O Censo 2010 mostrou também que a maioria quase absoluta dessa população vivia em união consensualMais da metade desses casais se encontrava na Região Sudeste e que um quarto dos casados com pessoas do mesmo sexo tem nível superior completoA maioria dos homossexuais entrevistados se declarou católica (47,4%), seguida por pessoas sem religião (20,4%)
Apesar da vida a dois assumida por homossexuais, Minas mantém comportamentos conservadores e, 10 anos depois do último Censo, continua com o menor percentual do país de casais vivendo em união consensual, 25,9%O número, entretanto, representa um salto significativo, se considerado que, em 2000, apenas 18,8% dos casados em Minas viviam em união consensual, mas está longe de alcançar os 36,4% no Brasil em 2010.
De acordo com a demógrafa do IBGE Luciene Longo, Minas é um estado onde a força da religião e dos costumes se mantém, mas, por ser o segundo estado mais populoso, acaba tendo peso maior na ruptura dessas tradições, caso das uniões homoafetivas“Como Minas tem uma população grande, com mais de 19 milhões de habitantes, é natural que tenha número maior de casais de homossexuais”, afirma Luciene.
Traços mais liberais estão presentes em municípios do interior, figuram no topo do ranking das cidades com maior concentração de casais homossexuais vivendo sob o mesmo teto, em relação ao total da populaçãoCom 6,9 mil habitantes, Tiradentes, a 190 quilômetros da capital, é a terceira na lista, atrás apenas de Águas de São Pedro e São João de Iracema, ambas em São PauloA cidade histórica é seguida por Pequeri, com 3,1 mil moradores, e Rodeiro, com 6,8 mil pessoas
Enquanto a média nacional é de 0,03% dos cônjuges morando com pessoas do mesmo sexo, Tiradentes, Pequeri e Rodeiro têm percentual de 0,14%, 0,13% e 0,12%, respectivamente“Primeiramente, há de se considerar que tratamos de números pequenosApesar disso, observamos que todas as cidades estão próximas do Rio de Janeiro, um estado mais liberal”, avalia Luciene.
O jovem tiradentino Rodrigo Giovani dos Santos, de 27 anos, ilustra bem essa estatísticaEle mantém união estável com o contador Igor Vanucci Gonçalvez Jacques, de 26, que há dois anos se mudou para a cidade histórica, onde os dois vivem juntosRodrigo trabalha numa pousada e acredita que a diversidade de frequentadores de Tiradentes estimula um perfil mais liberal“Apesar de ser uma cidade religiosa, não há preconceitoMinha família também tem princípios bem mineiros, do interior mesmo, mas recebeu o Igor muito bem”, conta Rodrigo, que é católico e quer passar a união estável para casamento, para adotar uma criança
Segundo o rapaz, Tiradentes recebe bem os casais homoafetivos“Nossa cidade é muito tranquila e o número de gays vem aumentando nos últimos anosCreio que eles se sentem bem por aqui”, diz
Escolha sem medo
Celeste lembra que os homossexuais da sua geração levavam mais tempo para assumir a escolhaNo caso dela, isso ocorreu aos 25 anos, depois até de se relacionar com homensEla diz que a sociedade passou a discutir mais o assunto, deixando de acreditar nos estereótipos“No passado, a gente se descobria ou se revelava bem mais tardeMas acho que essa tranquilidade crescente que a gente percebe nas ruas com os homoafetivos está ligada à forma como nos colocamos diante da sociedadeNa minha época, a sociedade era mais preconceituosa e a ideia que se fazia era de promiscuidadeNo país, 53,8% dos casais homossexuais que moram juntos são mulheres, segundo o Censo 2010.
Para o coordenador geral do Movimento Gay de São João del-Rei e Região das Vertentes, Carlos Bem, Tiradentes é uma cidade gay friendly“Os eventos que movimentam a cidade sempre recebem muita gente de fora, inclusive homossexuaisVem muita gente de outros estados e outros países até para abrir restaurantes e pousadasEssa pode ser uma das hipóteses para a cidade estar se destacando dessa forma.”