Como no fim do espetáculo, quando a plateia agradece a peça de pé e com aplausos, o corpo de Cecília Bizzotto Pinto, de 32 anos, foi enterrado na tarde desta segunda-feira, no Cemitério do Bonfim. A atriz foi assassinada nesse domingo, durante um assalto em uma casa no Bairro Santa Lúcia, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, quando tentou chamar a polícia pelo telefone.
O clima no cemitério era de revolta e tristeza. Cerca de mil pessoas prestaram homenagem, entre familiares, jovens alunos de Cecília - que era professora de teatro no programa Valores de Minas-, amigos da Companhia Lúdica de Atores e do comitê do candidato a prefeito Patrus Ananias, que contava com o engajamento de Cecília. Todos preferiram ficar em silêncio.
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O pai de Cecília, Jefferson Pinto, a mãe, Cláudia Bizzotto, a irmã, Patrícia Bizzotto, e o filho da atriz, de 12 anos, chegaram direto do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins. Eles vieram de Paris (FR), onde estavam passeando. O filho e a irmã de Cecília moram na França. O garoto chegou com uma foto da mãe nas mãos e disse que não queria ver o corpo. Os familiares se encontraram com amigos e se abraçaram em clima de grande comoção.
O candidato derrotado à prefeitura de BH, Patrus Ananias (PT), compareceu ao cemitério para se despedir da atriz.
O assalto
O crime ocorreu na Rua Saturno, no bairro Santa Lúcia. Cecília, o irmão dela, Marcelo Bizzotto Pinto, e a namorada dele, Alexandra Silva Montes, chegavam em casa num EcoSport por volta de meia-noite, quando foram rendidos por dois homens armados. Um terceiro bandido apareceu depois. As vítimas ficaram em poder dos assaltantes por aproximadamente uma hora. Nesse período, os assaltantes reviraram a casa à procura de dinheiro, joias e de um cofre. Os objetos recolhidos estavam sendo guardados dentro do EcoSport e de uma Pajero que também estava na garagem.
Alexandra contou à polícia que, em determinado momento, um dos bandidos subiu com Cecília para um dos quartos do segundo andar. Ela relatou ainda que, de repente, ouviu o homem perguntar à cunhada se ela estava ligando para a polícia. Na sequência, ouviu o tiro. Os assaltantes mandaram Marcelo abrir o portão e fugiram levando apenas os três telefones celulares das vítimas. Ele e a namorada saíram de carro à procura de ajuda.
O sargento Gilmar Vieira Murilo, da 124ª Cia. do 22º Batalhão, que atendeu a ocorrência, contou que a polícia recebeu uma chamada de alguém pedindo socorro, mas a ligação caiu. Os militares acreditam que era Cecília tentando avisar a polícia, de acordo com gravação da central da PM. Ainda segundo Murilo, depois da chamada uma equipe foi ao local, chamou pelo interfone e, como ninguém atendeu, os militares olharam pelo muro, de onde viram luzes acesas e janelas abertas. Nesse momento, um taxista abordou os militares, dizendo que um casal num EcoSport o havia parado pedindo o celular dele emprestado para ligar para o 190.
A PM decidiu arrombar o portão e, nesse momento, Marcelo e Alexandra chegaram dizendo que havia uma mulher baleada dentro de casa. A porta do quarto também precisou ser arrombada. Cecília já estava morta no sofá. O sargento acredita que os autores do crime já acompanhavam há algum tempo a movimentação dos moradores da casa.
Medidas para conter a violência na Zona Sul
A sequência de roubos a residências, principalmente na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, levou o governo a tomar medidas emergenciais para conter esse tipo de crime. Dados da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) indicam que, somente entre janeiro e setembro deste ano, foram registrados 215 assaltos. No mesmo período do ano passado, foram 276 ocorrências, o que indica uma redução de 22%. Porém, a violência dos criminosos e a sensação de insegurança da comunidade ainda preocupam.
Nesta manhã, o secretário de Estado de Defesa Social, Rômulo Ferraz, se reuniu com o chefe do Estado Maior da Polícia Militar, coronel PM Divino Pereira de Brito, do chefe da Polícia Civil, Cylton Brandão e os comandantes e delegados chefes da 1ª, 2ª e 3ª Regiões Integradas de Segurança Pública (Risps). No encontro, foram definidas medidas, como orientação às Associações de Moradores para apontar os pontos vulneráveis na segurança de cada bairro, intensificação de operações nas áreas externas e nos acessos aos condomínios da Região Metropolitana de Belo Horizonte, ampliação do policiamento setorizado nos bairros e aproximação da polícia à comunidade.