De hoje até terça-feira, a meteorologia prevê que Minas Gerais vai viver um tempo quase desértico, em pleno inverno. Durante o dia, faz calor, com temperaturas que chegam a 29 graus centígrados, segundo a máxima registrada ontem. À noite, ocorre o inverso. Faz frio e os termômetros descem a até 14 graus centígrados. Segundo Ruibran dos Reis, diretor regional da Climatempo, a baixa umidade relativa do ar, inferior a 20%, levou à ausência de nuvens. “As nuvens funcionam como uma estufa. Sem elas, a terra perde calor rapidamente e se forma uma névoa de gases poluentes no horizonte, principalmente no início da manhã. É o fenômeno da inversão térmica, que reduz a qualidade do ar que respiramos”, explica.
Com 97 dias sem chuvas, Belo Horizonte ainda não bateu o recorde estabelecido no ano passado durante a mesma estação, quando completou 124 dias secos. A última chuva significativa ocorreu em 26 de maio. Em 2011, a capital chegou a registrar umidade de 12%. Este ano, o menor índice foi de 13%, verificado na última sexta-feira. “Pelos critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS), umidade do ar abaixo de 20% já representa estado de alerta. É preciso aumentar a ingestão de líquidos e evitar exercícios físicos no período da tarde”, observa Reis. Segundo ele, só vai voltar a chover em 15 dias. “Antes, o inverno em BH era frio e úmido. De 20 anos para cá, devido ao aquecimento global e ao aumento da urbanização, com o fim das áreas verdes, a temperatura aumentou. Se nada for feito, a tendência é piorar”, completa.
A alguns metros dali, os irmãos Maria Helena Bonfim, de 35, jornalista, e Raphael Muniz, de 18, estudante de jornalismo, bebem água de coco sentados na beirada do quiosque. Eles se refrescam depois de 40 minutos de caminhada diária, sempre na parte da tarde. "Minha irmã aproveita o horário em que a filha está na escolinha e vem até aqui caminhar comigo. Comecei há poucos dias um programa de dieta e exercícios físicos e não vou desistir em função da seca. Tenho de continuar”, afirmou Raphael, convencido pela irmã a trocar a água mineral pela água de coco. O funcionário do quiosque agradece. “O movimento tinha caído uns 60%. De sexta-feira para cá, começou a melhorar”, comemora Daniel Dutra, que cobra R$ 3 pelo coco e R$ 2 pela água.
À espera da primavera
Com a chegada de setembro, há quem esnobe o tempo seco e já esteja de olho na primavera. É o caso do escritor e estudioso de insetos Angelo Machado, que não vê a hora de chegar o dia 23. “No inverno é assim mesmo, a natureza se esconde e os insetos se protegem na forma de larvas. A fauna diminui bastante e a gente fica chateado porque o gramado fica todo seco. Quando começa a chover, brotam as folhas, a grama fica verde e é uma explosão de insetos”, explica o professor. Ele lembra que, antes mesmo das chuvas, os ipês começam a florir nos próximos 15 dias.
Eleito esta semana para a Academia Mineira de Letras (AML), o escritor mineiro de livros infantis como Que bicho fez o buraco? e O dilema do bicho-pau não está preocupado com o inverno excessivamente seco dos próximos dias. “Só espero que o inverno continue assim, sem maiores incidentes. Nesta mesma época, ano passado enfrentávamos o incêndio no Parque do Rola-Moça. Vamos torcer para que continuemos com sorte que venha a primavera, com muitos insetos”, comenta o entomologista.
Segundo Machado, há quem não goste de insetos. Não é o caso, porém, dos netos deste avô tão especial. Todo ano, ele promove uma espécie de gincana no quintal de casa, na Região da Pampulha. As crianças são estimuladas a descobrir a primeira borboleta do ano e a flagrar o canto da cigarra.