Jornal Estado de Minas

Mulher nega que tenha xingado aluna de "preta horrorosa" dentro de escola

A suspeita prestou depoimento em Contagem, na Grande BH, por cerca de uma hora

João Henrique do Vale Flávia Ayer

Durante o depopimento a suspeita se referiu a garoto como "moreninha" - Foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press

 

A mulher suspeita de xingar de “negra, preta horrorosa e feia” uma menina de 4 anos dentro de uma escola de Contagem, na Grande BH, negou que tenha ofendido a garota Maria Pereira Campos da Silva foi ouvida pelo delegado responsável pelo caso, Juarez Gomes, da 4ª Delegacia de Contagem , por cerca de uma horaDurante o depoimento, segundo o delegado, a suspeita chegou a se referir a criança xingada como moreninha“Ela negou os fatosFoi um depoimento normal de pessoas que cometem o ato e não assumemO primeiro passo é negar”, informou Juarez Gomes

A mulher chegou à delegacia sozinha por volta das 16hMuito agressiva, ela negou que seria a responsável pelas agressões verbais contra a garotaPor volta das 17h, ela deixou o local e foi embora a pé Durante a semana o delegado deve ouvir uma outra professora da escola e também vai pedir a ajuda do Conselho Tutelar e órgãos protetivos para colher o depoimento da criança. 

A diretora da escola, Joana Reis Belvino, também foi ouvida pelo delegado na tarde desta segunda-feiraA mulher afirmou que desconhecia a razão da demissão da professora que flagrou a cena

Para ela, o motivo do desligamento da educadora da instituição de ensino teria sido por causa de uma discussão com a avóJoana falou que ficou sabendo do caso depois de ter sido procurada pela imprensa.

Na manhã desta segunda-feira, a professora Denise Cristina Pereira Aragão, de 34 anos, que presenciou o xingamento, e a mãe da criança, Fátima Viana Souza prestaram depoimentoO delegado Juarez Gomes informou que deve autuar a suspeita por injúria qualificadaPara ele, não ficou configurado o racismoJuarez entende que houve uma ofensa em razão da cor de pela da criança, mas o racismo seria confirmado caso a aluna fosse impedida de dançar na festa ou se matricular na escolaPortanto, Gomes pode autuar Maria Pereira por injúria qualificada, de acordo com o parágrafo 3 do artigo 140 do Código Penal

O caso começou em 7 de julhoA menina dançou quadrilha com o neto de Maria Pereira da Silva, no Centro de Educação Infantil Emília, em ContagemConforme consta no boletim de ocorrência, no dia 10, a avó invadiu a escola aos gritos querendo saber porque o neto havia dançado com uma negra.  A professora Denise presenciou tudo e relatou à diretoriaIndignada com a atitude da dona e da diretora da escola, que não tomou providências para defender a aluna e tentou abafar o caso, Denise pediu demissão
Ela contou o fato para a família, que registrou boletim de ocorrência

Pais da garota compareceram à delegacia - Foto: Jair Amaral/EM/D.A.PressO advogado que defende a família da menina concorda com a atitude do delegado, mas diz que novas testemunhas podem mudar o rumo das investigações“Conversei com o delegado e, com os indícios que ele tem em mãos, realmente tem que qualificar como injúriaTestemunhas serão ouvidas durante a semanaElas afirmam que a avó do garoto tentou acabar com a festa juninaE isso caracteriza racismo”, diz o defensor Amadeus Carlos de Miranda Pimenta

Testemunhas procuraram a organização não governamental SOS Racismo, onde o advogado trabalha, para relatar que no dia da festa, a mulher ficou revoltada ao ver o neto dançando com uma negraMaria Pereira chamou a diretora da escola para tentar acabar com a festa, mas depois desistiu“Segundo essas pessoas que nos procuraram, a mulher desistiu e falou que só não fez nada em respeito à diretora”, explica Amadeus PimentaPara ele, o fato de a mulher voltar na escola para fazer as ofensas foi todo planejado“Isso mostra que foi um ato criminoso, mostra que ela planejou ir ao colégio apenas para fazer os xingamentos”, indagou

A família da garota verbalmente agredida pretende pedir indenização na Justiça“Vamos abrir um processo na esfera criminal e na cível contra a avó do garotoVamos pleitear uma indenização reparadora por danos psicológicos, materiais e educacionais da criança”, explica o advogadoUm outro processo será aberto contra a diretora e contra a escola“Queremos que o registro da escola seja reavaliado, pois pelo modo que está funcionando está em desacordo com a lei”