Depois de quatro assaltos, uma decisão: mudar de endereço
Nessa quinta-feira, a sensação de insegurança na rua era a mesmaOs moradores instalaram uma guarita no início da via, com vigilância também feita por motociclista“Somos três trabalhando dia e noiteOs moradores arrecadam dinheiro e pagam o nosso patrão”, disse o vigilante Reiner de Souza, de 30Na rua, todas as casas têm cercas elétricas e alarmes e, mesmo assim, ninguém se sente seguro“Temos alarmes, cercas e cães de guardaQuando viajamos, deixamos alguém tomando conta da casa”, afirmou uma mulher que não quis se identificar
Vigilância
Moradores da Rua João Camilo de Oliveira Torres, também no Mangabeiras, pagam pela vigilância particular há 20 anosEles mandaram, inclusive, construir uma guarita na Praça Angelino Bruschi, que dá acesso à ruaUm morador que não quis se identificar conta que os vizinhos ainda não foram procurados pela PM, mas que a prefeitura tem mandado recolher os cones colocados no meio da rua
Moradores fazem coro contra ação
Se a ação da Polícia Militar ao coibir a segurança privada divide opiniões entre representantes de associações comunitárias no Bairro Mangabeiras, na Rua Comendador Viana, onde ocorreu a fiscalização, a reclamação parece ser a tônica entre moradores“É um absurdoA PM acaba com a nossa segurança e ela mesma não aparece por aquiEstamos sem ninguém, entregues à nossa própria sorte”, reclama a advogada Patrícia Biagione, de 68 anos
O engenheiro químico Marcos Golgher, de 70, faz parte da diretoria da associação dos moradores da Comendador Viana e ontem foi à 127ª Companhia pedir reforço no policiamento“A situação está complicadaVocê não tem segurança e a PM não tem condições de dar proteção”, reclamouOs moradores vão se reunir no próximo dia 2, na Igreja São João Evangelista, para discutir o problema“Procuramos saber da PM se os dois vigilantes que trabalham para nós tinham ficha criminal, mas eles não têmE eles nem trabalham armados”, disse o engenheiro, afirmando que a Polícia Militar participou da reunião quando a comunidade decidiu contratar segurança privada, há três anos.
Outro engenheiro de 52 anos, que pede anonimato, conta que a associação de moradores da rua foi criada quando começaram os assaltos e furtos “Tomamos medidas defensivas de vigilânciaAtualmente, tínhamos ronda de duas pessoas em motocicletas numa extensão de 750 metros, o dia inteiro, indo e voltandoVocê chegava à noite, telefonava e eles davam apoio na hora de abrir a garagemOs seguranças não resolveram totalmente a questão, mas houve redução dos crimes, mesmo havendo um problema dessa natureza na semana passada”, conta o engenheiro, referindo-se ao assalto na casa do vizinho.
O morador reconhece que a atividade dos vigilantes da rua era clandestina, mas argumenta: “Entendo que, se o poder público não oferece segurança de que você necessita, você tem que ter os meios para deter a violênciaMas a ação nos privou da proteção privada que tínhamosÉ importante dizer que não era segurança armada, que deveria realmente ter autorização da Polícia FederalEra apenas uma escolta para acompanhar os carros e acho que o ladrão pensa duas vezes antes de enfrentar mais de uma pessoa”, acrescentouSegundo ele, cada morador contribuía com R$ 200 mensais para pagamento da vigilância“Todo mundo agora está com medoEstou indo viajar preocupado em deixar minha mãe idosa sozinhaMinha casa tem câmeras de vigilância, alarmes, uma série de equipamentos, mas não temos mais o apoio que tínhamos dia e noite com a motocicleta passando na rua”, disse.
Além da PM, a prefeitura também tem marcado presença na Rua Comendador Viana“Fomos procurados por fiscais e a ordem é para retirar da calçada a guarita que instalamos há 20 anosEla servia de apoio para os vigilantes”, disse o engenheiro Marcos Golgher “Como sou da diretoria da associação, conseguimos protelar a retirada da guarita por 180 dias”, disse o engenheiro“Evito sair à noite Agora, até durante o dia tenho medoO assalto da semana passada foi às 7h30 da manhãA vítima quer vender a casa e sumir daqui”, disse
A advogada Patrícia Coutinho, de 34, ficou surpresa com a proibição da PM“Não consigo acreditarSe mesmo pagando segurança particular a gente teve assalto, sem os seguranças e a presença da PM, a situação só pode piorar”, criticou.
PONTO CRÍTICO: segurança privada é a solução para se proteger?
NÃO: “Segurança privada somente funciona bem quando há a segurança pública bem estruturadaÉ uma atividade suplementarTodas as pesquisas e estudos sobre segurança particular têm demonstrado que a sua eficiência está relacionada a ações integradas com a polícia, a qualificação dos agentes privados e mecanismos de controle, para que possam agir dentro da leiCaso contrário, estaremos criando um exército particular, o que não é permitido numa sociedade democráticaÉ função dos agentes da segurança pública cuidar dos interesses coletivosO serviço contratado deve ficar restrito à proteção do patrimônio privadoMuitas vezes, os agentes da segurança pública devem intervir, porque empresas não estão devidamente registradas, legalizadas, e não têm pessoal treinado e equipamento para atuar na segurança do espaço públicoMuitas vezes, impedem a livre circulação nas ruas e constrangem pessoas que usam esses espaços, o que é ilegal.”
Robson Sávio Reis Souza, Professor da PUC Minas e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
SIM: “Estamos agora sem a vigilânciaA PM, em vez de correr atrás de bandidos, está prendendo os motoqueiros que fazem a nossa segurança, solicitando a remoção das guaritas e falando que estamos usurpando a autoridade públicaNossa sugestão é que a prefeitura cadastre essa vigilância não armada, assim como fez com os tomadores de conta de veículos, para levantar a ficha criminal dessas pessoasSabemos que nem todo mundo é do bem, existe todo o tipo de profissional em todas as áreas, mas o problema é que se generalizou tanto em relação aos vigilantes particulares que está havendo uma caça às bruxasO dono da empresa que contratamos tem mais de 500 profissionais fazendo esse tipo de trabalho em Belo HorizonteA PM fala que é o vigilante que precisa ser cadastrado na Polícia Federal, mas no nosso caso não se trata de segurança armadaEles estão lá apenas para coibir a presença de estranhos.”
José Alfredo Mendonça, Presidente da Associação dos Moradores da Rua Comendador Viana (Amcon)