“Se os evangélicos se casam mais, é porque essa é a orientação da Bíblia”, diz o pastor Sérgio Ricardo Carvalho de Oliveira, de 38 anos, casado há 13 anos com Aline Pereira de Oliveira, de 32. É dessa forma que o líder religioso justifica o fato de haver maior concentração de casados entre os evangélicos do que em qualquer outra religião, de acordo com dados do Censo 2010, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O grupo em Minas conta com 43% de casados e apenas 19,9% de uniões consensuais.
Com dois filhos, Sérgio Ricardo e a mulher se conheceram na igreja, no grupo de jovens do qual também participava o irmão dela. O namoro durou três anos e meio e, então, eles assinaram os papéis e ganharam a bênção de Deus. Sérgio diz que casar e constituir família são objetivos de vida dos evangélicos, que passam pela importância da castidade, símbolo pregado à juventude. “Normalmente, os evangélicos se casam com pessoas da mesma religião por questão de afinidade, por convivência mais próxima e por buscarem as mesmas diretrizes para cuidar da família”, explica o pastor.
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Minas é o terceiro estado com mais gays vivendo juntosNúmero de casais sem filhos aumentou em MinasTiradentes é a cidade mineira com maior percentual de casais gaysMinas é estado com maior percentual de emigração do país Minas tem menor percentual de uniões consensuais no país Carnaval e tradições culturais brasileiras vivem conflitos com evangélicosCasais gays derrotam preconceitos no interior de MinasDe acordo com a analista do IBGE, a demógrafa Luciene Longo, os dados do Censo 2010 reforçam que o casamento formal está vinculado também com o perfil socioeconômico. “Casar formalmente é caro e, por isso, muitos casais com renda mais baixa optam por morar juntos e dispensam formalidades. Enquanto entre mineiros de 30 a 34 anos, com renda superior a 20 salários mínimos, o casamento no civil e no religioso chega a 64% das uniões, entre pessoas da mesma faixa etária e renda que vai de dois a três salários mínimos, 44% das uniões são firmadas no cartório e abençoadas na igreja.
União formal
A demógrafa Ana Paula de Andrade Verona, do Departamento de Demografia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)/Cedeplar, reforça que a religião é apenas um dos aspectos que pode influenciar o casamento. No caso dos evangélicos, por exemplo, ela diz que algumas igrejas pentecostais assumem claramente a preferência pela união formal, mas lembra que a renda e a escolaridade contam também muito na decisão dos casais.
“Em geral, as igrejas pentecostais, que em grande parte são protestantes, falam sobre a preferência do casamento formal, como a melhor saída. Não se pode garantir só a influência da religião porque há outros aspectos que também se relacionam, como a renda e a escolaridade. Sabe-se que quem tem renda mais alta costuma formalizar mais a união também. Por isso, os espíritas poderiam estar mais expostos ao divórcio, uma vez que pertencem a uma das religiões com número de seguidores de renda mais alta e escolaridade maior", explica.
Segundo ela, os dados do IBGE são informações de momento porque, no caso da religião, permite-se mudança. “Intuitivamente, poderíamos dizer que o ateu não se casa formalmente porque não acredita em normas de comportamento, já que não tem uma crença religiosa nem frequenta a igreja. Mas não sabemos o passado dessa pessoa e por isso não dá para avaliar completamente essa relação", explica Ana Paula.
Raça predomina na escolha de parceiro
A pesquisa do IBGE comprova que a raça é fator predominante na escolha de parceiros conjugais. Dados do Censo 2010 mostram que 70% dos casamentos no país ocorrem entre pessoas de mesma cor e que as mulheres pretas (7% da população) são as que menos se casam. Entre os fatores que levados em conta na escolha de um parceiro estão a renda, a educação e a cor ou raça. São esses quesitos que influenciam a miscigenação e a mobilidade social, explica o pesquisador José Luis Petruccelli.
Nos últimos 10 anos, as uniões em função da cor ou raça praticamente não se alteraram. Em 2010, 69,3% das pessoas se uniram a outras de mesma cor ou raça, sendo que, em 2000, eram 70,9%. Se os casamentos não fossem influenciadas por questões raciais, o índice deveria ser em torno de 50%, embora já tenha sido de 80% em 1980.
“Isso desconstrói o mito da altíssima miscigenação e da harmonia racial. Há uma seletividade, há um viés pela escolha do parceiro por cor ou raça”, disse Petruccelli. Como os pretos e pardos (negros) estão entre os grupos com menor rendimento e nível de instrução, o pesquisador lembra que há uma “justaposição” de fatores que indicam uma “racialização” na escolha do parceiros.
O casamento entre pessoas de mesma cor ou raça é maior entre os brancos (74,5%), pardos (68,5%) e índios (65%), neste caso, relacionado à preservação dos povos. Entre homens e mulheres, chama a atenção a maior possibilidade de mulheres pretas ficarem solteiras. Entre as brasileiras com mais de 50 anos, elas são maioria na categoria “celibato definitivo”, que nunca viveram com cônjuge.
Atualmente, 68,2% da população se casaram com pessoas do mesmo nível de instrução. As mulheres são mais exigentes, nesse critério. Do total de profissionais com ensino superior completo, 51% delas escolheram homens desse grupo. Entre eles, 47% fizeram escolha semelhante.