O único processo em tramitação na 8ª Vara Criminal do Fórum Lafayette está suspenso aguardando o laudo do exame de sanidade mental a que Meyer será submetido em 17 de setembro, no Instituto Médico Legal (IML)O parecer da Justiça quanto à prescrição das acusações contra o Maníaco do Anchieta está bem explicado em um dos processos arquivados na 9ª Vara CriminalO texto informa que “a punibilidade foi extinta por prescrição, decadência ou perempção, com fundamento no artigo 107, inciso IV, do Código Penal Brasileiro”
De acordo com o advogado Lucas Laire Faria Almeida, defensor do ex-bancário, há crimes que foram cometidos há mais de 20 anos e mesmo que seu cliente tivesse assassinado a vítima ele não poderia ser julgado“O prazo para julgar cada crime variaMeu cliente será julgado com base na lei em vigor na época do fato”, disseSegundo o advogado, resta um processo em instrução na Justiça, aguardando o exame de sanidade mental, mas que corre em segredo de Justiça para preservar a vítima e a integridade do acusado“Trata-se do caso relacionado à primeira denúncia”, disse o advogado
Ao analisar a situação do ex-bancário, o criminalista Leonardo Bandeira, conselheiro e integrante da Comissão de Direito Penal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG), disse que, se todos os processos contra Pedro Meyer forem considerados prescritos, o acusado deverá ser entregue à família para ser tratado“Se o exame de sanidade mental considerar que ele é inimputável e houver a prescrição do processo, o Estado perde o poder de impor a sanção penal, que é a medida de segurança, e ele é entregue aos parentes para ser tratado“Prescrição é uma pena para o estado diante da sua ineficiência e, por isso, o sujeito fica livre”, explicou.
Múltiplas vítimas
Alguns dos processos contra Pedro Meyer têm mais de uma vítimaEm 1996, por exemplo, ele atacou duas irmãs de 11 e 13 anos, e a prima delas, de 12, no Bairro Nova Floresta, na Região Nordeste da capitalAs adolescentes foram abordadas na entrada do prédio onde moravam e levadas para a garagem, sob a mira de um revólverNesse caso, a violência não se consumou, pois as garotas conseguiram fugir depois que o acusado saiu para verificar um barulho na escada
Duas das vítimas compareceram à Delegacia de Mulheres e reconheceram o ex-bancário como o responsável pelo ataque
A delegada Margaret Rocha não quis se pronunciar a respeito da prescrição dos processos contra o Maníaco do AnchietaEla informou que todos os inquéritos foram encaminhados ao Fórum Lafayette e que não tem conhecimento do andamento delesA assessoria de imprensa do Ministério Público informou que será apurada a situação de cada processo contra o ex-bancário, nas varas criminais onde tramitam.
Sósia se revolta com chance de impunidade
A história do porteiro veio à tona depois da prisão de Pedro MeyerA família do aposentado levantou a possibilidade de ter ocorrido um erro judiciárioLogo depois, a vítima que havia reconhecido Paulo como o homem que a estuprou voltou atrás em suas declarações e apontou o ex-bancário como o autor da violência sexual
O ex-porteiro está em regime domiciliar e luta para provar a inocência Seu advogado disse que ainda aguarda a revisão criminal do processo “Entrei com uma ação criminal para que a Justiça reconheça que meu cliente foi condenado injustamente, para depois entrar com ação de indenização”, disse EurípedesA semelhança física entre Pedro e Paulo Antônio reforça a suspeita de erro judiciário.
Coragem e esforço da vítima
A jovem que reconheceu Pedro Meyer como o homem que a atacou em 1997 guardou na memória, durante 15 anos, a fisionomia do autor da violência que sofreuAlém de identicar o ex-bancário e ser responsável por sua prisão, ela havia guardado o nome do estupradorEm uma carta escrita pouco depois do ataque, ela pôs no papel o nome de Pedro, afirmando que havia ouvido o nome da boca do acusado durante o ataqueA carta foi periciada e teve sua autenticidade comprovada
No documento, a vítima também descreve a fisionomia do agressorAs características são as mesmas do ex-bancário, principalmente quando comparadas com uma foto dele, de 1995, anexada aos autosA menina também desenhou o modelo de óculos dele, semelhante ao que foi apreendido na casa do suspeito.
Entenda o caso
– Em 28 de março, ao passar pela Avenida Francisco Deslandes, no Bairro Anchieta, uma jovem de 26 anos viu Pedro Meyer e o reconheceu como o homem que a estuprou em 1997 no Bairro Cidade Nova.
– A jovem seguiu Pedro até um prédio residencial no mesmo bairro e avisou seu pai, que chamou a políciaO ex-bancário foi preso e levado para a Delegacia de Proteção à Mulher.
– A notícia da prisão de Pedro Meyer e a divulgação de sua foto incentivaram várias mulheres a procurar a polícia para denunciar que ele era o responsável por crimes sexuais cometidos desde o início da década de 1990.
– A polícia ouviu todas as vítimas e 16 mulheres reconheceram oficialmente o ex-bancário como o autor da violência sexual a que foram submetidas quando eram crianças ou adolescentes.
– Um porteiro aposentado de 66 anos, preso e condenado por um estupro cometido na Cidade Nova em 1997, denunciou que foi vítima de um erro judiciário, por causa da semelhança física com o ex-bancárioA mulher que o havia reconhecido na polícia por ocasião do ataque, procurou a polícia e refez seu depoimento, afirmando que na verdade foi atacada por Pedro Meyer.
– A polícia concluiu as investigações em julho e os processos no qual o ex-bancário aparece como acusado foram remetidos à Justiça
– Como as acusações foram consideradas prescritas, 10 processos já foram arquivados.