Por causa do barulho nas salas de aula, profissionais de educação acabam tendo a saúde comprometida
A auxiliar de coordenação Mariane dos Santos Pereira, de 48 anos, conhece bem essa realidadeProfessora há quase três décadas, acumula nove anos na rede municipal e três no Colégio MarconiDepois de todo esse tempo em sala de aula, foi afastada no dia 20 por problemas de perda auditiva“Tinha uma deficiência na audição desde criança, mas fiz uma cirurgia corretiva e fiquei ótimaMas, por causa do barulho, fui perdendo a audição novamentePercebi isso claramente nos últimos sete anos”, dizMariane, que atualmente não consegue conviver com o excesso de barulho, defende que níveis altos de ruído, além de trazer danos à saúde, comprometem o aprendizado“A escola não era barulhenta, mas foi tornando-se por causa do desenvolvimento da cidade
Além da perda auditiva, a professora e coordenadora do Colégio Marconi, Sueli Márcia Meireles Frank, afirma que teve alteração do timbre da voz depois que passou a trabalhar em sala de aula“Tive perda de 80% nos sons agudos e frequentemente tenho perda de vozEu já falava alto e hoje percebo que a altura da voz é ainda maior”, afirmaA educadora conta que na Escola Municipal Francisca de Paula, onde leciona pela manhã, há outros profissionais afastados por problemas semelhantes“Uma colega minha foi perdendo a voz até ser afastada.”
As doenças do aparelho fonador, segundo a professora chefe do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade Medicina da UFMG, Luciana Macedo de Resende, são resultado do esforço que o profissional precisa fazer para que a voz dele sobressaia em ambientes de muito ruído“Se o professor precisa usar um volume de voz mais alto, ele pode apresentar uma disfonia ou rouquidãoCaso o esforço seja contínuo, ele vai acabar desenvolvendo um quadro crônico, que requer terapia fonoaudióloga ou até afastamento da função”, explica.
O professor Jaime Alves de Faria, que leciona há 21 anos, já sente essas mudanças na voz e decidiu recorrer à tecnologia para evitar problemas futurosVai comprar um microfone portátil“Tenho rouquidão frequente, fruto de tantos anos de trabalho em escolas com muito barulho
Mas o barulho não ameaça apenas a fala e a audição de quem trabalha nessas condiçõesA especialista Luciana Macedo afirma que “o ruído exerce influência em todo o corpo humanoExpostos a níveis muito altos, professores e alunos tendem a ficar mais agitados, nervosos e a chegar em casa cansados de tanto barulho”, ressaltaA secretária do Colégio Marconi, Eda Cabral Martins da Costa, de 52, sabe bem dissoNos momento de lazer, não vai para ambientes fechados com grande número de pessoas, e em casa ouve a televisão em volume muito baixo“Passo tanto tempo exposta ao barulho na escola que quero mais é ficar no silêncio quando saio daqui”, relata.
Baixa concentração
Os níveis de aprendizado também são afetados, segundo a doutora Luciana MacedoDe acordo com a especialista, sem concentração e com dificuldade para ouvir o professor em sala de aula, os alunos tendem a ter índices mais baixos de aprovaçãoEssa avaliação é confirmada na Escola Municipal Paulo Mendes Campos, que recebeu isolamento acústico.
“Percebemos hoje que o rendimento dos alunos melhorou e que os professores trabalham com autoestima mais elevada”, afirma o diretor da escola, Antônio Augusto Horta LisaAs estudantes Paula Costa dos Santos, de 14, e Isabella Christine de Almeida, de 15, aprovam a mudança“O barulho nos ambientes externos da escola é muito grande por causa do trânsito da avenidaQuando a gente entra na sala de aula, no entanto, nem parece que estamos bem de frente para um ponto de ônibus”, afirma PaulaA colega destaca os benefícios da reforma“Com o condicionamento acústico a gente ganha em concentraçãoMeu pai estudou aqui antes da obra e conta que era um barulho infernal”, diz.
Segundo informou a Secretaria Municipal de Educação, apenas a Escola Paulo Mendes Campos tem condicionamento acústicoAs demais 185 unidades de ensino do município não contam com esse isolamento e não há previsão para a implantação do sistema.