Os jovens que desafiam autoridades e disputam pegas nas madrugadas, levando perigo a motoristas na Avenida Nossa Senhora do Carmo e na BR-356, se aproveitam de uma lacuna na fiscalização. De acordo com a Polícia Militar, o trecho da Avenida do Contorno ao trevo do Bairro Belvedere, na Região Centro-Sul da capital, é de responsabilidade do Batalhão de Trânsito (BPTran). Dali em diante, na BR-356, a jurisdição é da Polícia Militar Rodoviária (PMRv), que informou promover blitzes na maioria das vezes a partir do BH Shopping. Sem ninguém para policiar a “zona cinza” da ladeira do Bairro Belvedere, condutores irresponsáveis se sentem livres para acelerar entre outros automóveis, chegando a desenvolver até 149 km/h num trecho de apenas 600 metros após a barreira eletrônica, como mostrou ontem o Estado de Minas. A PM promete reformular ações para coibir os abusos.
O perigo nesse trecho é evidente. No dia 15, por exemplo, dois jovens morreram em acidentes marcados pela alta velocidade e desrespeito às sinalizações de trânsito. Uma semana depois, na madrugada de sábado, a reportagem do EM testemunhou seis veículos apostando corrida em duplas que descem emparelhadas, desenvolvendo velocidades acima de 113 km/h. Entre as 2h e as 4h30, nenhuma viatura policial esteve no local para coibir os abusos.
Blitzes
O comandante da PMRv, tenente-coronel Sebastião Olímpio Emídio Filho, justifica a falta de policiamento no trecho entre o BH Shopping e o Trevo do Belvedere, onde ocorrem os pegas, à grande extensão de estradas a ser fiscalizada na Grande BH e à necessidade de blitzes em locais seguros. “A rodovia com mais operações e fiscalizações é justamente a BR-356. Mas, geralmente, fazemos mais próximo do BH Shopping, focando nos frequentadores de casas noturnas no Vale do Sereno e do Jardim Canadá (Nova Lima)”, disse.
O militar afirma que a polícia tem feito monitoramentos e verificado denúncias e pretende intensificar ações para impedir as corridas ilegais no trecho. Contudo, o tenente-coronel Sebastião Emídio Filho nem em todos os locais se podem fazer blitz. “Não podemos armar uma fiscalização na saída de uma curva como a do Ponteio, porque isso colocaria em risco os condutores e militares. A pessoa em alta velocidade teria pouco tempo para reagir. Tem de ser em um local estratégico para coibir com segurança”, afirma.
O BPTran informa ou que vai monitorar esse tipo de atitudes, dentro de sua jurisdição, para evitar pegas e acidentes. “Precisamos de saber qual a frequência disso. Realizamos operações sempre na Avenida Nossa Senhora do Carmo, nas sextas-feiras, sábados e domingos. Vamos levantar as placas desses praticantes, prender, multar por direção perigosa, apreender a habilitação e o veículo”, promete o comandante do batalhão, tenente-coronel Roberto Lemos. Outro fator que precisa continuar sendo combatido, na avaliação do policial, é a mistura de álcool, drogas e direção, com as blitzes da Lei Seca. “Álcool e drogas são ingredientes fundamentais nesses pegas. O condutor irresponsável se sente mais confiante e por isso acelera, arrisca a sua vida e a dos outros. Se esse fator é controlado, temos menos abusos”, disse.
PALAVRA DE ESPECIALISTA: Alberto Vidal Guimarães, Consultor técnico em Manutenção de Veículos
Avenida não é autódromo
“Os carros que usamos para o tráfego do dia a dia não estão preparados para serem usados como automóveis de corrida. Não há manutenção para isso e não há peças trocadas a cada corrida para se comportarem assim. Se um carro de uso normal estiver com amortecedores desgastados e pneus com baixa quantidade de borracha, ou calibragem inadequada, isso amplia o risco de acidentes, como capotamentos, derrapagens, perda de trajetória e colisão. As vias de tráfego regular não são feitas para receber carros desenvolvendo velocidades tão altas assim. Não há espaço, inclinação ou áreas de escape para isso. A Curva do Ponteio, onde a reportagem flagrou carros a 149 km/h, não tem porte para isso. Foi um risco irresponsável de acidente. Todas essas condições adversas podem levar o mais habilidoso dos pilotos a sofrer um grave acidente. Principalmente porque nos autódromos não temos carros trafegando a 60 km/h na frente do piloto.”