Jornal Estado de Minas

Greve deixa 3,4 mil sem passaportes em Minas

Só 15% dos documentos pedidos nos postos de BH estão sendo entregues pelos agentes da Polícia Federal, parados há uma semana. Cidadãos reclamam de prejuízos com viagens

Tiago de Holanda

Agente segura cartaz em frente ao posto da PF no Shopping Anchieta, Região Centro-Sul de Belo Horizonte - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

Cerca de 3,4 mil passaportes deixaram de ser emitidos em Minas desde a terça-feira passada, quando começou a greve nacional de agentes, escrivães e papiloscopistas da Polícia FederalNo estado, aproximadamente 800 documentos eram entregues por dia, mas apenas 15% dos pedidos, considerados de urgência pelos policiais, estão sendo atendidosOs números foram informados pelo presidente do Sindicato dos Policiais Federais em Minas Gerais (Sinpef-MG), Renato Deslandes.

A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) não definiu o que são os casos urgentes – isso ficou a cargo de cada sindicato localNos acessos aos dois postos que prestam o serviço em Belo Horizonte – no Shopping Anchieta, Região Centro-Sul da capital, e no Posto Uai, na Praça Sete –, equipes da PF selecionam quem pode ser atendidoApesar de ter agendado o atendimento pela internet, muita gente é barrada na porta.

O universitário Lídio Henrique Rocha, de 19 anos, saiu de Capelinha, no Vale do Jequitinhonha, para tirar seu passaporte em BH na tarde dessa segunda-feira, conforme havia agendadoDiz que pagou R$ 140 pela passagem de ônibus e, depois de percorrer 400 quilômetros, aborreceu-se ao saber que havia perdido a viagemE pode perder outra, já que pretende visitar os Estados Unidos no próximo mês, na companhia da avó Na porta do posto no Shopping Anchieta, Lídio tentou, em vão, convencer o policial“Ele pediu um comprovante de compra da passagem para Miami (EUA), mas ainda não compramos”, relatou.

A promotora de eventos Rita de Cássia Santos, de 58, também havia agendado o atendimento pela internet, mas teve negada sua entrada no posto do AnchietaExplicou a um agente da PF que pretende viajar para Nova York em outubro“Mas a senhora não apresentou sua passagem (de avião)

Sinto muito”, respondeu o homemEla ainda ficou um tempo ali, o semblante meio perdido, com a vaga esperança de o agente mudar de ideia“É um absurdoPodiam ter me mandado um e-mail avisando, para eu não vir à toa”, queixou-seEla receia ter que adiar a viagem, caso a greve se prolongue“Teria que jogar (a viagem) para maio do ano que vem”, disse.

Revista rigorosa
Além de reduzir a emissão de passaportes, a PF está fazendo, desde quarta-feira, uma revista mais rigorosa de passageiros e bagagens nos terminais de embarque do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em ConfinsA chamada operação padrão, que não foi executada ontem, volta a ser feita hoje, das 7h às 22h, em passageiros de voos domésticos e internacionais, segundo o comando local de greveCerca de 40 policiais participarão do procedimento, que deve gerar filas.

Às 9h30 de quinta-feira, na frente da Superintendência Regional da PF, os grevistas se reúnem em assembleia para decidir se mantêm a paralisaçãoA assembleia deve discutir o resultado da reunião marcada para quarta-feira, entre a Comissão de Reestruturação Salarial da Fenapef e o Ministério do Planejamento, em Brasília.

Os agentes, escrivães e papiloscopistas reivindicam a reestruturação de suas carreiras e reajuste salarialSegundo a Fenapef, esses profissionais estão inseridos na carreira de nível superior, mas recebem salários compatíveis com atividades para quem possui até o nível médio
Além da emissão de passaporteMuitos serviços estão sendo prejudicados por causa da greve, como inquéritos policiais, inspeções em agência bancárias e empresas de segurança, e emissão de passaportes que não forem considerados de caráter urgente pelos policiais.


Ministro espera desfecho rápido
O ministro do Trabalho, Brizola Neto, disse ontem ter “esperança” em um “desfecho” do movimento grevista “em um grande número de categorias” ainda nesta semanaEle ponderou que o Ministério do Trabalho ocupa a posição de observador das reivindicações de aumento salarial dos servidores públicos e das negociações com a União que, atualmente, estão sendo conduzidas pelo Ministério do Planejamento, sob o comando da ministra Miriam BelchiorSegundo ele, o papel de sua pasta, como mediadora, ocorre apenas quando há um “litígio entre capital e trabalho", como nas greves ocorridas na fábrica da GM em São José dos Campos, onde há risco de 1.500 demissõesJá nos casos envolvendo o setor público onde o Estado é parte, não cabe ao Ministério do Trabalho fazer mediação.