A mulher suspeita de xingar de “negra, preta horrorosa e feia” uma menina de 4 anos dentro de uma escola de Contagem, na Grande BH, negou que tenha ofendido a garota. Maria Pereira Campos da Silva foi ouvida pelo delegado responsável pelo caso, Juarez Gomes, da 4ª Delegacia de Contagem , por cerca de uma hora. Durante o depoimento, segundo o delegado, a suspeita chegou a se referir a criança xingada como moreninha. “Ela negou os fatos. Foi um depoimento normal de pessoas que cometem o ato e não assumem. O primeiro passo é negar”, informou Juarez Gomes.
A mulher chegou à delegacia sozinha por volta das 16h. Muito agressiva, ela negou que seria a responsável pelas agressões verbais contra a garota. Por volta das 17h, ela deixou o local e foi embora a pé. Durante a semana o delegado deve ouvir uma outra professora da escola e também vai pedir a ajuda do Conselho Tutelar e órgãos protetivos para colher o depoimento da criança.
A diretora da escola, Joana Reis Belvino, também foi ouvida pelo delegado na tarde desta segunda-feira. A mulher afirmou que desconhecia a razão da demissão da professora que flagrou a cena. Para ela, o motivo do desligamento da educadora da instituição de ensino teria sido por causa de uma discussão com a avó. Joana falou que ficou sabendo do caso depois de ter sido procurada pela imprensa.
O caso começou em 7 de julho. A menina dançou quadrilha com o neto de Maria Pereira da Silva, no Centro de Educação Infantil Emília, em Contagem. Conforme consta no boletim de ocorrência, no dia 10, a avó invadiu a escola aos gritos querendo saber porque o neto havia dançado com uma negra. A professora Denise presenciou tudo e relatou à diretoria. Indignada com a atitude da dona e da diretora da escola, que não tomou providências para defender a aluna e tentou abafar o caso, Denise pediu demissão. Ela contou o fato para a família, que registrou boletim de ocorrência.
O advogado que defende a família da menina concorda com a atitude do delegado, mas diz que novas testemunhas podem mudar o rumo das investigações. “Conversei com o delegado e, com os indícios que ele tem em mãos, realmente tem que qualificar como injúria. Testemunhas serão ouvidas durante a semana. Elas afirmam que a avó do garoto tentou acabar com a festa junina. E isso caracteriza racismo”, diz o defensor Amadeus Carlos de Miranda Pimenta.
Testemunhas procuraram a organização não governamental SOS Racismo, onde o advogado trabalha, para relatar que no dia da festa, a mulher ficou revoltada ao ver o neto dançando com uma negra. Maria Pereira chamou a diretora da escola para tentar acabar com a festa, mas depois desistiu. “Segundo essas pessoas que nos procuraram, a mulher desistiu e falou que só não fez nada em respeito à diretora”, explica Amadeus Pimenta. Para ele, o fato de a mulher voltar na escola para fazer as ofensas foi todo planejado. “Isso mostra que foi um ato criminoso, mostra que ela planejou ir ao colégio apenas para fazer os xingamentos”, indagou.
A família da garota verbalmente agredida pretende pedir indenização na Justiça. “Vamos abrir um processo na esfera criminal e na cível contra a avó do garoto. Vamos pleitear uma indenização reparadora por danos psicológicos, materiais e educacionais da criança”, explica o advogado. Um outro processo será aberto contra a diretora e contra a escola. “Queremos que o registro da escola seja reavaliado, pois pelo modo que está funcionando está em desacordo com a lei”.