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Estado de Minas

Relíquia histórica natural retorna a Minas

Parceria entre Minas e a Dinamarca permite o retorno ao estado de 82 fósseis de mais de 10 mil anos, que vão ficar expostos durante três anos em museu inaugurado em Lagoa Santa


postado em 22/09/2012 06:00 / atualizado em 22/09/2012 06:58


A inauguração, na tarde de ontem, do Museu Peter Lund, em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, abre caminhos para novas parcerias culturais e científicas entre Minas e Dinamarca. O ponto alto dessa cooperação está presente na exposição de 82 fósseis de mais de 10 mil anos – humanos e de animais extintos –, que retornaram ao estado mediante comodato firmado entre os dois governos para exposição durante três anos e poderão ser vistos pelo público a partir de hoje. As peças foram enviadas ao país escandinavo no século 19 pelo paleontólogo Peter Peter Wilhelm Lund (1801-1880), que viveu na região durante 45 anos e fez escavações em cavernas e grutas com resultados de relevância. “O prazo da mostra poderá ser prorrogado. Esta primeira etapa é muito importante, mas ainda não podemos dizer se receberemos mais fósseis ou se esses ficarão aqui definitivamente”, disse o governador Antonio Anastasia, certo de que a iniciativa vai aprofundar os estudos acadêmicos.

A solenidade de abertura do chamado museu de território, integrante da Rotas das Grutas Lund, teve a presença do príncipe herdeiro da Dinamarca, Frederik André Henrik Christian, e da mulher, a princesa Mary Elizabeth. No seu discurso em inglês, iniciado com um simpático “obrigado” em português, Frederik destacou a importância da criação do museu, que representa um símbolo entre Brasil e Dinamarca. “Lund viveu aqui numa época em que Charles Darwin (1809-1882) e Alexander von Humboldt (1769-1859) estavam em países próximos. O trabalho de Lund se tornou parte da história do mundo e, com Minas, ele teve uma história de amor, com resultados que estão presentes neste museu, que incentivará pesquisas científica e despertará o interesse de outros setores da sociedade”, disse o príncipe.

Localizado no Parque Estadual do Sumidouro e da Área de Preservação Ambienta Carste (APA) de Lagoa Santa, o Museu Peter Lund se integra à Rota das Grutas Lund ou Rota Lund, que tem a Gruta da Lapinha, que fica bem ao lado, o Museu de Ciências Naturais da PUC Minas (marco zero do caminho), o Centro de Arqueologia Annette Laming Emperaire, em Lagoa Santa, e as grutas Rei do Mato, em Sete Lagoas, e de Maquiné, em Cordisburgo, terminando no Museu Casa Guimarães Rosa, também nessa última cidade. “Museu é um organismo vivo e, nesse caso específico, trata-se de uma joia, pois está integrado a outros pontos significativos na trajetória de Lund”, disse o superintendente de museus e artes visuais da Secretaria de Estado da Cultura, Leonardo Bahia.

O conjunto de fósseis apresenta pedaços de ossos de dedos, patas, dentes e costelas (não estão incluídos crânios), de animais como anta, preguiça, tamanduá, raposa, puma, porco, tigre-dente-de-sabre, tatu gigante, entre outras espécies que viveram na região há mais de 10 mil anos. Entre eles, estão 30 ossos de homens pré-históricos encontrados por Lund em Lagoa Santa. Segundo os pesquisadores, são peças de relevância histórica por se tratar dos primeiros fósseis de homem pré-histórico encontrados nas Américas.

O prédio que abriga o museu tem 1.850 mil metros quadrados, dividido em três andares, reservando duas salas para que o visitante conheça os planos de manejo do parque. Há também espaço multiuso e de exposição, sendo um deles dedicado ao acervo vindo de Copenhague, área para reserva técnica, conservação e restauro de obras, café e loja. O governo do estado investiu R$ 5,3 milhões, na obra. Entusiasmado com a obra, que acompanha desde os tempos de vice-governador, e que teve ainda a participação decisiva do professor da PUC Minas, Castor Cartelli, Anastasia lembrou que o equipamento cultura e científico será um dos pontos altos para quem vier para a Copa das Confederações (2013) e a Copa’2014. E, bem-humorado, dirigiu-se ao príncipe lembrando uma frase de Lund, para quem “Lagoa Santa era o local ideal para se viver”.

Descontração

Depois da solenidade, as autoridades mineiras e dinamarquesas visitaram a exposição e, em seguida, o interior da Gruta da Lapinha, que foi reestruturada e recebeu nova iluminação, a exemplo das Rei do Mato e Maquiné. Antes de seguir a trilha, a princesa sentou-se descontraída e, num gesto bem europeu, trocou os sapatos de salto por sapatilhas confortáveis. Depois do passeio à gruta, que conhecera em 1999, Frederik, ao lado da mulher, sentou-se numa pedra, à sombra, e, num clima bem informal, bateu papo com jornalistas conterrâneos que acompanham a missão.

Visitando a exposição, o professor de história da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Pablo Lima, disse que a vinda do acervo valoriza o patrimônio paleontológico do estado. A bióloga Mônica Meyer, que fez o pós-doutorado na Dinamarca em divulgação científica, conheceu todo o material existente sobre o naturalista naquele país, dividido entre biblioteca (documentos, cartas, anotações etc.) e Museu de Zoologia (objetos, ossos, fósseis etc.). “A grande paixão dele era o conhecimento”, afirmou. Ao lado, a irmã dela, a socióloga Maria Luísa Meyer, residente há 18 anos na Dinamarca, espera a criação de uma “senhora escola” nas proximidades do museu, com foco na formação dos jovens. “Lund, na atualidade, significa preservação ambiental e esse deve ser um dos destaques desse museu”, afirmou.

Oportunidades de negócios

O príncipe Frederik visitou ontem a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), onde tratou de possíveis parcerias na área de  alimentos e de desenvolvimento e transferência de tecnologias avançadas de gestão do uso ambientalmente correto da água, setor que em seu país emprega mais de 35 mil pessoas e encara o futuro do uso desse recurso no mundo com muita preocupação. O presidente da Fiemg, Olavo Machado, ressaltou que o comércio bilateral Brasil/Dinamarca cresceu 46,7% nos últimos quatro anos, saindo de US$ 777 milhões por ano para US$ 1,1 bilhão em 2011.


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