Eleitos os principais fatores de risco, esses componentes foram analisados para que se avaliasse o peso de cada um como causa de desastres em geral e daqueles envolvendo apenas motociclistas. O resultado é que o excesso de velocidade esteve presente em 23,5% dos fatores relevantes no conjunto dos acidentes. A soma do que foi considerado comportamento inadequado de motociclistas, jovens condutores (18 a 29 anos), pedestres e ciclistas chegou a 44,8%.
A OMS promove o Projeto Vida no Trânsito nos 10 países em desenvolvimento e pobres com maiores índices de acidentes. No continente americano, os escolhidos foram Brasil e México. Duas cidades de cada país recebem financiamento e apoio. “Como no Brasil os acidentes são tratados como epidemia, o Ministério da Saúde escolheu mais três cidades, para que cada uma das cinco regiões estivesse representada. Belo Horizonte foi indicada no Sudeste, por ter os piores índices de acidentes com vítimas da região”, disse a diretora de Informação e Atendimento da BHTrans, Jussara Bellavinha.
O perigo não é menor na Avenida Cristiano Machado, onde as dimensões, o fluxo e os radares, com limites de 60 km/h e 70 km/h, fazem com que o motorista desenvolva menor velocidade. Ainda assim, entre as 13h55 e as 14h de ontem, a reportagem calculou que em meio aos 61 km/h médios dos veículos que passavam pelo Bairro Floramar, na Região Norte, 12 aceleravam acima dos 80 km/h. Os mais rápidos foram um motociclista e o condutor de um Golf, que chegaram a 99 km/h.
Faltam fiscais
O perito criminal Marcos Massaglim, professor de trânsito nas academias das polícias Civil e Militar, culpa a falta de fiscalização pelos abusos. “Temos poucos agentes de trânsito nas ruas. São 800 com poder de multa para inibir os irresponsáveis. Com o sentimento de impunidade, os motoristas entram em seus carros ou sobem nas motos sem se preocupar com os demais cidadãos”, aponta.
Não é à toa que a imprudência aparece com destaque entre os principais fatores de risco levantados pelo Projeto Vida no Trânsito, principalmente entre os motociclistas (17,4%) e jovens (15,6%). Segundo a diretora Jussara Bellavinha, a alta incidência de envolvimento desses segmentos em acidentes com vítimas explica a necessidade de medir sua participação entre os principais fatores de risco. “Os jovens de 18 a 29 anos representaram 41% das vítimas. Por isso era importante saber sua participação nos acidentes”, afirma a representante da BHTrans. O mesmo, de acordo com ela, foi feito para medir a importância dos motociclistas, considerando também que a alta velocidade aparece como fator de risco importante para mortes e ferimentos graves entre os que pilotavam motos.
“Na moto, também, vemos pessoas muito jovens se ferindo com gravidade e morrendo. Em primeiro lugar, porque é um veículo acessível a quem é mais novo e está começando”, afirma o perito Marcos Massaglim. “O número de inabilitados é grande. Basta ver que temos mais motos do que habilitados na categoria A”, acrescenta a diretora da BHTrans, explicando que o comportamento considerado inadequado para a pesquisa envolve atitudes como ultrapassagens proibidas, ziguezague entre carros e conversões não permitidas.