O rastro da pichação foi mapeado no Hipercentro de Belo Horizonte, região onde 273 grupos já deixaram suas marcas de sujeira por fachadas, muros, marquises e paredes de imóveis em uma área de 120 quarteirões e cinco praças. Entre os 2.563 rabiscos encontrados, cerca de 800 diferentes assinaturas foram impressas por vândalos em diferente épocas. Apesar de diariamente receber detidos em flagrante por pichação nas delegacias regionais, a Polícia Civil afirma não ter quantificação do total de pessoas que praticam o crime na cidade. Mas, conforme levantamento feito pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), pelo menos sete gangues se mantêm ativas na região. Com idades entre 17 e 42 anos, os pichadores identificados na pesquisa trabalham, estudam e têm diferentes perfis socioeconômicos. Em comum têm o gênero: todos são homens. O estudo teve início no ano passado e durante seis meses pesquisadores foram a campo mapear as pichações e entrevistar integrantes desses grupos.
Diferentemente de outras épocas, como o período pós-ditadura, de quando datam os primeiros registros de pichação em BH, as marcas do vandalismo na capital mineira na atualidade têm intenção de demarcar território, como explica o professor do Programa de Pós-graduação em Geografia da PUC Minas Alexandre Diniz. "O que percebemos é que esses grupos buscam ser vistos, disputam notoriedade e querem cada vez mais pichar para mostrar que estão em mais partes da cidade", ressalta o professor. Coordenador da pesquisa intitulada Pichação: demarcação territorial do Hipercentro de Belo Horizonte, Diniz afirma que prova da rivalidade entre os grupos está na cobiça pelos pontos mais altos dos prédios ou pelas construções mais conhecidas. "As áreas mais visadas são os topos dos prédios”, diz.
Mais pichados
O olhar dos pesquisadores Sérgio Alves Alcântara e Rodrigo Guedes Braz Ferreira, – graduandos em geografia e bolsistas do programa de iniciação científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) –, revelou ainda que o abandono e a falta de manutenção são fatores que estimulam a ação dos vândalos. Prova disso é que o prédio identificado pelo estudo como o mais pichado foi uma construção na Avenida do Contorno, à época abandonada, onde hoje está sendo construído um hotel. No mesmo nível, o prédio da Imprensa Oficial, na Avenida Augusto de Lima, chama a atenção dos pesquisadores pela concentração de rabiscos.
Por outro lado, explica Rodrigo, áreas recém- revitalizadas, como o entorno do Minascentro e do Mercado Central, bem como áreas privadas como o Shopping Cidade, onde há vigilância 24 horas, são menos focadas pelos infratores. O espaço escolhido para a pesquisa compreende o recorte entre a Avenida Bias Fortes, Rua dos Timbiras, Avenida Afonso Pena, Avenida Assis Chateaubriand, Rua Sapucaí, Viaduto da Floresta e Avenida do Contorno.