Os executivos não têm agente de bordo. É o motorista quem cobra a passagem e recebe o dinheiro. Passageiros dizem que isso faz a viagem demorar mais - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press

O tempo fechou no primeiro dia de funcionamento do “frescão”, novo sistema executivo de transporte público de Belo HorizonteAtrasos, falhas na internet sem fio, desobediência aos pontos de embarque e desembarque e até mesmo ônibus com defeito na porta dianteira conturbaram a circulação das linhas pioneiras: Savassi–Buritis e Savassi–Cidade AdministrativaNão bastassem os tropeços, houve veículo que, com problema no ar-condicionado, não fez jus ao apelido e estava mais para quentinho do que frescãoFoi o que constatou o Estado de Minas no teste feito nos dois itinerários na manhã e na noite dessa segunda-feira.

Veja como são os ônibus, conheça os itinerários e saiba onde há pontos no Centro de BH

A adesão do público à novidade ainda é baixa, mas a satisfação dos passageiros leva a crer que a moda de andar de ônibus executivo, pagando R$ 5 e com direito a poltrona de veludo e TV, deve pegar na capital Isso se a BHTrans, empresa que administra o trânsito da capital, corrigir rapidamente as falhas que já desagradaram alguns usuáriosNo itinerário Savassi-Cidade Administrativa, onde operam oito veículos, ônibus tiveram atrasos de quase uma hora, apesar de estarem programados para passar em intervalos de 20 a 30 minutos

O veículo das 7h20 só saiu 32 minutos depoisPassageiros que esperavam o coletivo das 7h40 embarcaram às 8h25 e o ônibus das 8h passou no ponto às 8h40, horário em que a reportagem seguiu rumo à Cidade Administrativa acompanhada de um único usuárioA caminho do trabalho, uma funcionária pública que pediu para não ser identificada abandonou a ideia de pegar o frescão antes mesmo de testá-loA espera de mais de 30 minutos no ponto a deixou bastante ansiosa“Vou trabalhar de carro e tem sido muito estressante, por causa do trânsito terrívelResolvi ir hoje de ônibus executivo para experimentar, mas demorou muitoNão vou querer usá-lo”, comentou, enquanto, finalmente, entrava no veículoReclamações à parte, a exuberância e conforto do veículo impressionam.

Com 43 poltronas de veludo e couro sintético, cinto de segurança, assentos preferenciais, elevador para deficientes físicos e televisões de tela plana, a sensação é de estar num ônibus fretadoMas a lembrança de que se trata de um coletivo em BH veio à tona frente ao fato de que o tão anunciado ar-condicionado não estar funcionando e a internet sem fio estar com o sinal ruimDepois da reclamação sobre o calor, o motorista até tentou aumentar a potência, sem sucesso, e o ar quente continuou denunciando que apenas a ventilação estava ligadaResultado? Em 50 minutos até a Cidade Administrativa, o “frescão” havia virado forninho.

O caminho de volta, em outro veículo, foi infinitamente mais agradável Não houve dificuldade na conexão à internet e o ar-condicionado em ordem amenizou o calor de 30 graus em BHMas, no primeiro dia de circulação dos ônibus executivos, as viagens de ida e volta foram bastante solitárias, com passageiros embarcando apenas nos pontos finais, numa trajetória sem paradas e, portanto, mais rápida do que os ônibus convencionaisÚnico passageiro presente no coletivo que saiu da Cidade Administrativa em direção à Savassi, o aposentado José Alcides Ferreira, de 73 anos, achou tudo uma maravilha.

Conforto valorizado

Apesar de não ter a gratuidade, ele já decidiu adotar a nova linha nas suas idas à casa da irmã, na Região Centro-SulForam 47 minutos de uma viagem bem diferente da linha convencional 66“Ando de graça nos ônibus comuns, mas pago pelo confortoA linha 66 é demorada e fica lotada”, conta, convicto de que o frescão vai cair no gosto dos passageiros “Muita gente ainda não sabe que já está funcionando.” A única reclamação do passageiro foi em relação ao horário do ônibus, que está programado para operar somente em dias úteis, das 6h às 18h40.

No caminho entre a Savassi e o Buritis, um percalço logo na passagem do ônibus no pontoO motorista do frescão passou direto no único ponto da Avenida Cristóvão Colombo, às 8h09, mesmo diante do sinal de parada da reportagemSem atrasos, trinta minutos depois, um novo ônibus passou e transportou duas passageiras até a Raja GabagliaCom celular na mão, a estudante de engenharia civil Bruna Campos, de 22 anos, foi logo testando a internet“Funcionou bemEstou achando esse ônibus ótimo Deveria ter, inclusive, em outros itinerários”

No banco de trás, a secretária Fabiane Procópio, de 28, ainda se refrescava do calor da ruaHavia descido há poucos minutos de um coletivo tradicional e estava transpirando“Nem sabia desse executivoTomei conhecimento no ponto, mas vou passar a usar”, afirmou a moça, ainda sem saber do preço da passagem que pagou no cartãoDepois da notícia, achou o valor salgado e disse que vai fazer as contas com calma

Com a colaboração do trânsito e por causa das poucas paradas, o trajeto de ida e volta do frescão foi vencido em uma hora, tempo considerado bom segundo o motorista Fabiano Alberto Xavier dos Santos“Trabalho no sistema convencional há oito anosEstou satisfeito de ter sido escolhido para esta linha, que é mais tranquila, mesmo tendo que cobrar a passagemNa linha 9250, onde já trabalhei, é muito cheio e o tempo de viagem sempre extrapola”, afirmou o funcionário que dirigia de sapato envernizado, camisa e calça socialEm duas viagens de ida e volta que fez pela manhã, Fabiano conta que transportou 13 passageiros.