Jornal Estado de Minas

Centro terapêutico de Unaí onde pacientes eram torturados é interditado pela Justiça

Segundo, investigações do Ministério Público pacientes eram torturados e agredidos no local, que funcionava ilegalmente como clínica psiquiátrica

João Henrique do Vale
Uma comunidade terapêutica que funcionava ilegalmente como clínica psiquiátrica em Unaí, Região Noroeste de Minas Gerais, foi interditada provisoriamente
A Justiça deferiu uma liminar impetrada pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) que instaurou um inquérito para investigar o casoDurante as apurações, foi constatado que pacientes sob custódia da clínica eram agredidos fisicamente no localFuncionários chegaram a torturar pessoas utilizando choque elétricos

Com a decisão da Justiça, o centro está proibido de admitir novos pacientesTambém ficou determinado que os internos sejam entregues aos familiares ou responsáveis legais.

Segundo o MPMG, as investigações começaram em março deste ano após a promotoria da cidade ter acesso a um boletim de ocorrência que relatava a agressão sofrida por um dos internos por parte do proprietário do local e por monitores, que também são pacientes em tratamento.  A vítima foi ouvida e afirmou que outro interno estava sofrendo torturasO adolescente também foi ouvido e confirmou os relatos“Os pacientes eram agredidos com chutes, socos, como castigo por comportamento 'impróprios'A tortura foi identificada com relação a apenas um dos interno, e consistiu, em tese, em choques, tendo sido colocados os pés da pessoa dentro de uma bacia com água e colocados fios elétricos na água”, afirma a promotoria de Justiça Andréa Barcelos, autora da Ação Civil Pública.

Um relatório da Vigilância Sanitária constatou que a clínica, que tem capacidade para 28 pessoas com transtornos decorrentes do uso de substâncias psicoativas, estava com 43 internosOutras irregularidades constatadas foram a falta de uma equipe mínima de médicos e enfermeiros especializados, a aplicação forçada e a falta de controle adequado de medicamentos e a internação involuntária sem autorização legal para isso.

Segundo a promotora, a clínica tinha autorização para funcionar apenas como comunidade terapêutica, que somente deve trabalhar com internações voluntárias, tendo o tratamento por base os 12 passos do Narcóticos AnônimosPorém, realiza internações involuntárias (contra a vontade do paciente), sem prévio encaminhamento médico
O local funcionava como uma clínica psiquiátrica, sem autorização e contrariando a lei antimanicomial (Lei 10.216/01).

O MP ainda vai ouvir mais pessoas envolvidas no caso, pois após a veiculação de notícias sobre as agressões, outros informações de internos agredidos na clínica chegaram até a promotoriaAs vítimas serão interrogadas e os depoimentos serão juntados a ação