Os jovens que desafiam autoridades e disputam pegas nas madrugadas, levando perigo a motoristas na Avenida Nossa Senhora do Carmo e na BR-356, se aproveitam de uma lacuna na fiscalizaçãoDe acordo com a Polícia Militar, o trecho da Avenida do Contorno ao trevo do Bairro Belvedere, na Região Centro-Sul da capital, é de responsabilidade do Batalhão de Trânsito (BPTran)Dali em diante, na BR-356, a jurisdição é da Polícia Militar Rodoviária (PMRv), que informou promover blitzes na maioria das vezes a partir do BH Shopping Sem ninguém para policiar a “zona cinza” da ladeira do Bairro Belvedere, condutores irresponsáveis se sentem livres para acelerar entre outros automóveis, chegando a desenvolver até 149 km/h num trecho de apenas 600 metros após a barreira eletrônica, como mostrou ontem o Estado de MinasA PM promete reformular ações para coibir os abusos.
O perigo nesse trecho é evidenteNo dia 15, por exemplo, dois jovens morreram em acidentes marcados pela alta velocidade e desrespeito às sinalizações de trânsitoUma semana depois, na madrugada de sábado, a reportagem do EM testemunhou seis veículos apostando corrida em duplas que descem emparelhadas, desenvolvendo velocidades acima de 113 km/h Entre as 2h e as 4h30, nenhuma viatura policial esteve no local para coibir os abusos
No primeiro acidente com morte, Michael Donizete Lourenço, de 22 anos, bateu seu Land Rover num Focus, no Trevo de Belvedere, matando o administrador Fábio Fraiha, de 20Uma câmera da BHTrans mostra que o veículo dele e outro, ainda não identificado, passaram acima da velocidade permitida, de 60 km/h, e lado a lado como se disputassem um pegaA polícia aguarda o resultado de laudos para encaminhar o inquérito à Justiça
Blitzes
O comandante da PMRv, tenente-coronel Sebastião Olímpio Emídio Filho, justifica a falta de policiamento no trecho entre o BH Shopping e o Trevo do Belvedere, onde ocorrem os pegas, à grande extensão de estradas a ser fiscalizada na Grande BH e à necessidade de blitzes em locais seguros“A rodovia com mais operações e fiscalizações é justamente a BR-356Mas, geralmente, fazemos mais próximo do BH Shopping, focando nos frequentadores de casas noturnas no Vale do Sereno e do Jardim Canadá (Nova Lima)”, disse.
O militar afirma que a polícia tem feito monitoramentos e verificado denúncias e pretende intensificar ações para impedir as corridas ilegais no trechoContudo, o tenente-coronel Sebastião Emídio Filho nem em todos os locais se podem fazer blitz“Não podemos armar uma fiscalização na saída de uma curva como a do Ponteio, porque isso colocaria em risco os condutores e militaresA pessoa em alta velocidade teria pouco tempo para reagir Tem de ser em um local estratégico para coibir com segurança”, afirma.
O BPTran informa ou que vai monitorar esse tipo de atitudes, dentro de sua jurisdição, para evitar pegas e acidentes“Precisamos de saber qual a frequência dissoRealizamos operações sempre na Avenida Nossa Senhora do Carmo, nas sextas-feiras, sábados e domingosVamos levantar as placas desses praticantes, prender, multar por direção perigosa, apreender a habilitação e o veículo”, promete o comandante do batalhão, tenente-coronel Roberto Lemos
PALAVRA DE ESPECIALISTA: Alberto Vidal Guimarães, Consultor técnico em Manutenção de Veículos
Avenida não é autódromo
“Os carros que usamos para o tráfego do dia a dia não estão preparados para serem usados como automóveis de corridaNão há manutenção para isso e não há peças trocadas a cada corrida para se comportarem assimSe um carro de uso normal estiver com amortecedores desgastados e pneus com baixa quantidade de borracha, ou calibragem inadequada, isso amplia o risco de acidentes, como capotamentos, derrapagens, perda de trajetória e colisãoAs vias de tráfego regular não são feitas para receber carros desenvolvendo velocidades tão altas assimNão há espaço, inclinação ou áreas de escape para issoA Curva do Ponteio, onde a reportagem flagrou carros a 149 km/h, não tem porte para issoFoi um risco irresponsável de acidenteTodas essas condições adversas podem levar o mais habilidoso dos pilotos a sofrer um grave acidentePrincipalmente porque nos autódromos não temos carros trafegando a 60 km/h na frente do piloto.”