Pelo celular, o tenente Cristian Coelho, do Corpo de Bombeiros, atendia ocorrências e coordenava ações na Avenida dos Andradas no fim da manhã de quinta-feiraChamadas de emergência se acumulavam, mas ele e outros dois militares não podiam atendê-lasTinham de ficar parados, ocupando a pista da direita, enquanto aguardavam a chegada da Polícia Militar para registrar um acidenteA vítima, um motociclista que bateu na mureta de concreto do Ribeirão Arrudas, tinha até sido removida“Temos de esperar a PM”, resignou-se o oficialCones e a viatura ficaram por uma hora na avenida, deixando o trânsito lento no movimentado cruzamento com a Rua Itaituba, no Bairro EsplanadaNo dia anterior, um acidente na BR-356 já havia provocado lentidão na Avenida Raja Gabaglia e no entorno do Bairro Belvedere e do BH ShoppingNesse caso, o problema foi a demora de peritos criminais: a batida que provocou a morte de um motociclista ocorreu por volta das 7h40, mas a pista só foi liberada mais de três hora depois.
Os dois casos expõem um problema que contribui para congestionamentos na capitalNão bastasse o aumento médio de 6% ao mês da frota, que já chega a 1,4 milhão de veículos, a demora no atendimento de acidentes complica ainda mais a fluidez do trânsito belo-horizontinoQuanto mais tardam peritos criminais, policiais de trânsito ou socorristas, mais tempo os veículos ficam parados no local em que se acidentaramDe acordo com a diretora de informação e atendimento da BHTrans, Jussara Bellavinha, uma batida entre moto e carro, por exemplo, pode provocar até quatro horas de lentidão em vias de grande movimento
Os profissionais que atuam em acidentes reconhecem problemasDepois de os bombeiros terem ficado uma hora parados na Avenida dos Andradas, enfim uma viatura do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran) apareceu, com dois policiaisPerguntado sobre eventuais problemas de tráfego ou excesso de chamadas, um dos militares revelou que o principal gargalo é a falta de efetivo para atender a acidentes“Só temos dois policiais para atender cada área de BatalhãoDois para o 22º Batalhão (Região Centro-Sul), dois para a área do 5º Batalhão (Região Oeste)Aí, o que acontece é que as pessoas não tiram os carros da pista e vão congestionando o trânsito”, disse o militar, na condição de não ter o nome reveladoUma análise do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran) sobre 954 atendimentos a batidas dá dimensão do problemaEm 54% dos casos, os policiais levaram mais de 30 minutos para chegar ao local.
Perícia engarrafada Peritos também admitem dificuldadesSegundo o sindicato da categoria, há apenas dois profissionais por cada turno de 12 horas para atender a todos os acidentes na cidadeOs peritos são acionados em caso de acidentes com vítimas graves, mortes e crimes de trânsito
Os reflexos desses problemas afetam quem se acidente e quem está no trânsitoNo acidente de quarta-feira, no Olhos D’Água, Anilson Lúcio Luiz Pereira, 26 anos, morreu quando sua moto foi atingida por um ônibusO amigo dele, Jonathan Lee Fernandes, de 20, que seguia numa motocicleta à frente, conta que a perícia levou duas horas para chegar e a Polícia Militar, e mais 40 minutos para liberar o veículo“Foi muito tempo esperando naquela situação complicada de morte de uma amigo”, lamentaPor causa do acidente, o trânsito fluiu apenas pelo acostamento da BR-356, no sentido RioNa Avenida Nossa Senhora do Carmo, o congestionamento se estendeu até à curva do Ponteio Lar ShoppingNo sentido contrário da BR-356 também houve filasO trânsito ficou lento também no Bairro Belvedere, na MG-030, na Avenida Raja Gabaglia e em todo o entorno do BH Shopping, por cerca de quatro horas(Colaborou Guilherme Paranaiba)