Quando setembro chegar, a Praça Sete vai completar 90 anos de seu batizado. Nascida na planta original da cidade como 14 de Outubro, numa referência à data de criação da Comissão de Estudos das Localidades Indicadas para a Nova Capital, só mesmo na comemoração do centenário da Independência do Brasil (7/7/1922) ela ganhou o nome definitivo e o coração dos belo-horizontinos. Em nove décadas, foram muitas as mudanças no espaço público, que teve bondes, assistiu à retirada de árvores e a construção do obelisco conhecido como Pirulito e, em 2003, mereceu um projeto de requalificação urbana. No entanto, uma das intervenções mais importantes da área, segundo os especialistas, foi o fechamento dos quatro quarteirões, em 1971, medida para ordenar o trânsito e, principalmente, favorecer os pedestres.
No início, os quarteirões agora quarentões dividiram as opiniões dos moradores: elogios de um lado, críticas do outro. Mas, no fim das contas, significaram uma conquista, uma das grandes vitórias dos pedestres sobre os veículos, avalia o arquiteto e urbanista Radamés Teixeira da Silva, de 88 anos, ex-professor da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e chefe do Serviço de Plano Diretor da Prefeitura de BH nas décadas de 1950 e 1960. Naquele momento, os quarteirões fechados eram uma tendência nas grandes cidades e BH a incorporou com sucesso, “garantindo o bem-estar da comunidade”.
Ao lembrar aqueles tempos, quando os carros começavam a crescer em número e espremiam a população nas calçadas, o professor Radamés pergunta com sabedoria: “Quem gostaria de ver de novo aqueles trechos da Praça Sete com tráfego intenso de veículos?” E vai além, ao recomendar às autoridades que o exemplo seja estendido, hoje, a outros cruzamentos da região Central, os quais ele prefere não se antecipar, já que as intervenções demandariam pesquisas e estudos dos órgãos responsáveis. “Os quarteirões, em ruas com 20 metros de largura, tiveram um valor extraordinário para a sociedade, pois puseram à disposição dos pedestres metros quadrados preciosos. É preciso fechar outros quarteirões da cidade.” Segundo a arquiteta e urbanista Cláudia Pires, conselheira do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/Seção Minas Gerais), a iniciativa priorizou quem anda a pé numa praça que tem cruzamentos em diagonal.
Novos nomes
Vinte anos depois da chegada dos calçadões ao Centro, construídos durante o governo do prefeito Luiz Gonzaga de Souza Lima ( de 1967 a 1971), os quatro espaços receberam nomes homenageando povos indígenas que vivem em Minas. As denominações estão em placas, embora muita gente passe, apressadamente, sem prestar a menor atenção. Portanto, na próxima vez que transitar pelo local, conheça melhor os quarteirões fechados: Krenak ou Crenaque (trecho da Rua dos Carijós, entre a praça e Rua São Paulo), Pataxó (Rua dos Carijós até a Rua Espírito Santo), Maxacali ou Machacali (Rua Rio de Janeiro até a Rua dos Tupinambás) e Xacriabá (Rua Rio de Janeiro até a dos Tamoios).
Tombados junto com o conjunto urbano da Avenida Afono Pena, desde 1994, pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural Municipal, os quatro quarteirões – o primeiro a ser implantado foi o Xacriabá – abrigam ícones arquitetônicos da cidade, como o Cine Brasil, de 1932, em processo de restauração para fins culturais; o prédio do antigo Banco da Lavoura (1946), hoje ocupado por outra instituição financeira; o edifício no qual funciona a Unidade de Atendimento Integrado, de 1919, que abrigou a sede do Banco Hipotecário e Agrícola do Estado de Minas Gerais; o prédio do antigo Bemge; e o Edifício Clemente de Faria.
As imagens da construção do calçadão ainda estão vivas na memória do bancário aposentado Gilmar Dias Duarte, de 77 anos, morador do Bairro Sion, na Região Centro-Sul de BH. “A maioria dos carros era importada e aqui na Rua Rio de Janeiro era possível estacionar. A obra despertou polêmica, pois muita gente não concordava com as mudanças”, recorda-se o bancário, que trabalhou durante 35 anos no prédio do Banco da Lavoura. Com simpatia, ele aponta instituições e lojas que saíram das imediações da Praça Sete, como o Instituto Médico-Legal, a Câmara Municipal, uma delegacia de polícia, uma bombonière e outros. “O fechamento foi bom para o povo”, acredita.
Dia do batismo
O nome Praça Sete de Setembro foi dado ao “coração de BH” pelo então presidente estadual de Minas, Raul Soares (1877-1924). Naquele dia de comemorações do Centenário da Independência do Brasil, foi lançada a pedra fundamental do monumento conhecido popularmente como Pirulito – o obelisco seria o marco comemorativo da grande data nacional, mas só foi inaugurado dois anos depois. Referência da cidade, o traçado físico original não é característico de uma praça, sendo, na verdade, um espaço central resultante do cruzamento de quatro eixos, que são as avenidas Afonso Pena e Amazonas e das ruas dos Carijós e Rio de Janeiro. Hoje na praça, segundo a BHTrans, há um trânsito diário de 75 mil veículos e o obelisco é o ponto que define as distâncias da capital para outras cidades.
LINHA DO TEMPO
1894 – Na planta original de BH, a Praça Sete tem o nome de Praça 14 de Outubro, data referente à criação da Comissão de Estudos das Localidades Indicadas para a Nova Capital
1922 –Praça recebe o nome de Sete de Setembro em homenagem ao centenário da Independência do Brasil
1924 – Inaugurado em 7 de setembro o obelisco conhecido como Pirulito
1994 –Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural Municipal tomba o conjunto urbano da Avenida Afonso Pena, incluindo a Praça Sete
1971 – No fim do ano, são fechados os quatro quarteirões da Praça Sete, os primeiros de BH
1991 – Em fevereiro, os quarteirões recebem, por lei municipal, o nome de povos indígenas de Minas: Maxakali, Krenak, Xacriabá e Pataxó
1989 – Prefeitura faz concurso para escolha de projeto de requalificação da Praça Sete
2003 –Em 29 de setembro, depois de um ano de obra, Praça Sete é reentregue à população, iniciativa que dá início à recuperação do Hipercentro