Ouro Preto – Você sabe o que é cariru arnica? Já comeu umbigo de banana com torresmo? E broa de melado? Alguma vez sentiu o gostinho do bolo recém-saído do forno? Pois essas e outras delícias da culinária, algumas que remetem aos tempos coloniais, são típicas do distrito de Santo Antônio do Salto, a 35 quilômetros da sede do município, passando por Lavras Novas. Na bucólica comunidade, de 1,7 mil habitantes, com muita gente aparentada, famílias inteiras preservam as tradições à mesa e transformam as plantas do quintal em pratos nutritivos, apresentados, todos os anos, num festival de comida e cultura. Dia 19, das 8h às 20h, esse patrimônio gastronômico poderá ser apreciado sob barracas de bambu e cobertas de folhas de pita, num charme a mais para atiçar o paladar e aguçar os sentidos.
Neste ano, o Festival de Cultura e Culinária Típica de Santo Antônio do Salto, em sua nona versão, terá um complemento especial. Por iniciativa das quituteiras do distrito, foi publicado um livreto com 12 receitas. Nas páginas coloridas da publicação estão o cariru arnica, conhecido em outras regiões como capiçoba, meio parecido com a mostarda e servido de refogado; o tutu de feijão com carne de panela; feijão tropeiro, “mais socado”, com um ovo frito por cima, apelidado de “zoiudo”, e couve picada bem fininha; pudim de mandioca, tubérculo muito comum no interior mineiro; mingau de couve com costelinha suína; costelinha com ora-pro-nobis; compota de figo; pé de moleque; broa de melado; e feijoada caipira.
O trabalho conta com apoio da Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop), prefeitura local, Agência de Desenvolvimento Econômico e Social de Ouro Preto (Adop) e iniciativa privada, tem realização do Grupo de Quituteiras do Salto e Associação Comunitária de Santo Antônio do Salto (Asas) e lançamento no dia 9, às 19h, na Casa de Gonzaga, no Centro Histórico de Ouro Preto.
A dona de casa Elice Gomes Martins, de 73 anos, conhecida como dona Nicinha, tem grande intimidade com as panelas, temperos, plantas nativas e o modo de preparar cada uma. Diante do fogão a lenha, ela conta que a maior parte dos pratos é acompanhada de angu. “A carne suína é presença forte na nossa região. E é saborosa demais. Nos quintais, sempre tem um porquinho para engorda”, afirma Elice, enquanto mexe a panela de pedra. Pelo distrito, lembra, passaram os célebres tropeiros e daí ficaram as receitas recheadas de história, que ainda agradam moradores e visitantes.
No livreto, Elice mostra sua compota de figos, que ficam “verdinhos”, iguais aos do pé. “Aprendi com a minha avó Emília Barreto, em Congonhas, e posso dizer que o segredo de qualquer prato vem de dois fatores: muito asseio no preparo e gostar do que se faz. Aí, não tem erro”, conta a cozinheira com um sorriso. Ao lado, a filha Eliane Aparecida Martins Mota, casada, mãe de dois filhos e com um neto, faz coro às palavras de dona Nicinha e informa sobre outra característica importante do distrito. “A nossa horta não tem agrotóxico, é orgânica mesmo. As pessoas da cidade vão ter contato com ingredientes bem diferentes do dia a dia, como o umbigo de banana, que é o chamado ‘coração’. Tudo isso ao som da banda de música, com premiação, venda de artesanato e outras atrações da terra”, afirma.
Eliane destaca a relevância do livreto, lembrando que o grupo já tem material para mais duas edições. “Decidimos incluir agora as comidas mais pedidas pelas pessoas que visitam Santo Antônio do Salto. A feijoada é uma delas. Na hora de fazer a nossa, só não aproveitamos o ronco do porco”, brinca Eliane, que assina a receita do umbigo de banana com torresmo. A obra tem a participação das cozinheiras Heloísa de Fátima Moutinho, Silvane Muniz, Viviane Martins, Maria das Dores Moutinho, Maria Aparecida Moutinho, Rosângela Xavier Moutinho, Cristina Maria Mota Xavier, Efigênia José Moutinho da Purificação, Hosana Xavier da Purificação Azevedo, Almerinda dos Reis Faria e Margarida Bernardo Mota e foi produzida por Vânia Amaral e Eliane Mota.
