Jornal Estado de Minas

Idosa morre em Campo Belo após ter glicerina aplicada na veia

A Polícia Civil da cidade já abriu um inquérito para investigar o caso. O delegado espera o resultado da necrópsia para ouvir as testemunhas

Luana Cruz, Paulo Filgueiras, Cristiane Silva, Daniel Camargos, Mateus Parreiras, Pedro Rocha Franco, Luciane Evans, Leandro Couri João Henrique do Vale

Uma mulher de 80 anos morreu na Santa Casa de Misericórdia São Vicente de Paula de Campo Belo, na Região Centro-Oeste de Minas Gerais, vítima do erro de uma técnica de enfermagem, que aplicou glicerina na veia da paciente

Vicentina Martins Leal deu entrada no pronto-atendimento da cidade dia 15 de setembro, com problemas intestinais, e foi transferida para a Santa Casa no dia seguinteA Polícia Civil da cidade já abriu um inquérito para investigar o caso.

De acordo com o filho da vítima, o publicitário Itamar dos Reis Leal, a mãe ficou sob cuidados médicos na enfermaria, acompanhada de outro filhoNo dia 20 de setembro, por volta de 11h, o acompanhante notou que havia sido incluído um frasco diferente no lugar do soro aplicado em VicentinaO filho pensou que fosse uma vitamina, porque a mãe estava muito debilitada

Por volta das 14h30, Itamar foi chamado ao hospital pelo irmão, após receber a informação de que a mãe havia sido transferida em caráter de urgência para uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI)Ao chegar à Santa Casa, o publicitário ficou surpreso com a grande movimentação de enfermeiros, médicos e diretores do hospital no quarto onde estava a mãe“Fui procurado pelo médico da UTI informando que minha mãe teve parada cardiorrespiratória e que estavam tentando reverter o quadroPediram para eu ficar no local para falar de um assunto comigo”.

Segundo Itamar, por volta de 16h30, a equipe saiu do quarto e informou que Vicentina havia morrido“Pedi para ver o corpo, ela estava entubada na maca e me despediNesse momento, o médico informou que a minha mãe havia morrido pelo erro de uma técnica de enfermagem, que havia administrado um medicamento indevido
Ele disse ainda que a funcionária estava afastada e iriam investigar o caso”, conta o publicitário.

Dois dias após a morte, a família procurou a delegacia local e registrou um boletim de ocorrênciaDe acordo com Itamar, na última segunda-feira, o hospital repassou todos os documentos sobre o caso, com relatório de prontuário, onde está descrito o procedimento da técnica de enfermagem

Segundo o filho, a solução de glicerina a 12% administrada na veia deveria ter sido aplicada por uma sonda retal para ajudar no procedimento de lavagem intestinalA coordenadora de enfermagem da Santa Casa, Lúcia Helena Rosa Santos, confirmou o erro da funcionária e disse que ela foi afastada imediatamenteSegundo Lúcia Helena, a profissional tem cerca de dois anos de experiência e nunca teve problemasConforme a coordenadora, não foram omitidas informações para a família, que recebeu todos os dados no prontuário“Infelizmente o medicamento foi junto com o soroEsse caso deixou todo mundo muito triste aqui”, relata

Um inquérito policial foi aberto para investigar o casoO delegado Edson de Senna aguarda o resultado da necropsia e já solicitou todo o prontuário do atendimento do hospital
Após a chegada dos documentos, as testemunhas serão convocadas para prestar depoimento.

O em.com.br tentou contato com o diretor do hospital, mas foi informado que ele estava viajando e não poderia conversar sobre o assunto nesta quarta-feira

Erros em hospitais

“Foi um erro grosseiro, aí você vê o despreparo do pessoal de enfermagemQuero questionar como esses profissionais estão saindo das escolas”, desabafa ItamarA família ainda não decidiu se vai entrar na Justiça contra o hospital.  A indignação do filho de Vicentina se junta ao de outras famíliasMinas Gerais registrou neste ano casos graves de erros em hospitalEm abril, o menino Alan Breno, de 2 anos, ingeriu ácido em vez de sedativo e o bebê Davi Emanuel de Souza Lopes, de 4 meses, recebeu alimentação à base de leite na veiaOs dois casos aconteceram em Belo Horizonte

Dados do Conselho Regional de Enfermagem de Minas Gerais (Coren/MG) mostram que as denúncias de má conduta de enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem estão aumentandoEm 2010, foram 127 denúncias, contra 153 do ano passado, um aumento de 20,4%O Coren ainda está levantando os dados de 2012