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Estado de Minas

Conheça a história da edificação de e onde se via toda BH

Demolida em 1965 para dar lugar ao terminal rodoviário, Feira Permanente de Amostras era o prédio mais alto da capital. Pedras expostas na época hoje estão no Museu das Minas e do Metal


postado em 11/08/2012 06:00 / atualizado em 11/08/2012 06:56

Do alto do prédio dava para ver toda a cidade e os arredores(foto: Arquivo EM - 1/1/40)
Do alto do prédio dava para ver toda a cidade e os arredores (foto: Arquivo EM - 1/1/40)

No início, o terreno da Praça 14 de Fevereiro, hoje Rio Branco, no Centro de Belo Horizonte, abrigava o Mercado Municipal, dono de estrutura metálica importada da Bélgica. A inauguração ocorreu em 1900, mesmo ano em que o prefeito Bernardo Monteiro começava a construção de um prédio para exposição permanente de produtos do estado, no quarteirão entre as ruas Ceará, Timbiras e avenidas Paraibuna (atual Bernardo Monteiro) e Carandaí. No entanto, a ideia, que vinha desde o início da fundação da cidade, não vingou. O edifício ficou muitos anos no alicerce até ser cedido à Congregação dos Padres do Verbo Divino, que concluiu as obras e instalou ali o Colégio Arnaldo. Algumas salas foram destinadas à exposição, conforme tinha sido estipulado no contrato, mas como ninguém ia ver os produtos, a solução foi acabar com a mostra.

A proposta de criar o espaço para divulgar as riquezas de Minas e atrair investimentos continuou de pé. Ao assumir o governo de Minas, Benedito Valadares (1892–1973) se animou com a empreitada e designou o então secretário de Agricultura, Comércio e Trabalho, Israel Pinheiro (1896–1973), para comandar o projeto da Feira Permanente de Amostras, cujo prédio se tornou na época o mais alto de BH. Vários locais foram examinados, entre eles as praças da Liberdade e Rui Barbosa (Estação), além das ruas São Paulo com Tupis, Avenida Augusto de Lima, perto da Praça Raul Soares, e outros. Depois de muita pesquisa, os técnicos concluíram que o melhor local seria o começo da Avenida Afonso Pena, onde estava o Mercado Municipal. O local, que aos olhos do presente parece fadado à mutação, pois o atual terminal rodoviário deverá migrar em 2013 para o Bairro São Gabriel, na Região Nordeste, e o prédio vai virar um ponto para o transporte metropolitano, foi limpo e preparado para a edificação.

A inauguração da Feira Permanente de Amostras ocorreu em 1935. Conforme reportagem do Estado de Minas, chegou gente de toda parte para conferir a novidade. Afinal, como prédio mais alto da capital, era possível, de sua torre, ver toda a cidade. Na festa de abertura, houve pompa e circunstância. A praça se enfeitou, houve desfiles de bandas de música e, no final, o governador entregou o local aos comerciantes, agricultores e industriais de Minas “para que eles lá colocassem os seus produtos”.

Na sua pesquisa “A participação do estado na modernização e economia de Minas Gerais: a exposição permanente de 1901 e a Feira Permanente de Amostras de 1935”, Felipe Carneiro Munaier, formado em história na PUC Minas e mestrando na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explica que a feira catalogava, organizava e divulgava todos os setores da economia mineira ao abranger as atividades extrativas, comerciais, industriais, agrícolas e pastoris. “As amostras ficavam expostas em estandes estabelecidos de acordo com cada região e o visitante conseguia ter em pouco tempo uma visão geral das possibilidades econômicas do estado.” Munaier revela que o prédio era uma vitrine de tudo o que se produzia em Minas e exibia esse potencial numa época em que a siderurgia engatinhava.

Em funcionamento por três décadas, a feira, segundo Munaier, contribuiu para acelerar o desenvolvimento econômico da capital e arredores. “Estimulou, em especial, o crescimento da indústria de base, como a siderurgia, que tem por característica transformar o minério bruto em matéria-prima para as indústrias de bens de consumo”

Farol

Uma reportagem do EM mostrou que muitos moradores consideravam a obra um desperdício de dinheiro, creditando o projeto à onda de ufanismo que dominava a época. Mas a novidade contagiava, conforme matéria do jornal: “Um tremendo farol girava, sem parar, varando a noite de Belo Horizonte. Sua luz chegava até Sabará. Contam que, quando apareceu naquelas bandas, muita gente teve medo e se escondeu. Alguns diziam que o farol era para derrubar aviões noturnos em caso de guerra ou revolução. Outra coisa famosa era o relógio. Ele tornou-se a hora oficial da cidade e as mães, quando queriam saber quantas horas eram, diziam logo: ‘Olha para a torre da Feira de Amostras’”.