Natureza do sabor
Santo Antônio do Salto se destaca pela exuberante natureza com cânion, matas, rios e cachoeiras, atrativos para o turismo ecológico e de aventura. “Os sabores vêm das hortas orgânicas, da pureza dos ingredientes, dos fogões a lenha, das panelas de pedra, da hábil mão que cultiva e prepara os mais festejados e autênticos pratos da gastronomia ouro-pretana. Todo esse patrimônio imaterial precisava ser registrado e agora ganhamos o livreto que comunga tudo isso”, diz o prefeito Angelo Oswaldo.
A Faop se encarregou da produção e confecção do livreto, sendo responsável pelo projeto gráfico, diagramação, edição, revisão e grande parte das fotografias. Para a presidente Ana Pacheco, parcerias e ações conjuntas geram bons resultados: “O livreto representa também um resgate da cultura e da gastronomia locais. A arte da culinária é uma das mais significativas tradições mineiras e deve ser preservada e divulgada. É o que fazemos agora com o Salto”.
EXPERIMENTE
BROA DE MELADO
Ingredientes
2 copos (americano) de melado
2 copos (americano) de leite
2 copos (americano) de fubá
1 copo (americano) de farinha de trigo
3 ovos
2 colheres (sopa) de manteiga
1 colher (sopa) de fermento em pó para bolo
Queijo
Preparo
Misture todos os ingredientes em uma tigela e amasse até ficar uma mistura bem leve. Coloque a massa em uma fôrma grande redonda, untada com óleo ou manteiga (margarina), e leve ao forno quente até que fique dourada.
* Receita de Efigênia José Moutinho da Purificação e Hosana Xavier da Purificação Azevedo, publicada em Santo Antônio do Salto – Cultura e culinária típica
ENQUANTO ISSO...
...o valor dos ofícios
Estará em cartaz até sábado, na Galeria de Arte Nello Nuno, da Faop, em Ouro Preto, a exposição Mestres do Futuro/Estrada Real. A mostra é resultado de um projeto sociocultural voltado para os jovens e visa a preservação de ofícios em desuso, o respeito ao conhecimento e a valorização do trabalho e aprendizagem. O projeto realizou oficinas em 10 localidades da Estrada Real e contou com a participação de mestres em cultura regional, incluindo folguedo, escultura em madeira e pedra sabão, tapete arraiolo, tear, cantaria, sineiro, selaria, artesanato em palha e em cerâmica. Depois de Ouro Preto, a exposição segue para São João del-Rei, Mariana e Conselheiro Lafaiete. São Paulo (SP) e Belo Horizonte estarão no circuito, embora sem data marcada. A Galeria Nello Nuno (Rua Alvarenga Peixoto, 694, no Bairro Cabeças) abre de segunda a sexta-feira, das 12h às 18h, e aos sábados, das 9h às 14h. A realização é da empresa Kavantan e Associados, com apoio do Ministério da Cultura, Faop e Secretaria de Cultura de Minas Gerais.
Neste ano, o Festival de Cultura e Culinária Típica de Santo Antônio do Salto, em sua nona versão, terá um complemento especial. Por iniciativa das quituteiras do distrito, foi publicado um livreto com 12 receitas. Nas páginas coloridas da publicação estão o cariru arnica, conhecido em outras regiões como capiçoba, meio parecido com a mostarda e servido de refogado; o tutu de feijão com carne de panela; feijão tropeiro, “mais socado”, com um ovo frito por cima, apelidado de “zoiudo”, e couve picada bem fininha; pudim de mandioca, tubérculo muito comum no interior mineiro; mingau de couve com costelinha suína; costelinha com ora-pro-nobis; compota de figo; pé de moleque; broa de melado; e feijoada caipira.
O trabalho conta com apoio da Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop), prefeitura local, Agência de Desenvolvimento Econômico e Social de Ouro Preto (Adop) e iniciativa privada, tem realização do Grupo de Quituteiras do Salto e Associação Comunitária de Santo Antônio do Salto (Asas) e lançamento no dia 9, às 19h, na Casa de Gonzaga, no Centro Histórico de Ouro Preto.
A dona de casa Elice Gomes Martins, de 73 anos, conhecida como dona Nicinha, tem grande intimidade com as panelas, temperos, plantas nativas e o modo de preparar cada uma. Diante do fogão a lenha, ela conta que a maior parte dos pratos é acompanhada de angu. “A carne suína é presença forte na nossa região. E é saborosa demais. Nos quintais, sempre tem um porquinho para engorda”, afirma Elice, enquanto mexe a panela de pedra. Pelo distrito, lembra, passaram os célebres tropeiros e daí ficaram as receitas recheadas de história, que ainda agradam moradores e visitantes.
