Jornal Estado de Minas

Tempo seco em BH não dá trégua

A última chuva foi registrada em Belo Horizonte em 26 de maio, e nenhum pingo deve cair nos próximos 15 dias. Com a baixa umidade recomenda-se mais cuidado com a hidratação

Sandra Kiefer
De hoje até terça-feira, a meteorologia prevê que Minas Gerais vai viver um tempo quase desértico, em pleno inverno
Durante o dia, faz calor, com temperaturas que chegam a 29 graus centígrados, segundo a máxima registrada ontemÀ noite, ocorre o inversoFaz frio e os termômetros descem a até 14 graus centígradosSegundo Ruibran dos Reis, diretor regional da Climatempo, a baixa umidade relativa do ar, inferior a 20%, levou à ausência de nuvens“As nuvens funcionam como uma estufaSem elas, a terra perde calor rapidamente e se forma uma névoa de gases poluentes no horizonte, principalmente no início da manhãÉ o fenômeno da inversão térmica, que reduz a qualidade do ar que respiramos”, explica

Com 97 dias sem chuvas, Belo Horizonte ainda não bateu o recorde estabelecido no ano passado durante a mesma estação, quando completou 124 dias secosA última chuva significativa ocorreu em 26 de maioEm 2011, a capital chegou a registrar umidade de 12%
Este ano, o menor índice foi de 13%, verificado na última sexta-feira“Pelos critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS), umidade do ar abaixo de 20% já representa estado de alertaÉ preciso aumentar a ingestão de líquidos e evitar exercícios físicos no período da tarde”, observa ReisSegundo ele, só vai voltar a chover em 15 dias “Antes, o inverno em BH era frio e úmidoDe 20 anos para cá, devido ao aquecimento global e ao aumento da urbanização, com o fim das áreas verdes, a temperatura aumentouSe nada for feito, a tendência é piorar”, completa

Engenheiro e empresário Caio Márcio Guerra Simões se refresca na fonte do Parque JK, no Bairro Sion, Região Centro-Sul da capital, admitindo que os dias secos não o afastam da prática - Foto: Fotos: Juliana flister/esp.em/d.a press Indiferentes à secura do ar, muitos moradores de BH pareciam ontem até mais animados a sair da toca em função do inesperado veranico na despedida de julhoEm uma rápida volta pela cidade, no intervalo em que o sol está mais quente, entre as 14h e as 16h, era possível encontrar pessoas se exercitando nas pistas de cooper e academias ao ar livre“Sinceramente? Nem observei diferença no tempo
Este é o único horário que tenho para fazer minha caminhada, no intervalo entre uma empresa e outra”, revelou o engenheiro e empresário Caio Márcio Guerra Simões, de 55 anos, enquanto se refrescava na fonte do Parque JK, no Bairro Sion, Região Centro-Sul da capital“Tomo muita água e sucoTenho de ir, estou atrasado para a reunião”, disse ele, que saiu correndo literalmente para conseguir cumprir a agenda.

A alguns metros dali, os irmãos Maria Helena Bonfim, de 35, jornalista, e Raphael Muniz, de 18, estudante de jornalismo, bebem água de coco sentados na beirada do quiosqueEles se refrescam depois de 40 minutos de caminhada diária, sempre na parte da tarde"Minha irmã aproveita o horário em que a filha está na escolinha e vem até aqui caminhar comigo Comecei há poucos dias um programa de dieta e exercícios físicos e não vou desistir em função da secaTenho de continuar”, afirmou Raphael, convencido pela irmã a trocar a água mineral pela água de cocoO funcionário do quiosque agradece“O movimento tinha caído uns 60%De sexta-feira para cá, começou a melhorar”, comemora Daniel Dutra, que cobra R$ 3 pelo coco e R$ 2 pela água

À espera da primavera

Com a chegada de setembro, há quem esnobe o tempo seco e já esteja de olho na primaveraÉ o caso do escritor e estudioso de insetos Angelo Machado, que não vê a hora de chegar o dia 23“No inverno é assim mesmo, a natureza se esconde e os insetos se protegem na forma de larvasA fauna diminui bastante e a gente fica chateado porque o gramado fica todo secoQuando começa a chover, brotam as folhas, a grama fica verde e é uma explosão de insetos”, explica o professorEle lembra que, antes mesmo das chuvas, os ipês começam a florir nos próximos 15 dias

Eleito esta semana para a Academia Mineira de Letras (AML), o escritor mineiro de livros infantis como Que bicho fez o buraco? e O dilema do bicho-pau não está preocupado com o inverno excessivamente seco dos próximos dias“Só espero que o inverno continue assim, sem maiores incidentesNesta mesma época, ano passado enfrentávamos o incêndio no Parque do Rola-MoçaVamos torcer para que continuemos com sorte que venha a primavera, com muitos insetos”, comenta o entomologista

Segundo Machado, há quem não goste de insetosNão é o caso, porém, dos netos deste avô tão especialTodo ano, ele promove uma espécie de gincana no quintal de casa, na Região da PampulhaAs crianças são estimuladas a descobrir a primeira borboleta do ano e a flagrar o canto da cigarra