A mesma chuva que trouxe alívio a quem sofria com o clima quente e seco abriu a temporada da sujeira em Belo HorizonteA chegada do período chuvoso deixa evidente em vários pontos da cidade o resultado do mau hábito na hora de descartar o lixo doméstico, resíduos da construção civil e todo tipo de entulhoO resultado aparece em locais como a Lagoa da PampulhaO cartão-postal, que deveria ser um reservatório de água, torna-se nesta época um depósito de sujeira que chega de toda a cidade, levada pela enxurradaNo espelho d’água onde deságuam sete córregos são retiradas diariamente 10 toneladas de resíduosA previsão é de que essa quantidade dobre nos próximos dias, batendo em 20 toneladas/diaComo se não bastasse, dos 14 cursos d’água e seis nascentes que cortam a região, o serviço de limpeza urbana retirou 130 toneladas de detritos até agostoEm outro extremo da cidade, a Regional Leste, onde o Ribeirão Arrudas também é depositário de toda sorte de rejeito, somente entre janeiro e setembro deste ano já foi recolhido quase o equivalente a todo o lixo retirado dos córregos no ano passadoNos nove primeiros meses de 2012 foram 115 toneladas, enquanto em 2011 todo o montante somou 118 toneladas
O resultado é um risco enorme para a cidade, como explica o professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Nilo de Oliveira“Quando jogados nos cursos d’água, os rejeitos são carregados até as galerias pluviais, comprometem o sistema de drenagem e aumentam o risco de inundações”, ressalta
Na Região da Pampulha, pelo menos seis pontos são considerados críticos para a ocorrência de inundações, metade deles às margens de córregos que cortam a regionalEstão concentrados em ruas do Bairro Santa Terezinha, no leito do Córrego Sarandi; nas vias do entorno do Córrego Ressaca, no Bairro Paquetá; e no encontro do bairros Dona Clara, Suzana e UniversitárioNesse último caso, sofrem com os alagamentos principalmente as avenidas Sebastião de Brito e Cristiano Machado e a Rua Lúcio Bittencourt, onde uma grande inundação foi registrada no ano passado.
E a lista da sujeira que favorece os alagamentos é extensaSegundo o gerente de Limpeza Urbana da Regional Pampulha, Osvaldo do Carmo Machado, as garrafas PET ocupam o primeiro lugar, mas vêm acompanhadas de pneus, embalagens em geral, peças de veículos e muitos utensílios domésticos“Os sofás são os campeões de descarte nos córregosMas também é possível encontrar outros móveis velhos, tanquinhos de lavar roupa, fogões e outros objetos que simplesmente são jogados nos leitos”, ressalta Osvaldo, dizendo ainda que os cursos d’água viram também depósito de resíduos da construção civil“O construtor que não prevê nos custos o gasto para descarte dos restos da obra acaba jogando-os em qualquer lugar”, afirma
Somente na Pampulha são cerca de 100 bota-foras clandestinos, 12 deles de grande porte“Temos flagrantes de deposição irregular todo dia, especialmente nas margens dos córregos Ressaca e Sarandi”, afirma
Arrudas
Em nota, a Regional Leste informou que fez, entre os dias 27 de agosto e 22 de setembro, a limpeza do Ribeirão ArrudasO trabalho teve objetivo de controlar roedores e combater a dengue, além de evitar enchentes e alagamentosNa ação, foram recolhidas cerca de 17 toneladas de resíduos, entre eles galhos de árvores, roupas, garrafas plásticas, pedaços de móveis e carcaças de eletrodomésticosMas os detritos que não são recolhidos a tempo acabam indo poluir o Rio das Velhas, carregados pelo volume extra de água durante as chuvas.
MEMÓRIA: A origem do problema
Parte da sujeira que chegou ao leito do Ribeirão Arrudas e ao espelho d’água da Lagoa da Pampulha estava, até a semana passada, espalhada pelas ruas de Belo HorizonteComo mostrou o Estado de Minas em reportagem publicada em sua edição de sexta-feira, folhas e restos de vegetação, assim como lixo jogado fora do lugar, se acumulam, especialmente nesta época do ano, e trazem ameaça de inundação, devido ao entupimento de bueiros e galeriasSomente em 2012 foram retiradas de bocas de lobo de BH mais de 1,8 mil toneladas de lixo carregadas pela força da natureza e pela falta de educação, um quarto do total somente na Regional Centro-Sul, onde o problema é mais graveAs 40 mil limpezas diárias em pontos de captação de água em toda a cidade estão longe de representar solução para o problema, exposto mais uma vez com a última chuva.
SEM SUJEIRA
Para evitar inundações e contaminação em cursos d’água
* Não jogue lixo ou entulho em vias públicas, córregos, lotes vagos ou encostasO lixo carregado pela água entope bocas de lobo e pode provocar enchentesAlém de poluir a cidade, acaba fatalmente nos cursos d’água
* Para evitar transtornos causados por inundações, respeite os dias e horários da coleta; evite deixar o lixo na rua por mais tempo que o necessário
* Embale corretamente os detritos, em sacos resistentes, bem fechados e de tamanho adequado, para evitar que se abram e espalhem os resíduos
* Dê a cada tipo de rejeito o destino adequado: restos de poda e entulho não devem ser misturado ao lixo domésticoEles podem ser entregues a unidades de recebimento de pequenos volumes da prefeitura (até 2 metros cúbicos ou até 20 sacos de 100 litros)Confira a mais próxima de você pelo telefone 156