Basta perguntar na vizinhança, que todos conhecem a rotina dos motoqueiros e ciclistasA professora Martha Tavares, de 54 anos, conta que da Rua Correias, no Sion, já viu a turma de jovens em mountain bikes descendo da encosta da serra para o asfalto, onde uma caminhonete os aguardava“Eles trazem as ferramentas para fazer rampas de saltos, quebra-molas, buracosAí, entram na trilha pelo Belvedere, descem até aqui e depois são levados de novo, pelos amigos, de volta ao Belvedere, para mais descidas”, contaA mulher acha um absurdo a atitude, que ela classifica como vandalismo“A Serra do Curral é de todos
Outra vizinha da serra, a bióloga Tânia Costa, de 36, diz que nos fins de semana ficou arriscado fazer caminhadas para ver a cidade do alto do mirante do monte por causa da velocidade dos praticantes de cross“Eles descem rápido, pulando e levantando poeiraAssim não dá para caminhar, admirar o dia e os pássaros”, lamenta.
De acordo com o geólogo e professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Edésio Teixeira de Carvalho, esse tipo de atividade e as intervenções feitas por meio de ferramentas podem causar danos progressivos e acelerar a erosão do solo daquela porção da Serra do Curral “Principalmente com as chuvas, a água vai abrindo sulcos na terra desprotegidaE o pior é que há formas de recuperar isso tudo depois, mas não é uma prática e uma política comum aqui no BrasilEntão, é melhor que não se façam intervenções no solo sem orientação apropriada, porque depois o terreno não vai ser recuperado”, afirma.
Ainda segundo o especialista, esses solos, dos quais ajudou a fazer os mapas geológicos da capital mineira, os vales da Serra do Curral, como partes do Buritis, Belvedere, Mangabeiras e Sion, são compostos por rochas chamadas filito e quartzito“O filito é formado por camadas que aprisionam água e quando seca se esfarela como se fosse um talcoEssa poeira acaba sendo lavada pelas chuvas, abrindo as erosões”, afirma.
CAMINHADAS PERIGOSAS
As trilhas que muitos usavam para caminhar estão repletas de marcas dos pneus das bicicletas e motocicletasNos fins de retas e descidas, onde podem ganhar velocidade, os pilotos empilharam pedras removidas dos arredores e as cobriram com terra que retiraram de pontos próximos para formar rampas e propiciar saltosEsses buracos abertos pelas pás e a água desviada pela própria rampa já provocaram intrincados sulcos que vão se propagando à medida que a água das chuvas desce o morro
Além de não ser uma área nobre como as partes dos parques das Mangabeiras e da Serra do Curral, o espaço que vem sendo degradado confunde os próprios órgãos que deveriam protegê-loA reportagem procurou a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, que informou não ter responsabilidade sobre o local e recomendou procurar a Fundação de Parques MunicipaisA pasta que cuida das unidades de conservação e lazer informou que a área não pertence a nenhum parque implantado ou já consolidado e que, por isso, não lhes cabe nenhuma ação
A Secretaria Municipal da Coordenação de Gestão Regional Centro-Sul chegou a dizer que a Guarda Municipal deveria cuidar do espaço, por ser “tombado pelo município”A Guarda Municipal informou que, como se trata de um crime ambiental, a Polícia Militar do Meio Ambiente deveria ser procurada e as denúncias encaminhadas ao 190A reportagem tentou entrar em contato com o Departamento de Meio Ambiente e Trânsito (Dmat) da PM, mas a corporação não designou um porta-voz para o assunto.