A entidade que acolheu Robert já deu abrigo a centenas de crianças, adolescentes e adultos portadores de paralisia cerebralFundada há 30 anos, o Nosso Lar, no Bairro Jardim Guanabara, na Região Norte, se mantém graças a doações e ao trabalho de voluntáriosA entidade mantém um pequeno convênio com a prefeitura, que garante os itens básicos da dispensa – como arroz, feijão e açúcar – e recebe ajuda restrita da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese)Para manter em seu quadro de funcionários cuidadores, enfermeira, fisioterapeuta e fonoaudióloga e ainda assumir toda a despesa com a medicação dos 17 pacientes, o Nosso Lar precisa de apoio.
“Pedir dinheiro ficou mal visto por causa do que chamam de ‘pilantropia’O mal uso dos recursos por outras instituições nos prejudicou demais”, conta a fundadora, uma senhora de 79 anos que prefere se manter no anonimatoEla conta que o Nosso Lar começou dentro da casa de seus pais, um casal vindo do Espírito Santo em 1941 e que criou raízes em Belo Horizonte“Meus pais sempre ajudaram pessoas em dificuldades financeiras, com problemas de saúdeSempre criaram filhos dos outros e o último tinha paralisia cerebralQuando minha mãe morreu ele tinha 8 anos e eu assumi a responsabilidade”, conta a senhora, que optou por não se casar“Sou mãe e avó solteira e em nenhum momento da vida me arrependi da minha escolha”, afirma.
Prestes a completar oito décadas de vida, sua única preocupação é manter o atendimento aos moradores do Nosso Lar com qualidade“A doação deveria chamar amor, uma coisa que você sente e pronto, não precisa contar para ninguém”, diz
Memória
Pediatra se transformou em anjo da guarda
Em 10 de março de 1997, o pediatra João Pimenta Freire Filho estava de plantão na emergência do Hospital de Pronto-Socorro João XXIII quando um garotinho chegou agitado e tentando respirarDaquele dia e durante 12 anos ele seria o anjo da guarda de RobertHoje, ao falar sobre o ex-paciente, ele não esconde a mágoa da família“Já vi muita criança negligenciada, mas chegar a esse ponto de no dia da alta não recebê-la foi a primeira e única vezO Robert não sofria porque achava que a vida era aquelaComo nós, médicos e enfermeiras, dávamos muito carinho, ele se sentia queridoEle sempre foi muito mais amado por nós do que pela família”, dizPara o pediatra, Robert sofreu um duplo abandono“Inicialmente, houve uma negligência graveNão sabemos porque uma garrafa de soda cáustica foi deixada na altura dele