Um homem responsável, o amigo de todas as horas, uma pessoa alegre e de bem com a vida. Não foram poucas as palavras de elogio ao motorista de van Wellington Ribeiro de Faria, de 60 anos, morto na madrugada de ontem em decorrência de ferimentos múltiplos em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. No velório realizado no Cemitério Bosque da Esperança, no Bairro Jaqueline, na Região Norte da capital, parentes e amigos lamentaram a perda de Wellington, que era casado com Ieda, de 46, e tinha três filhas: Rebeca Raphaela, de 33, Emanuelle Cristina, de 29, e Mariana, de 15. “A paixão dele agora era o neto de 1 ano”, disse Rebeca, com emoção, ao lado do marido, Sandrei Bastos Nogueira, de 37, referindo-se ao primeiro filho do casal.
Inconformada com a perda e tocada pela emoção, a família se mostrou revoltada com a violência que motivou o atropelamento de Wellington pelo jovem de 18 anos. “Ele estava trabalhando e parou para ajudar as vítimas. Foi ao local de madrugada para buscar 10 jovens que foram a uma festa e o contrataram para evitar que dirigissem embriagados”, afirmou Sandrei, que é dono da empresa de locação de vans onde o sogro prestava serviço. Com os olhos cheios de lágrimas, Rebeca, condutora de transporte escolar, disse que quem sai dirigindo por aí, ameaçando vidas, “tem que ser preso”.
Eram 16h30 quando o caixão chegou ao velório 2 do cemitério, levado pelo veículo da Funerária São Cristóvão. Na mesma hora, chegou a mãe de Wellington, Débora Faria, de 83, que mora próximo à casa do motorista, no Bairro Palmares, Região Nordeste. Abraçada aos filhos e netos, soluçou baixinho: “Nunca imaginei que fosse passar por isso. Não tenho palavras”. Segundo amigos, Wellington ia todos os dias à casa da mãe tomar café e se orgulhava do amor que tinha por ela. Por isso mesmo sempre lhe dizia, contou o genro: “É, minha velha, sou o homem mais feliz por ter a senhora aqui”.
O amigo de infância Clóvis Reis, engenheiro, morador do Bairro Fernão Dias, na Região Nordeste, estava chocado com a morte de Wellington e pediu justiça. “Ele sempre foi expansivo, tranquilo. O bandido que fez isso tem que ser punido, é preciso justiça.” Já o comerciário Nelson de Oliveira, de 54, também residente no Fernão Dias e cunhado, destacou o caráter batalhador do motorista e considerou a morte dele um “assassinato”. Para Nelson, a família perdeu o seu “carro-chefe” numa situação “lamentável”. O sepultamento de Wellington será hoje, às 10h, no Bosque da Esperança.
Almoço
Famoso na família por gostar de juntar a mãe, filhas, o neto, sobrinhos e amigos em almoços, Wellington parecia estar se “despedindo” no sábado. “Ele me ligou e perguntou se eu queria comer frango com quiabo, meu prato predileto. Respondi que sim. Então cozinhou e nos convidou, todo satisfeito”, disse Sandrei, que tinha uma missão reservada para o sogro e funcionário na noite de ontem. “Ele viajaria para Alfenas, no Sul de Minas, às 22h45, para buscar uma van da empresa que ele tinha levado até lá com um grupo. Era muito cumpridor dos deveres”, afirmou, mostrando a passagem que trazia no bolso.
Em cada canto do velório, uma história de amizade e lembranças do homem que tinha 1,90m de altura e pesava 150 quilos. Amiga por mais de 50 anos, Ângela Magela de Oliveira Santos, moradora do Bairro São Paulo, na Região Norte, disse que foi aluna da mãe de Wellington na Escola Francisco Bressane de Azevedo. “Lembro-me dele sempre trabalhando, teve caminhão de areia. Também gostava de se divertir, dançar, fazer churrasco. Ainda estou assustada com essa tragédia”, comentou Ângela.
Testemunhas indignadas
A indignação das testemunhas com o triplo atropelamento provocado por Hudson Silva era visível nos depoimentos que deram na delegacia de plantão do Detran. “Ele acelerou o carro, acho que chegou a 80km/hora, veio reto e guinou propositadamente a para a direita em direção às pessoas. O fato não foi mais grave, pois alguns conseguiram sair da direção do veículo”, declarou à polícia o universitário G.M.D., de 19 anos.
A estudante A.M.A.D, de 16, que estava em frente à boate, também acredita que o motorista teve intenção de atropelar. “Ele arrancou cantando pneu. De repente, jogou o carro para a direita, onde estavam várias pessoas”, disse.
Amigo de infância de uma das vítimas, Marcelo Costa Lírio de Laia, de 26, viu tudo acontecer. Ele acompanhava o auxiliar administrativo Daniel Brandão. “A velocidade em que eles estavam era incompreensível” disse.“Acho um absurdo alguém morrer porque uma pessoa desequilibrada pelo álcool e pela raiva pode pegar o seu carro e sair fazendo vítimas que sequer faziam parte da história.”
"Achei que não fosse escapar"
O auxiliar administrativo Daniel Henrique Brandão, de 25 anos, é morador do Bairro Fernão Dias, na região Nordeste da Capital, e trabalha num escritório de advocacia. Uma dos sobreviventes do atropelamento em Nova Lima, ele foi atendido no Hospital João XXIII, onde ficou sob observação durante todo o dia, sendo liberado em seguida. Por telefone, ele falou ao EM sobre o susto.
Você estava bem próximo ao motorista da van. O que pensou quando viu tudo acontecer?
Só me lembro do carro subindo em alta velocidade, atropelando uma pessoa e, depois, descendo a rua acelerando. Rapidamente, ele atingiu o motorista da van e percebi que seria o próximo a ser atingido. Achei que não fosse escapar, mas ainda consegui reagir e me virar alguns centímetros. Aí o carro me pegou só de lado.
Você viu o condutor do veículo, sabe porque ele teria agido assim?
Não dá para entender o que aconteceu. Não vi nada na festa que pudesse justificar tal atitude. O carro dele estava todo apagado e ele guiava tão rápido que ninguém conseguiu anotar a placa.
E como você se sente depois do que ocorreu?
Estou traumatizado por ter presenciado essa cena de horror. Nunca mais vai sair da minha cabeça a imagem do motorista da van sendo jogado para o alto e caindo violentamente no chão. Ele sofreu muito e foi terrível vê-lo agonizando enquanto aguardava socorro. Fisicamente estou bem melhor. Sinto dor no lado da pancada, mas os exames revelaram que não houve nenhum trauma mais sério.