Na guerra do trânsito em Belo Horizonte, quem anda a pé precisa se proteger de forma redobrada em alguns dos principais campos de batalhaE o que oferece maiores riscos à vida, não por acaso, é a principal referência de tráfego no Centro da capitalSegundo levantamento da BHTrans baseado em dados de 2011, 13,4% das vítimas de acidentes nos principais corredores de tráfego de BH são pedestresMas na Avenida Afonso Pena, o índice de atropelamentos salta para 36%, tendo vitimado 141 pessoas durante o anoEmbora não seja o corredor de trânsito com maiores taxas de desastres na capital – o campeão é a Avenida Cristiano Machado –, a Afonso Pena tem índice de atropelados três vezes superior ao da média das 10 maiores artérias em circulação de veículos de BH
Mas o impacto da ação está longe de ser suficiente“O trânsito em Belo Horizonte é uma guerra velada, não declaradaHá uma disputa pelo espaço urbano e cada um tem as suas armasOs automóveis trafegam com sua ‘armadura’ em alta velocidade, e os pedestres agem da pior forma, que é atravessando em qualquer lugar, sem respeitar faixas e sinalização
Já o coordenador do Núcleo de Transportes (Nucletrans) da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), professor Ronaldo Guimarães Gouvêa, defende, para a Avenida Afonso Pena, a redução da velocidade máxima permitida, de 60 km/h para 40 km/h, além de radares e redutores de velocidadeEle considera incompatível o movimento de veículos, dezenas de milhares por dia, com a segurança dos pedestres“A Afonso Pena tem características muito particulares, pois tem 50 metros de largura e é a principal via da região centralNão é uma questão de restringir o automóvel, mas de controlar a velocidade”, defende.
Violência nas ruas
Correndo entre os carros em movimento, a auxiliar de serviços gerais Maria Luíza Mel, de 45 anos, quase foi atropelada na tarde de ontem, ao atravessar a Afonso Pena na esquina com Rua São Paulo, no Centro da capital“Tenho perícia médica e já estou atrasada”, disse Maria Luíza, na tentativa de justificar a pressaEla ficou presa no meio da travessia e só não se acidentou porque alguns motorista pararam para deixá-la passar
No cruzamento da Afonso Pena com São Paulo, cortado também pela Rua Tupinambás, o movimento é frenéticoMas os veículos que partem de todos os lados não intimidam pedestres apressados, que desafiam o perigoA maioria dos que estão a pé não espera o sinal verde para a travessiaO resultado são cenas que se repetem com frequência assustadoraNa manhã de ontem, um homem usando muletas quase foi arremessado por um carro, em um dos vários episódios que resultam, a todo momento, em barulho de freadas bruscas e de buzinas.