaA polícia suspeita de que o bando esteja agindo na região e vai fazer contato com outras vítimas no Mangabeiras, para tentar confirmar a hipóteseForam detidos Cristiano Dias Ramos Faria, de 18, Charles Felipe Pereira da Silva, de 20, Caique Moura dos Santos, de 18, e M., de 16Há suspeitas de que eles já estivessem rondando a casa, já que o veículo roubado usado era exatamente igual ao carro de um dos moradoresDessa forma, eles não levantariam suspeitas ao sair com o produto do roubo.

Entre os presos, que não se acanharam em exibir sorrisos ao serem apresentados pela polícia, um dos adultos, Caique Moura, tem passagens por homicídioO menor de 16 já foi apreendido várias vezes, por crimes diversos, e estava com um mandado de busca e apreensão em aberto

Os assaltantes foram descritos pelas vítimas como extremamente violentos “A covardia deles foi tão grande que pensei que morreriaNão tenho a mínima intenção de correr o risco mais uma vez, não quero enfrentar essa situaçãoPretendo sair desta casa”, disse, com lágrimas no rosto, o engenheiro de 62 anos, que levou sete pontos na cabeça e cinco no rosto, devido às coronhadasSeu filho que conseguiu chamar a polícia disse que o medo tem sido companheiro na vizinhança“Todo dia a gente fica sabendo de alguma coisa nesta rua, então sempre fico mais esperto Parece que estamos só esperando a nossa vez”, desabafa o estudante, dizendo que a casa dele é a 12ª roubada na via.