Jornal Estado de Minas

Ladrões de casas seguem à solta em Belo Horizonte

Dos oito assaltos com reféns registrados em 30 dias na capital, em apenas um dos casos houve prisão em flagrante. Polícia diz que investigação é complexa e promete reforço

Paula Sarapu Jefferson da Fonseca Coutinho
Policial olha para casa de Cecília Bizzotto, morta na semana passada: moradores cobram mais eficiência - Foto: Paulo Filgueiras/em/d.a press - 8/10/12

Uma semana depois do assassinato da atriz Cecília Bizzotto, durante um assalto à casa dela, no Bairro Santa Lúcia, a Polícia Civil ainda não identificou nem prendeu os três bandidos que participaram da açãoA perícia não conseguiu detectar impressões digitais em superfícies lisas da casa da família Bizzotto, como maçanetas e espelhos, e câmeras de segurança de outras casas da rua não flagraram a movimentação dos suspeitosNos últimos 30 dias, a cidade foi alvo de pelo menos oito roubos a residências, seis deles só este mês, a maioria na Região Sul de Belo HorizonteA polícia diz que está trabalhando, mas em apenas uma das ocorrências um suspeito foi preso – em flagrante, pela Polícia Militar.

A lentidão preocupa moradoresO presidente da União das Associações de Bairros da Zona Sul de BH, Marcelo Marinho, cobra mais eficiência da Polícia Civil e considera que a corporação está mal equipada, com efetivo insuficiente para dar conta do trabalho“A gente recebe as estatísticas com indignação por causa da impunidade, que estimula o banditismoNão há uma investigação rápida nem prisão, o que deixa os moradores descrentes e os bandidos à vontade”, avalia.

A polícia se justificaO chefe do Departamento de Investigações da Polícia Civil em Minas Gerais, Wagner Pinto, diz que o latrocínio (roubo seguido de morte) é um crime mais complexo“É mais difícil de se investigar porque precisamos fazer uma série de levantamentos e cruzar informações”Responsável pelas investigações sobre a morte de Cecília, a delegada Elenice Batista, por sua vez, diz que, em um homicídio comum, muitas vezes a motivação indica o suspeito, o que não ocorre nas situações seguidas do roubo“Nesses casos, a motivação não está ligada à morte e a gente precisa partir dos próprios suspeitos”, afirma.

Depoimentos Segundo Elenice Batista, os depoimentos do irmão da vítima e da namorada dele foram importantes para a polícia entender a mecânica do crime e apresentar as características dos criminosos
Ambos conseguiram perceber semelhanças com suspeitos do álbum de investigados da delegaciaA polícia investiga se um carro deu cobertura à ação dos marginais e recebeu informações sobre a arma que eles usaram: uma pistola calibre 380A delegada afirma que ainda não é possível relacionar o assalto à casa de Cecília com as demais invasões que recentemente levaram pânico a moradores da Zona Sul, mas admite que investigadores tentam identificar se são integrantes de uma mesma quadrilha.

O chefe do 1º Departamento de Polícia da Capital, Leonardo Vieira, responsável pela Zona Sul, afirma que as investigações estão avançadasEle conta que, em dois casos, já se sabe que é a mesma quadrilhaOutro assalto, no Belvedere, passou a ser investigado pelo Departamento de Operações Especiais (Deoesp)“Os resultados, embora demorados, surgemNão são como a gente gostaria, mas estamos tendo cuidado na apuração desses crimes e vamos reforçar as investigações”, promete Vieira“Nós temos percebido um aumento no número de roubos a residências e, claro, isso causa um temor social muito grandeQuem comete crime vai tentar se valer do anonimato e, quando não há prevenção, a investigação fica um pouco dificultada”, admite.

Familiares e amigos lotaram a capela do Retiro das Pedras na celebração da missa de sétimo dia da atriz Cecília Bizzotto Pinto, de 32 anos - Foto: Marcos Veira/EM/D.A.PRess

Homenagens à atriz

Saudade, indignação e dor em capela miúda, a missa de sétimo dia em homenagem à atriz Cecília Bizzotto, a Ciça, assassinada há uma semana no Bairro Santa Lúcia, movimentou o Condomínio Retiro das Pedras, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo HorizonteApenas familiares e amigos mais próximos da artista tiveram autorização para participar da cerimônia religiosa
A família, em silêncio, busca forças para seguir, depois do trágico fim da menina, filha e mãe, de 32 anosCiça foi morta dentro de casa durante assalto no início da madrugada do dia 7.

Na internet, em blogs e redes sociais, as manifestações de indignação pela morte da atriz se multiplicam em onda pela pazFelipe Menhem, amigo de infância do irmão de Ciça, Marcelo Bizzotto, desabafou: “Com a Ciça, vai um pouco da gente tambémNo momento de tristeza e revolta, o que nos resta é dar apoio para quem fica, pro nosso amigo e pra famíliaÉ o que vamos fazer agoraAté pra mantermos a fé na vida”Marcelo e a namorada também foram feitos reféns pelos assassinos de Ciça.

Encontro Sentimentos de tristeza e indignação, na ponta dos dedos, como os de Iannini se repetem no FacebookCom 1.170 compartilhamentos, convite para ato público pela vida mobiliza artistas e cidadãos para encontro amanhã, às 19h, na Praça Floriano Peixoto, em Santa Efigênia“A gente precisa é de amor e de paz, pra poder continuar, acreditar que algo pode ser feito e transformar nossa perplexidade e indignação em grito de PAZ e esperança!”, convida a cantora Vanessa Ferreira, de Paris, sua rede de amigos.