Jornal Estado de Minas

Mulher que xingou aluna de "preta horrorosa" chega à delegacia para depor

A suspeita chegou na delegacia nervosa e negou ser a pessoa que ofendeu a garota

João Henrique do Vale Flávia Ayer Luana Cruz, Paulo Filgueiras, Cristiane Silva, Daniel Camargos, Mateus Parreiras, Pedro Rocha Franco, Luciane Evans, Leandro Couri

O caso aconteceu em Contagem no ínício do mês. Mulher ficou inconformada pelo neto ter dançado quadrilha com uma menina negra - Foto: Euler Junior/EM/D.A.Press

 

A mulher suspeita de xingar de “negra, preta horrorosa e feia” uma menina de 4 anos dentro de uma escola de Contagem, na Grande BH, chegou à delegacia para prestar depoimento sobre o casoMaria Pereira Campos da Silva chegou ao local por volta das 16hMuito agressiva, ela negou que seria a responsável pelas agressões verbais contra a garotaInicialmente a Polícia Civil havia informado que Maria Pereira só iria ser interrogada na terça-feira

Na manhã desta segunda-feira, a professora Denise Cristina Pereira Aragão, de 34 anos, que presenciou o xingamento, e a mãe da criança, Fátima Viana Souza prestaram depoimentoO delegado Juarez Gomes, da 4ª Delegacia de Contagem, informou que deve autuar a suspeita por injúria qualificada Para ele, não ficou configurado o racismoJuarez entende que houve uma ofensa em razão da cor de pela da criança, mas o racismo seria confirmado caso a aluna fosse impedida de dançar na festa ou se matricular na escolaPortanto, Gomes pode autuar Maria Pereira por injúria qualificada, de acordo com o parágrafo 3 do artigo 140 do Código Penal

O caso começou em 7 de julhoA menina dançou quadrilha com o neto de Maria Pereira da Silva, no Centro de Educação Infantil Emília, em Contagem

Conforme consta no boletim de ocorrência, no dia 10, a avó invadiu a escola aos gritos querendo saber porque o neto havia dançado com uma negra.  A professora Denise presenciou tudo e relatou à diretoriaIndignada com a atitude da dona e da diretora da escola, que não tomou providências para defender a aluna e tentou abafar o caso, Denise pediu demissãoEla contou o fato para a família, que registrou boletim de ocorrência

O advogado que defende a família da menina concorda com a atitude do delegado, mas diz que novas testemunhas podem mudar o rumo das investigações“Conversei com o delegado e, com os indícios que ele tem em mãos, realmente tem que qualificar como injúriaTestemunhas serão ouvidas durante a semanaElas afirmam que a avó do garoto tentou acabar com a festa juninaE isso caracteriza racismo”, diz o defensor Amadeus Carlos de Miranda Pimenta

Pais da garota prestaram depoimento nesta manhã - Foto: Jair Amaral/EM/D.A.PressTestemunhas procuraram a organização não governamental SOS Racismo, onde o advogado trabalha, para relatar que no dia da festa, a mulher ficou revoltada ao ver o neto dançando com uma negraMaria Pereira chamou a diretora da escola para tentar acabar com a festa, mas depois desistiu
“Segundo essas pessoas que nos procuraram, a mulher desistiu e falou que só não fez nada em respeito à diretora”, explica Amadeus PimentaPara ele, o fato de a mulher voltar na escola para fazer as ofensas foi todo planejado“Isso mostra que foi um ato criminoso, mostra que ela planejou ir ao colégio apenas para fazer os xingamentos”, indagou

A família da garota verbalmente agredida pretende pedir indenização na Justiça“Vamos abrir um processo na esfera criminal e na cível contra a avó do garotoVamos pleitear uma indenização reparadora por danos psicológicos, materiais e educacionais da criança”, explica o advogadoUm outro processo será aberto contra a diretora e contra a escola“Queremos que o registro da escola seja reavaliado, pois pelo modo que está funcionando está em desacordo com a lei”.