O certo mesmo é que, aberta diariamente, a feira dessa vez tinha “pegado” na cidade. E todo mundo sempre fazia questão de dar uma passadinha por lá para admirar a coleção de produtos minerais, peixes, animais empalhados e madeiras. A visita quase sempre terminava no bar-restaurante, onde a moda naqueles tempos era tomar refrigerante com os filhos. Não raro, o prefeito Juscelino Kubitschek (1902–1976) aparecia e saboreava um bom sanduíche. Acompanhados dos professores, alunos do grupo escolar e do ginásio (atuais ensinos fundamental e médio) e de faculdades também eram presença constante para estudar os minérios, olhar sementes de plantas e animais e pesquisar o acervo. Um elevador levava os visitantes à discoteca, ao estúdio da Rádio Inconfidência e ao palco da emissora, onde, à noite, havia programas de auditório com apresentação de grandes artistas. Em 1941, o terreno de trás da feira passou a sediar a rodoviária de BH, a primeira do país.

Epílogo

A história de glória começou a dar sinais de derrocada em 1956. Nessa época ainda não havia o complexo de viadutos da Lagoinha e o trânsito começava mostrar a que veio: engarrafamentos e confusão. Os técnicos do governo planejaram a construção da nova rodoviária para o local e sacrificaram o prédio em estilo art déco. A construção começou em junho de 1965 e o terminal só abriu as portas em 1971.

Jean Nicolas, gerente de loja na Rua Curitiba, se lembra do prédio e seu relógio(foto: LEANDRO COURI/EM/D.A PRESS)
Jean Nicolas, gerente de loja na Rua Curitiba, se lembra do prédio e seu relógio (foto: LEANDRO COURI/EM/D.A PRESS)
Há 57 anos na capital e bom conhecedor da Região Central, o comerciante grego Jean Nicolas Stavrakas, de 71 anos, gerente de uma loja na Rua Curitiba, se lembra bem da Feira Permanente de Amostras e “da torre alta com o seu relógio”. Simpático e cordial, Jean acredita que a “modernidade” acabou com o prédio. Na manhã de quinta-feira, ele passou pela frente da rodoviária e lembrou de outros tempos. “Era necessário aproveitar o espaço para construção da rodoviária e, assim, o edifício antigo foi demolido. A situação do trânsito mudava e o desenvolvimento exigiu a remoção”, afirma Stavrakas, que constituiu família em BH, mas sempre volta à terra natal para rever amigos e parentes.


Saiba mais: onde está o acervo

Minerais, rochas, gemas, fósseis e meteoritos que compunham o acervo da Feira Permanente de Amostras formaram o embrião do Museu de Mineralogia Professor Djalma Guimarães. Os exemplares pertenciam ao estado, em particular à Secretaria de Agricultura, e foram cedidos pelo governador Rondon Pacheco (no cargo de 1971 a 1975) à Secretaria Municipal de Cultura. O museu foi inaugurado em 12 de dezembro de 1974 no prédio da esquina da Rua da Bahia com Avenida Augusto de Lima, atual Centro de Cultura de BH. A ampliação do acervo se deu por meio de doações. De 1974 a 1979 foram recebidas 786 novas amostras, chegando ao total de 2.287.  Há 20 anos, a queda de uma parte do teto do edifício da Rua da Bahia provocou o fechamento do museu, reaberto em 2000 no prédio conhecido como Rainha da Sucata, na Praça da Liberdade, onde funcionou até dezembro de 2009. Este ano, foram transferidas para o Museu das Minas e do Metal, reaberto em 2010.


Linha do tempo

1900 – Prefeito Bernardo Monteiro inicia a construção de um prédio destinado à exposição permanente de produtos do estado, no Bairro Funcionários, mas ela fica só nos alicerces
1900 – Em 1º de outubro, é inaugurado, no início da Avenida Afonso Pena, o mercado municipal de Belo Horizonte, que funciona até 1929
1934 – Começa a construção da Feira Permanente de Amostras, no terreno do antigo mercado municipal. O projeto era do arquiteto Raffaello Berti
1935 –A Feira Permanente de Amostras é inaugurada com festa e passa a atrair muitos visitantes
1941 – Em junho, a parte de trás do prédio da feira passa a abrigar a primeira rodoviária do país
1956 – Governo planeja a construção de nova rodoviária, no local da feira
1965 –Demolição da Feira Permanente de Amostras e início das obras da nova rodoviária
1971 – Em 9 de março de 1971, é inaugurada a rodoviária de BH
 


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