No livreto, Elice mostra sua compota de figos, que ficam “verdinhos”, iguais aos do pé. “Aprendi com a minha avó Emília Barreto, em Congonhas, e posso dizer que o segredo de qualquer prato vem de dois fatores: muito asseio no preparo e gostar do que se faz. Aí, não tem erro”, conta a cozinheira com um sorriso. Ao lado, a filha Eliane Aparecida Martins Mota, casada, mãe de dois filhos e com um neto, faz coro às palavras de dona Nicinha e informa sobre outra característica importante do distrito. “A nossa horta não tem agrotóxico, é orgânica mesmo. As pessoas da cidade vão ter contato com ingredientes bem diferentes do dia a dia, como o umbigo de banana, que é o chamado ‘coração’. Tudo isso ao som da banda de música, com premiação, venda de artesanato e outras atrações da terra”, afirma.
Eliane destaca a relevância do livreto, lembrando que o grupo já tem material para mais duas edições. “Decidimos incluir agora as comidas mais pedidas pelas pessoas que visitam Santo Antônio do Salto. A feijoada é uma delas. Na hora de fazer a nossa, só não aproveitamos o ronco do porco”, brinca Eliane, que assina a receita do umbigo de banana com torresmo. A obra tem a participação das cozinheiras Heloísa de Fátima Moutinho, Silvane Muniz, Viviane Martins, Maria das Dores Moutinho, Maria Aparecida Moutinho, Rosângela Xavier Moutinho, Cristina Maria Mota Xavier, Efigênia José Moutinho da Purificação, Hosana Xavier da Purificação Azevedo, Almerinda dos Reis Faria e Margarida Bernardo Mota e foi produzida por Vânia Amaral e Eliane Mota.
Natureza do sabor
Santo Antônio do Salto se destaca pela exuberante natureza com cânion, matas, rios e cachoeiras, atrativos para o turismo ecológico e de aventura. “Os sabores vêm das hortas orgânicas, da pureza dos ingredientes, dos fogões a lenha, das panelas de pedra, da hábil mão que cultiva e prepara os mais festejados e autênticos pratos da gastronomia ouro-pretana. Todo esse patrimônio imaterial precisava ser registrado e agora ganhamos o livreto que comunga tudo isso”, diz o prefeito Angelo Oswaldo.
A Faop se encarregou da produção e confecção do livreto, sendo responsável pelo projeto gráfico, diagramação, edição, revisão e grande parte das fotografias. Para a presidente Ana Pacheco, parcerias e ações conjuntas geram bons resultados: “O livreto representa também um resgate da cultura e da gastronomia locais. A arte da culinária é uma das mais significativas tradições mineiras e deve ser preservada e divulgada. É o que fazemos agora com o Salto”.
EXPERIMENTE
BROA DE MELADO
Ingredientes
2 copos (americano) de melado
2 copos (americano) de leite
2 copos (americano) de fubá
1 copo (americano) de farinha de trigo
3 ovos
2 colheres (sopa) de manteiga
1 colher (sopa) de fermento em pó para bolo
Queijo
Preparo
Misture todos os ingredientes em uma tigela e amasse até ficar uma mistura bem leve. Coloque a massa em uma fôrma grande redonda, untada com óleo ou manteiga (margarina), e leve ao forno quente até que fique dourada.
* Receita de Efigênia José Moutinho da Purificação e Hosana Xavier da Purificação Azevedo, publicada em Santo Antônio do Salto – Cultura e culinária típica
ENQUANTO ISSO...
...o valor dos ofícios
Estará em cartaz até sábado, na Galeria de Arte Nello Nuno, da Faop, em Ouro Preto, a exposição Mestres do Futuro/Estrada Real. A mostra é resultado de um projeto sociocultural voltado para os jovens e visa a preservação de ofícios em desuso, o respeito ao conhecimento e a valorização do trabalho e aprendizagem. O projeto realizou oficinas em 10 localidades da Estrada Real e contou com a participação de mestres em cultura regional, incluindo folguedo, escultura em madeira e pedra sabão, tapete arraiolo, tear, cantaria, sineiro, selaria, artesanato em palha e em cerâmica. Depois de Ouro Preto, a exposição segue para São João del-Rei, Mariana e Conselheiro Lafaiete. São Paulo (SP) e Belo Horizonte estarão no circuito, embora sem data marcada. A Galeria Nello Nuno (Rua Alvarenga Peixoto, 694, no Bairro Cabeças) abre de segunda a sexta-feira, das 12h às 18h, e aos sábados, das 9h às 14h. A realização é da empresa Kavantan e Associados, com apoio do Ministério da Cultura, Faop e Secretaria de Cultura de Minas Gerais.