A violência na saída de boates e casas noturnas, que só nos últimos dois dias causou duas mortes na Grande BH, desafia empresários e levou a Polícia Militar a apresentar à iniciativa privada uma proposta controversa para conter a criminalidade e a mistura álcool e direção
Na madrugada de ontem, horas depois da tragédia em Nova Lima, a combinação entre álcool e volante causou mais uma vítima, desta vez na capitalUm jovem de 21 anos morreu em um acidente em que a condutora teria bebido antes de pegar a direçãoOs dados da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) também dão a dimensão do problema da violênciaSomente no ano passado, 61 boletins de ocorrência foram registrados por agressão e lesão corporal em casas noturnas e similares Os números podem ser ainda mais altos, já que as confusões por não pagamento de dívida não estão relacionadas e em boa parte dos casos a polícia não é acionada.
A implantação dos bafômetros na saída das casas noturnas, segundo o coronel, seria uma das medidas preventivas para intervir nas estatísticas de acidentes“Tivemos uma reunião com representantes do setor e sugerimos que alguns locais tivessem os etilômetros para que os motoristas possam avaliar se têm ou não condição de dirigir na hora de ir embora
intimidação Entre as vantagens de sugerir ao cliente a “consulta ao bafômetro”, o coronel afirma que a pessoa que apresentar nível de alcoolemia acima do permitido pode se sentir intimidada e optar por usar outro meio de transportePor outro lado, a casa também poderá adotar medidas de apoio para transporte do clienteQuanto à violência dentro ou na saída dos estabelecimentos, o coronel faz o alerta à população sobre a importância de denunciar
O presidente do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de BH (Sindhorbh), Paulo Pedrosa, vê com simpatia a ideia do bafômetro“Tudo o que pode ser feito para diminuir os acidentes e as confusões nos estabelecimentos são medidas bem recebidas por nós”, disseNo entanto, afirma que a iniciativa só pode ser aceita sem ônus ou obrigatoriedade para o empresário.
Já para o diretor-executivo da Abrasel, Lucas Pêgo, a medida é completamente desnecessária“Não concordo com a proposta, que inclusive já tentaram emplacar como lei federal
Segurança
Pêgo afirma ainda que, mesmo com esforço dos estabelecimentos em montar um aparato de segurança, tem sido difícil frear as ocorrências de violência nas casas noturnas“Por mais que o setor invista em segurança privada, câmeras e vigias, essas ferramentas só vêm ajudar no dever da polícia, que é de zelar pela segurança pública”, afirmaPaulo Pedrosa, do Sindhorb, também destaca a participação da segurança nas despesas dos empresários, quesito para o qual as empresas já relatam destinar cerca de 15% do orçamento.
Conta alta que o dono da casa de show no Alambique, Ademir Pinto, conhece bemO empresário afirma que desde 2002 teve uma mudança significativa no aparato de segurança da boateDe um porteiro, que entregava e recebia cartelas, passou para uma equipe de 25 a 30 pessoas“O aumento ocorreu porque mudamos o estilo musical, por causa da faixa etária que caiu e devido a uma expansão da casa”, disseO grupo que trabalha atualmente na boate é formado por guardiãs (mulheres), seguranças masculinos e brigadistas prontos para lidar com casos de excesso de álcool, brigas, primeiros socorros e confusões em geralAinda assim, precisa lidar com ocorrências em pelo menos metade dos dias em abre as portas“A casa funciona de terça a sábadoSão 20 dias por mêsPelo menos em 10 temos algum tipo de confusão”, conta o empresário que investiu R$ 60 mil no ano passado para compra de 35 câmeras de monitoramento eletrônico e detectores de metal para evitar a entrada de armas
De carona com o perigo
Atitudes como a de Hudson Eduardo Silva, de 18 anos, ao dirigir alcoolizado quando provocou o atropelamento que matou uma pessoa na madrugada de domingo, estão longe de ser um caso isoladoLevantamento sobre o uso de álcool e a juventude, do Ministério da Saúde e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), referente a 2010, aponta que quase um quinto (18%) dos jovens entrevistados assumiram ter dirigido sob efeito do álcool nos 12 meses anteriores, sendo que um em cada 10 havia bebido mais de cinco doses da bebida
Além disso, mais de um quarto (27%) dos 18 mil universitários que responderam ao levantamento confessaram ter pego carona com colegas embriagadosO comportamento tem como pano de fundo um cenário onde 86,2% dos jovens relataram já terem feito uso de bebida alcóolica, a maioria antes dos 16 anos.
Investimentos em segurança, mais bafômetros, nada disso vai pôr fim a barbáries ao volante como a protagonizada por Hudson enquanto crimes de trânsito não tiveram uma punição exemplarA avaliação é de Lázaro Sampaio Henriques Damasceno, de 32, cuja autoridade para discutir o assunto vem de tragédia vivida em 2009 por ele e quatro amigos, vítimas do francês Olivier Rebellato, com então 20 anos, na SavassiBêbado e sem carteira, Rebellato avançou o sinal vermelho, bateu no carro dos cincoUma das vítimas vive hoje em estado vegetativo.
“Enquanto a Justiça não mudar, vamos continuar pagando com vidas, pois os infratores sabem que não serão punidos”, afirmaEmbora não acredite num impacto grande da medida, Hudson apoia a iniciativa de instalar bafômetros em boates“Se isso ajudar a aumentar a consciência dos motoristas, já vale”, diz.